A Associação Espanhola dos Bancos anunciou ontem, após intensa pressão popular, que vai evitar despejos por inadimplência no pagamento de hipotecas pelos próximos dois anos, em casos com circunstâncias de “extrema necessidade”.
A pressão para uma mudança nas regras relativas aos despejos ganhou força de duas semanas para cá, quando duas pessoas se suicidaram por perderem suas casas após inadimplência no pagamento de hipotecas.
Em comunicado, a entidade citou “razões humanitárias e o marco de sua política de responsabilidade social” para tomar essa medida, sem caráter retroativo. Os bancos também argumentaram que “o conteúdo desse compromisso havia sido objeto de um debate intenso e profundo das instituições associadas a fim de contribuir para a situação de desamparo de muitas pessoas, devido à crise econômica”.
De acordo com o jornal El País, cerca de 172 mil processos relativos a hipotecas foram executados na Espanha desde 2008, e há outros 178 mil ainda em curso. O jornal afirma que, para casos pendentes, um acordo poderia interromper o processo.
Manifestações contra os despejos foram promovidas no país e o tema ganhou maior atenção da imprensa local. O mercado de crédito hipotecário na Espanha hoje é de cerca de 650 bilhões de euros e as regras atuais são bastante restritivas. Em caso da inadimplência, a devolução do imóvel financiado não elimina a dívida.
Em março deste ano, o governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy havia aprovado um código de boa conduta para instituições financeiras, uma tentativa de lidar com os quase 400 mil despejos desde o início da crise no país.
A Associação também se colocou à disposição para conceder informações ao governo e à oposição sobre a ordenação do mercado de financiamento imobiliário.
A mudança no comportamento dos bancos foi motivada por série de suicídios e tentativas de se matar de moradores de casas que receberam ordem de despejo por deixarem de pagar as hipotecas.
O mais recente caso foi o de uma mulher de 53 anos, moradora de Barakaldo, no País Basco, que se jogou do segundo andar de seu prédio, na sexta-feira passada.
Cerca de 400 mil espanhóis perderam suas casas desde o início da crise econômica, em 2008. Após a morte da mulher, que militava no Partido Socialista, a oposição começou a pressionar Rajoy, que convocou uma reunião ontem.
Dominto, a torcida do Rayo Vallecano, time da periferia de Madri, levou uma faixa com os dizeres: “Estes não são suicídios, são assassinatos. Os bancos e os políticos são cúmplices. Parem os despejos!” (das agências de notícias)
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