O catarinense e ex-diretor do Banco do Brasil, Ary Joel Abreu Lanzarin, assumiu a presidência do Banco do Nordeste. A sua nomeação evitará a influência política na gestão do banco?
SIM - O novo presidente Ary Lanzarin foi escolhido claramente por critério técnico, portanto sem a participação das indicações políticas. A escolha recaiu sobre um curriculum de dirigente profundo conhecedor da área da micro e pequena empresa exatamente o que havia sido definido como área de atuação do BNB pela presidente Dilma, em 2010. Não seguiu a determinação quem não quis, tomando rumo político distinto, quase sempre distanciado do critério técnico correto. Agora só falta o fortalecimento do BNB, agregado a uma nova independência financeira.
Quando observamos o sucesso do Banco do Brasil e da Caixa, com seus lucros bilionários, competindo no mercado dos demais bancos comerciais privados sem deixarem de cumprir seus papéis originais, sempre nos preocupamos com a situação do BNB, tradicionalmente limitado aos recursos finitos do FNE e FNDE.
A área comercial do BNB é pífia e sem força competitiva no âmbito das pessoas físicas e jurídicas, não detendo uma só Conta Única de Governo Estadual, folhas de pagamento de servidores estaduais no Nordeste ou da administração competitiva verticalizada dos recursos de empréstimos do FNE e FNDE.
Também não administra recursos do Judiciário, a exemplo dos bilionários e estáveis depósitos judiciais, fundos de modernização detentores das custas judiciais e taxas cartorárias e outras fontes de recursos estáveis disputadas arduamente pelos bancos comerciais públicos.
O lucro do banco então, nos últimos anos, tem sido uma temeridade sob o risco de que seja minimizado quando aplicadas formas mais conservadoras nos bilionários valores das provisões financeiras. A partir do aumento de capital de R$ 4 bilhões e retorno de 70% dos dividendos federais, será preciso mais criatividade, coragem e ideias fortes para enfrentar as adversidades. Lamentável que o lucro do BNB ainda não seja de bilhões, como os demais, mas já é alguma coisa de forma séria e permanente, pois vai depender do desempenho do próprio banco e de seus novos administradores.
"Só falta o fortalecimento do BNB, agregado à nova independência financeira"
Marcos Madeiro
Aposentado do BNB e mestre em administração financeira pela UFRJ
NÃO - É equivocada a ideia de que a simples nomeação de um técnico blinda o banco da influência política. Todo novo presidente surge de uma decisão política que no caso específico só mudou de fonte.
Se nas indicações anteriores, a decisão partia de deputados influentes e governadores, agora teria partido de ministros de Estado e da própria presidente Dilma Rousseff. Ou seja, o que na verdade mudou foi o nível de importância do político nomeador e não a natureza do processo.
A capacidade do banco de resistir a influências políticas não será definida pelo fato de o novo presidente ser técnico ou não, ser nordestino ou não, ser indicado por político A ou B. Essa capacidade vai ser definida é pela qualidade de seu corpo funcional, qualidade dos órgãos de controle e, principalmente, pela existência de uma clara estratégia de ação enquanto agente de desenvolvimento regional.
O Banco do Nordeste precisa sim de política. Não aquela do fisiologismo, do aparelhamento do Estado, do desvio dos recursos públicos e sim aquela que defina de forma inequívoca uma estratégia de desenvolvimento regional para o País.
A grande questão que o BNB deve responder e que está sendo negligenciada no debate atual é seu foco de atuação. Nossa leitura é que a instituição está sendo levada para um modelo de banco direcionado ao microcrédito e ao pequeno negócio em uma lógica de um banco comercial de combate à pobreza. Nada mais equivocado.
O papel principal do BNB como banco de desenvolvimento é o de fomentar a riqueza e não de combater a pobreza. Para tal precisa ter expertise e recursos para alavancar a infraestrutura física e humana da região.
O Nordeste não pode abrir mão de um BNB forte. Forte por dentro, nos seus processos, corpo funcional, recursos disponíveis, liderança de seu presidente. Forte por fora, na sua clara e tecnicamente robusta missão de ser um banco promotor da riqueza da região.
"Todo novo presidente surge de uma decisão política que no caso só mudou de fonte"
Marcos Holanda
Professor titular da Universidade Federal do Ceará
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