A investigação sobre o assassinato do vereador Marcos Rogério Machado de Lima (PRB), o Marcão, levou os delegados Edmar Granja e Vera Lúcia Passos, da delegacia Regional do Jaguaribe, a um caminho imponderável. Morto por pistoleiros já identificados, Marcos Rogério acabou deixando rastros de outro crime que se consolidava na surdina.
De acordo com Edmar Granja, Marcos Rogério estava arregimentando “laranjas” em Jaguaretama para fazer empréstimos fraudulentos no Banco do Nordeste (BNB). Em pelo menos um caso, o parlamentar teve êxito. Foi quando convidou o empresário Genivaldo Bezerra para ser sócio em um financiamento de R$ 1,943 milhão.
Marcos Rogério, segundo a delegada Vera Lúcia, após ter conseguido o primeiro crédito, planejava pedir mais dinheiro ao banco. Por último, usaria o nome de um casal de funcionários que trabalhava na Prefeitura de Jaguaretama. “Os dois laranjas prestaram depoimento e confessaram que aceitaram o convite. Receberiam um dinheirinho e ele ficava com o resto. Seriam R$ 5 milhões”, revela a delegada.
Apesar de apresentar projetos ao BNB, Marcos Rogério não tinha intenção de fazer funcionar empresa alguma. No inquérito que apura a morte por pistolagem, os delegados afirmam ter encontrado provas que mostrariam a má-fé do parlamentar. No primeiro financiamento, conta Vera Lúcia, ele não pagou nem a primeira prestação ao banco.
Para o BNB, explica a delegada, o vereador propôs a compra de seis veículos de grande porte e uma carroceria basculante. Máquinas que seriam alugadas pela empresa de fachada Ouro Metal Construções Ltda. Os equipamentos seriam alugados para construtoras ou prefeituras.
No entanto, observa a policial de Jaguaribe, Marcos Rogério só chegou a alugar dois veículos. Para a empresa RR Transportes e Construções, por intermédio do suplente de deputado Maílson Cruz, em Limoeiro do Norte.
Estranhamente, observa Vera Lúcia, a retroescavadeira e uma motoniveladora foram devolvidas pelo parlamentar à empresa Podium Comercial de Caminhões e Máquinas Pesadas Ltda. “Não podia. Há um documento, assinado por Marcos Rogério, atestando que o vereador recebeu da Podium as máquinas. Se recebeu, em tese, as máquinas foram pagas. Se alguém deveria ficar com os veículos deveria ser o BNB, que ficou no prejuízo, e não a Podium”, atesta a delegada. Marcos Rogério, segundo a delegada, vendeu ilegalmente outros dois carros em Morada Nova. “Os que restaram, não localizamos”, informa.
Apesar de o vereador estar envolvido no golpe milionário contra o BNB, os delegados acreditam que não há relação direta entre o assassinato de Marcos Rogério e o empréstimo. Segundo Vera Lúcia, o parlamentar tinha “outros problemas” que podem ter sido a causa do crime de pistolagem.
O POVO apurou que a morte de Marcos Rogério teria sido tramada na cadeia pública de Morada Nova. A Coordenadoria de Inteligência da Secretaria da Segurança do Ceará teria feito interceptações telefônicas que mapearam a conversa entre mandante e pistoleiros.
Segundo Vera Lúcia, a autoria do crime é atribuída aos pistoleiros foragidos Danilo de Oliveira Costa, o Bola, e Francinildo Edson da Silva, o Pinguim. Além de provas contra os dois, os policiais de Jaguaribe conseguiram prender Wiseley Paulo Nogueira Diógenes. Ele teria indicado, de acordo com a delegada, onde estava vereador no dia do crime. (Demitri Túlio)
Onde
ENTENDA A NOTÍCIA
O vereador Marcos Rogério Machado de Lima, do PRB, foi assassinado na Câmara Municipal de Jaguaretama em 19/9/2011. Jaguaretama está no vale Jaguaribe, considerada pela polícia uma zona de atuação de pistoleiros.
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