Para especialista, momento é de reforçar a função colaboradora do Banco do Nordeste para o desenvolvimento
A despeito das investigações acerca das denúncias de supostas irregularidades no Banco do Nordeste (BNB), o momento pelo qual passa a instituição deve ser utilizado para rediscuti-la e fortalecê-la, buscando reforçar ainda mais a função de contribuir com o desenvolvimento do Nordeste. Essa é a visão do economista cearense Célio Fernando Bezerra de Melo, o qual também já passou pelo quadro de funcionários do Banco.
Na opinião do especialista, o Banco do Nordeste precisa ampliar o horizonte de atuação e focar os esforços em toda a cadeia produtiva, não apenas nos micros e pequenos, como é feito atualmente através de políticas como o Crediamigo ou o Agroamigo. "Não vejo o banco só atendendo ao pequeno produtor ou à microempresa, mas toda a cadeia produtiva, que vai do pequeno ao grande, porque este vai gerar a necessidade de outros negócios, e os pequenos também poderão aproveitar as oportunidades", afirma.
Assim, com o reforço na política de industrialização, bandeira que o banco deveria levantar, no entendimento do especialista, a região poderia ampliar o emprego e a renda.
´Exemplo´
O economista sente falta no Banco do Nordeste, o que pode ser discutido e implementado nos próximos anos, de um instrumento como o utilizado pelo Banco Mundial, que é uma corporação formada por cinco instituições que desempenham papéis voltados ao crédito, redução da pobreza, participação acionária e estímulo ao investimento estrangeiro, dentre outras atribuições.
Capitalização
Para isso, a instituição, de acordo com o economista, precisaria se capitalizar, para dar conta das demandas inerentes à essa expansão, já que o banco financiaria valores maiores a empresas de grande porte.
"A capitalização está ocorrendo no Banco do Brasil e no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e não está ocorrendo no BNB em uma velocidade proporcional ao crescimento do Nordeste, cuja expansão tem taxas equivalentes à chinesa", defende. Somente dessa forma, completa, será possível sustentar a alta no emprego e na renda da região.
"Não podemos esquecer que tivemos o banco criado em cima de uma ideia de políticas que pudessem diminuir as diferenças; que a região tivesse um agente que pudesse suprir até às demais agências de outros estados. O Nordeste tem problemas de precariedade tecnológica, de capacitação das pessoas, além da própria seca. Temos que entender que não é à toa que a constituição procurou, através do FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste ) criar um instrumento de política pública que fosse operado por uma instituição comprometida com o desenvolvimento do Nordeste", afirma.
Participação em empresas
Para Célio Fernando, o BNB deve também ir além do financiamento às empresas, entrando inclusive com participação nelas.
Ele sugere, dessa forma, que a instituição atue como o BNDESPar, sociedade gestora criada para administrar as participações em empresas detidas pelo banco. Sobre o momento pelo qual passa o banco neste momento, o economista espera que o fato não traga prejuízos à imagem da instituição.
"O banco é bom, não é uma instituição promíscua. É uma casa que tem a compreensão dos problemas nordestinos. Temos que encontrar uma coisa que integre isso e fortaleça o estado nordestino", destaca.
Debate
Conforme Fernando, o País está passando por um momento de transformação e de fortalecimento das instituições e toda discussão, independentemente de ser denúncia ou não, que surja no sentido de criar um novo banco ou para criar um novo modelo que vise a resolução das desigualdades sociais e regionais são válidas e aprimoram o estado democrático de direito.
OPINIÃO
Olhar mais atento para o Nordeste
Nicole Barbosa
Presidente do CIC
A maior preocupação é com a instituição. O Banco do Nordeste trouxe desenvolvimento para a economia da região e precisa continuar sendo preservado. Nesse momento conturbado, de fragilidade do banco, com episódios polêmicos, precisamos de muito cuidado. Acredito que as mudanças que tiverem que ser feitas serão feitas.
O Ministério da Fazenda e o governo federal tomarão todas as medidas cabíveis para resolver o caso.
Apesar de tudo isso que está acontecendo, o BNB continua sendo uma instituição forte, séria e importante para o Brasil e para o nosso Estado.
Lamentamos muito a situação, mas entendo que tiramos uma lição positiva desses acontecimentos todos. Temos de ter administrações transparentes nos órgãos públicos. Outro ponto essencial é que o governo Dilma Rousseff olhe para o Banco do Nordeste de forma mais carinhosa. O Nordeste necessita de ações mais incisivas que não estão sendo tomadas ainda, infelizmente.
É preciso que haja um olhar mais responsável para o Banco do Nordeste. Se perdermos essa instituição, seria péssimo para o Ceará e também para todas as unidades da federação que compõem o Nordeste.
Já temos poucos incentivos no Ceará, e o banco é um grande patrimônio para o desenvolvimento, talvez o maior de todos.
DIEGO BORGES
ESPECIAL PARA NEGÓCIOS
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