Os processos ligados a denúncias de operações irregulares investigadas pela auditoria interna do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) deverão ser concluídos em aproximadamente 60 dias. A informação foi dada ontem pelo presidente interino do BNB, Paulo Sérgio Rebouças Ferraro, que hoje completa 30 dias à frente da instituição financeira.
De acordo com ele, há "entre 20 e 30" empresas cujas operações com o BNB estão sendo investigadas pela auditoria. Ele ressalta que algumas delas pertencem a um mesmo proprietário. Desse modo, disse, o número de empresários que adquiriram empréstimos fraudulentos junto ao banco é menor do que o número de empresas. "Para cada processo tem um prazo e eles estão seguindo rigorosamente os prazos", disse, acrescentando que a instituição já tenta, judicialmente, recuperar os capitais referentes aos financiamentos.
Funcionários afastados
Segundo o presidente, após a conclusão dos processos, caso sejam confirmadas as irregularidades, a auditoria enviará o resultado aos comitês de avaliação de pessoal do banco, a quem cabe tomar as ações contra os culpados, e aos órgãos de controle externo, como a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU).
Ferraro disse não saber precisar, ontem, quantos funcionários já foram afastados de seus cargos desde que o banco começou a investigar as denúncias. Ele frisou, porém, que apenas um empregado foi demitido até o momento - um gerente de negócios da agência do BNB no Centro. Os nomes dos funcionários afastados, acrescentou, permanecem em sigilo, uma vez que as investigações ainda seguem em andamento.
"Dentro do conjunto (de empregados), não posso mensurar quantos, mas aqueles que foram necessários, orientados pela auditoria, para andamento das investigação. O único concreto que nós temos é a demissão de um funcionário", frisou.
Ferraro também afirmou que o valor correspondente aos empréstimos supostamente irregulares adquiridos junto ao banco ainda está sendo analisado. "O que a gente fez - e que não é prejuízo - foi provisionar aquele conjunto de operações que supostamente a gente possa colocar como prejuízo até a sua execução, mas isso está sendo feito gradativamente", disse.
O presidente ressaltou que o número de operações investigadas representa um dado bastante inferior ao total de operações realizadas anualmente. "Nós fazemos um milhão de operações por ano. Nós estamos falando aí em atingir em torno de 20 a 30 empresas", comparou.
Novo presidente
Paulo Ferraro também disse não saber com precisão até quando exatamente permanecerá como presidente interino. Eles destacou que a decisão será tomada pela presidente Dilma Rousseff, "no tempo adequado". A respeito da possibilidade de ser escolhido pela Presidência da República para ser confirmado como presidente do Banco, Ferraro, que atua no BNB há 35 anos, sinalizou que estaria disposto a assumir o posto. "É um orgulho e um prazer servir a empresa, seja como presidente, como diretor ou qualquer outra área em que eu trabalhei ou vá trabalhar".
"Continuidade"
Para Ferraro, o momento delicado que vive o banco não chegou a prejudicar o desempenho da instituição. "Não só nos 30 dias que estamos na presidência, mas nos tempos anteriores, o banco não perdeu sua continuidade. Nós fechamos o semestre em melhores condições em relação ao mesmo semestre do ano passado. As aplicações do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) se mantiveram no mesmo patamar de R$ 4 bilhões, mas com melhor pulverização de crédito".
Banco busca maior adimplência
Entre as ações que a atual administração do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), está a criação de uma superintendência de administração de crédito. A intenção, afirmou ontem o presidente interino da instituição, Paulo Sérgio Ferraro, é reduzir a possibilidade de inadimplência entre os clientes do banco, dando mais segurança ao pagamento das dívidas dentro dos prazos.
A taxa de adimplência do FNE é hoje de 96,4%. Segundo a presidência do banco, o dado tem aumentado nos últimos anos Foto: Fabiane de Paula
A atuação da unidade terá como meta reduzir os prejuízos que podem ser gerados "em decorrência das possibilidades normais de inadimplência devido à crise econômicas e adversidades que possam vir a ter". "Ela vai ter o cunho de administrar todo o ativo de normalidade até 90 dias de vencido. Ela vai acompanhar essa pontualidade para que a gente não tenha que ultrapassar em mais de 90 dias as operações vencidas", acrescentou.
