Manifestações idiossincráticas não obstarão à grave ameaça que paira sobre o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) no tocante à equivocada retirada de dois terços dos recursos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), antes operacionalizados integralmente pelo banco. Para essa medida, o Governo Federal baseou-se em informações de burocratas divorciados das peculiaridades que caracterizam a Região Nordeste e o próprio banco.
Agora, tão estapafúrdia quanto (e difícil de engolir) é a desavença de políticos cearenses, assim como a manifestação extemporânea de quadros graduados da própria instituição (adeptos da reprovável bipolaridade de morder e assoprar), ao anunciaram que a “financeirização” do BNB (aumento do capital pelo governo) terá o condão de anular o impacto negativo da subtração de recursos tão expressivos.
Atentem que, com a perda da “exclusividade” do FDNE e a adoção da tal “financeirização”, o BNB irá arcar com 100% dos riscos das operações que contrata à égide do tal fundo (hoje, parte é do governo). Por que não aumentar o capital e manter o FDNE?
Às vésperas da idade sexagenária, já que criado em julho de 1952 por Getúlio Vargas, desde a sua origem, ao BNB foi delegada a nobre missão de catapultar a Região da escuridão do subdesenvolvimento, através da elaboração e posterior alocação dos recursos necessários a uma gama de projetos, estruturantes ou não. E, embora muito já tenha feito (o crescimento do Nordeste a taxas superiores às do País atesta), muito ainda há por edificar, principalmente agora que a nossa região foi literalmente “redescoberta”.
Tanto é que estudos do BNB apontam para a necessidade de pelo menos R$ 50 bilhões até 2015, pois estão à espera de recursos portos, ferrovias, shoppings, siderurgias, refinarias e outras obras de porte, que farão o Nordeste “decolar” rumo à autossustentabilidade.
Urge, pois, que prioritariamente na arena política arestas sejam depuradas e projetos de cunho individual-partidários sejam deixados de lado, partindo-se para a construção de algo maior, uma espécie de “blindagem inexpugnável” visando eliminar tentativas nefandas de esvaziamento do BNB, instituição já testada e aprovada com distinção na árdua missão que lhe foi outorgada, lá nos seus primórdios, 60 anos atrás: viabilizar a Região Nordeste.
Por fim, de estranhar o silêncio ensurdecedor da academia. Manifestem-se, nobres acadêmicos. Ou vão permitir que o BNB se torne um refém do silêncio?
José Nilton Mariano Saraiva
Economista e aposentado do Banco do Nordeste (BNB)
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