Para Sérgio Navajas, do BID, emprestar para os mais pobres pode ser ferramenta até perigosa. Ele foi um dos palestrantes de um seminário sobre microfinanças promovido pelo BNB em Salvador.
Os investimentos em microcrédito como política pública para a redução da miséria não são consenso entre especialistas da área. Especialista sênior para microfinanças do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Sérgio Navajas considera até perigoso usar empréstimos como forma de tirar uma família da linha abaixo da pobreza.
“Microcrédito tem de ser visto como ferramenta de porta de entrada para os serviços financeiros, não como saída da miséria. Isso, por sinal, é algo bem perigoso”, disse ao O POVO.
Ele foi um dos palestrantes de ontem do Seminário Internacional de Microfinanças, promovido pelo Banco do Nordeste (BNB) em Salvador. O evento termina hoje.
Para Navajas, o microcrédito é adequado para ajudar pessoas que já possuem alguma atividade produtiva a seguir em frente e melhorar resultados.
Segundo ele, para o combate à pobreza, o ideal é aplicar outros tipos de políticas publicas, entre elas a transferência de renda, como o Bolsa Família, no Brasil, e fortes investimentos em educação.
A partir dessa perspectiva, outro especialista do setor, Terence Gallagher, do IFC (International Finance Corporation), entidade ligada ao Banco Mundial, afirma que as microfinanças estão em crise em todo o mundo. Isso com o surgimento de inúmeras pesquisas que demonstram não haver qualquer efeito do microcrédito na redução da pobreza.
Ele afirma, contudo, que o banco ainda acredita no apoio às microfinanças como ferramenta para a redução da pobreza, mas que, para haver essa transformação, é preciso uma entrada maior do capital privado, com instituições competitivas que ofereçam esse tipo de crédito.
Maior capilaridade
Navajas mostrou que o Brasil, apesar dos comemorados números de programas como o Crediamigo e o Agroamigo, do BNB, que alcançam mais de 2 milhões de pessoas no Nordeste, ainda precisa aprimorar a oferta de crédito aos pequenos empreendedores, capilarizando ainda mais os serviços financeiros ofertados, especialmente por instituições privadas.
Esse é um dos aspectos mostrados por uma pesquisa patrocinada pelo BID, Microscópio Global sobre o Entorno de Negócios para as Finanças, lançada em 2011. O país está na 14ª posião, entre 55 países pesquisados no mundo, entre os que possuem as melhores condições de acesso e gestão das microfinanças. Na América Latina, o Brasil aparece em oitavo, atrás de países como Peru - que tem a experiência mais positiva em microfinanças no mundo, segundo o estudo -, Bolívia e Paraguai.
* A jornalista viajou a convite do BNB.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O Seminário Internacional de Microfinanças é promovido pelo Banco do Nordeste (BNB), que objetiva discutir a temática com especialistas e representantes de instituições nacionais e do Exterior que desenvolvem atividades relacionadas ao microcrédito produtivo.
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