A roubalheira foi tão medonha que há um desprezo, desdém, pelo afanador de poucos milhões
A última pendenga de poder entre os ratos que protagonizam o episódio BNB é quem é mais hábil na arte da ratoaria e perfídia. Nos bastidores, a briga de um-entrega-o-outro continua. Pena que inominável por falta da prova concreta. Pena mesmo.
Mas vejam a que ponto se chegou a bufonaria entre novas e velhas ratazanas do banco. A roubalheira foi tão medonha que há um desprezo, desdém, pelo afanador de poucos milhões. Os que roubaram “ninharias” de até cinco milhões de reais, dez, vinte, são considerados roedores de subestirpe. Ladrõezinhos de galinhas que não merecem cartaz.
Ora, ora. A comparação é até um insulto à memória dos antigos e ingênuos larápios de frangos de quintais. O cabra que saltava a cerca ou muro baixo para surrupiar uma pé-duro, vezes o fazia por pura fome de matar a paúra.
Esperava a casa adormecer. E, no meio breu, quando as galinhas estavam com as pupilas dilatadas e acomodadas nos poleiros da goiabeira, as sufocavam pelo pescoço. Feito um cassaco, puro instinto de encher o bucho e dar de comer às crias.
Não me consta, e meu espírito fuinha de canelau nem me permite alcançar, que roubar qualquer milhão à luz do dia possua a motivação instintiva de saciar uma precisão de esfomeado. De aquietar o estômago para poder se pôr pelo menos em pé.
E há fulanos deslumbrados com as ratazanas que hierarquizaram a casta dos ratos do BNB. No topo, os quase intocáveis, foram carimbados de ladrões de diamantes. Os ranulfos, com cara de falsos abestados, que conseguiram roer de 100 milhões pra cima. Os emissários das grandes empresas, contratos luminosos...
Não há diferença entre um rato que se refestelou com um milhão e o que carregou 100 milhões e não tem medo de ratoeira. Sim, um pode até ser mais avaro do que o outro. Mas no frigir dos ovos dos esgalamidos, têm a mesma fissura pelo que não sei nominar.
Há também a linhagem dos ratões do parlamento. Não são funcionários do banco, mas rondam o Passaré e se acham dono das agências do semiárido, Minas e Espírito Santo. Narizes farejantes, narinas abrindo e fechando freneticamente. Porque indicaram filhotes de suas despensas, se sentem dono do queijo alheio. Engalfinham-se no cofre do banco.
Todos os ratos, dos coisinhas miúda aos papudos, possuem advogados e jornalistas mais majestades do que o rei. Boa parte deles, mui arrogantes. Um rábula desses, que entrevistei na última semana, sequer aceitou apertar minha mão após conversa supostamente respeitosa entre nós e o Senhor dele. Menos mal, não tive de gastar o álcool gel da Redação.
E outro xingou-me polidamente de “importante”. Ameaçando, indiretamente, que quem quer que fosse “responderia nos tribunais”, no fim da farsa, por calúnia e difamação ao Senhor dele. Importante? Tomei pra mim. Porque entre jornalistas também sobra empáfia. Mas não, na maior da apuração sobre os roubos contra o BNB tenho apenas perguntas sobre o que é público. Pistas e alguns documentos. Perguntar é meu ofício, perguntar é incluir.
E, talvez, o rábula acredite mesmo que sou tão importante quanto a importância que ele acha que possuí e eu deveria tomá-lo. Mas sou filho e ex-menino de escritório de advogado... Desejaria, de vera e rochedo, ser tão relevante quanto um grilo. Como me falta! Como me falta!
Dimitri Tulio
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