Taxas
Paulo Ferraro informou que a adimplência do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) é de 96,4%. "No nosso recurso de curto prazo, que é o banco comercial, nossa adimplência é em torno de 98,2%", acrescentou. Ele destacou que a taxa de adimplência tem crescido nos últimos cinco anos, destacando que dois terços dos recursos hoje aplicados pelo banco, a cada ano, advém do reingresso da pontualidade dos investimentos feitos pela instituição. "A adimplência se mantém cada vez mais consistente, o que nos garante a liquidez do banco em relação a seu ativo", pontuou Ferraro.
Outra iniciativa apontada pelo presidente corresponde à junção dos segmentos de microfinanças com os programas Crediamigo e Agroamigo na mesma diretoria, como forma de gerar "mais sinergia nas suas ações".
O presidente ressaltou a intenção de que sejam atingidos, até fim do ano, um montante de R$ 12 bilhões do FNE. "Tudo aquilo que a gente está definindo pontualmente para ser alcançado até dezembro é factível de ser alcançado e, dentre eles, (está) a otimização da nossa visão de planejamento estratégico e orçamentário da instituição. (JM)
Empréstimos aprovados sob alçada da Superintendência
Quase todas as 30 empresas cujas operações com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) estão sendo investigadas obtiveram financiamentos aprovados com valores inferiores à alçada - limite para a decisão de aprovação - da Superintendência Estadual do BNB no Ceará, não passando, desse modo, pelo comitê formado pela diretoria da instituição.
Fac-símile da edição do dia 23/06/12, na qual o Diário do Nordeste mostrou a constatação de fraudes em empréstimos, segundo a CGU
Segundo o presidente interino do BNB, Paulo Sérgio Rebouças Ferraro, "quase 100%" das empresas com operações investigadas obtiveram financiamentos de montante inferior a R$ 3 milhões, valor da alçada da superintendência.
Valores
De acordo com relatório da Controladoria Geral da União (CGU) sobre operações irregulares de seis empresas de um mesmo grupo, apenas umas das seis empresas fez empréstimo irregular com valor superior a R$ 3 milhões - R$ 5 milhões, segundo mostrou, com exclusividade, o Diário do Nordeste. Segundo o documento, as outras cinco empresas fizeram empréstimos, respectivamente, de R$ 2.908.776, R$ 2.992.375, R$ 2.955.000, R$ 2.959.699 e R$ 2.568.814.
Entre as fraudes apontadas no relatório, estão a aprovação de propostas de financiamento feitas com documentos insuficientes e inconsistentes, a aceitação, nas operações analisadas, de notas fiscais inidôneas com relação à comprovação da aplicação dos recursos.
Manifestação
Na última quarta-feira, o Sindicato dos Bancários do Ceará realizou uma manifestação na qual pediu o afastamento da diretoria do BNB, afirmando que, uma vez que as decisões da instituição se dão de forma colegiada, todos os diretores estariam cientes das supostas irregularidades hoje investigadas. O presidente afirmou, contudo, que a atuação dos comitês responsáveis pela aprovação das operações - tanto em âmbito de superintendência quanto de diretoria - foi feita "dentro das normas de vigência das concessões de crédito".
Conforme explica, as supostas irregularidades foram detectadas na etapa de liberação dos créditos, que ocorre após a aprovação. É a etapa de aprovação, frisa, que passa pelos comitês de decisão colegiada. "A questão não está na concessão, está no desembolso, está no final do processo, que o desembolso, que foi nota fiscal fria, que foi a avaliação mal feita", afirmou Ferraro.
À época da concessão dos empréstimos, o titular da superintendência no Ceará era o ex-diretor de negócios Isidro de Moraes, que ficou no cargo entre 2007 e outubro de 2011.
Em junho último, no mesmo dia em que o ex-presidente do BNB, Jurandir Santiago, renunciou ao cargo, foi anunciada a exoneração de Isidro de Moraes, que já ocupava a diretoria da instituição e do também diretor Sydrião Alencar. (JM)
Alçada
3 milhões de reais era a alçada da Superintendência Estadual do Ceará. Quase todos os empréstimos investigados tiveram valor menor.
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