Por Paulo Daniel*
Por que discutir e debater o desenvolvimento brasileiro? Primeiro, é importante destacar que não é somente papel dos economistas a discussão desse tema e muito menos algo exclusivo da academia.
Como nos lembra Celso Furtado, “nunca é demais repetir e insistir que o desenvolvimento se faz para o homem”, portanto, o ponto de partida para um projeto de desenvolvimento, como ele enfatizava, não deve ser a taxa de investimento ou a dimensão do mercado, “mas sim o horizonte de aspirações da coletividade”.
Neste sentido, desenvolvimento é mais do que um projeto econômico, é um projeto social que deve ser apropriado pela sociedade e transformar-se em um movimento político envolvendo os mais amplos, variados e representativos setores da sociedade.
Pensar, discutir e debater desenvolvimento não é detalhar um plano de governo, com demandas setoriais e imediatas, mas sim, construir estratégias, procedimentos e regras contínuas de ampliação, universalização e coordenação do conjunto das políticas públicas.
Debater o desenvolvimento quer dizer; possuir uma política de inserção internacional soberana, executar políticas macroeconômicas para o desenvolvimento, fortalecer o Estado e as instituições democráticas, desenvolver estruturas tecnoprodutivas integradas e regionalmente articuladas, ampliar e desenvolver a infraestutura econômica social e urbana, universalizar a proteção social, garantindo direitos e gerando oportunidades e, por fim, executar todo esse arcabouço, sempre com o norte da sustentabilidade ambiental.
O Brasil do século XXI tem pressa, não podemos mais viver com a herança do subdesenvolvimento, um exemplo disso, de cada grupo de dez brasileiros, um é analfabeto, contingente em sua maior parte constituído por pessoas de 50 anos ou mais de idade e de cor não-branca. Sem tocar ainda na complexidade do atual analfabetismo funcional, que faz ceifar o acesso às oportunidades de maior ascensão social possibilitado pelo crescimento da economia nacional.
É fato que os últimos oito anos de governo Lula no que diz respeito ao aspecto econômico ampliou os investimentos na produção e na geração de emprego; no social reduziu sensivelmente as taxas de pobreza e desigualdade de renda; no ambiental diminui as queimadas e reduziu a emissão de dióxido de carbono, sem contar com a inserção internacional soberana e altiva, entretanto, a resolução dos problemas do passado não se encerraram e, ainda, há novas questões do presente que estão interligadas ao futuro.
Com a vitória de Dilma Rousseff (PT), o Brasil consolida a formação de uma nova maioria política capaz de assegurar a continuidade do caminho do desenvolvimento brasileiro. Mas isso não significa, necessariamente, a sequência de mais do mesmo, mas a possibilidade da radicalização das alternativas de construção de uma sociedade superior. Ou seja, a transição mais intensa da condição do trabalho enquanto meio de financiamento da sobrevivência para o estabelecimento de um novo patamar do desenvolvimento humano integral.
Construir uma estratégia de desenvolvimento vai para além da democracia política, é mais do que urgente avançar na democracia racial, de gênero, de oportunidades e direitos universais, portanto, quer dizer, deixar definitivamente para trás, um Estado privatista e elitista e construir um Estado Republicano, que coloca a coisa pública no centro, que coloque o social como eixo estruturador.
(*)Paulo Daniel, economista, mestre em economia política pela PUC-SP, professor de economia e editor do Blog Além de economia.
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