O crescimento no Brasil e no Nordeste é "altamente sustentável", avalia Marcelo Neri, economista da FGV
O Nordeste pode contribuir ainda mais com o avanço da classe C, que cresceu 34,3% entre 2003 e 2009 no Brasil. "Uma diferença muito importante é que aqui no Nordeste tem muita classe D. Quer dizer, o crescimento da classe C é algo que está prestes a acontecer, ainda não aconteceu em tanta intensidade", explica Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV).
Autor do estudo "A nova classe média: o lado brilhante dos pobres", o economista esteve em Fortaleza ontem para participar do encontro da Rede de Pesquisa em Desigualdade e Pobreza realizado no Banco do Nordeste. A programação do evento termina hoje.
Para Neri, o crescimento no Brasil e no Nordeste é "altamente sustentável". Os avanços na educação, segundo o economista, são a principal justificativa para os resultados do crescimento da renda do Nordeste acima da média nacional.
"O grande causador é o aumento da educação da população. A educação ainda é muito baixa aqui no Nordeste, mas para olhar a emergência da nova classe média, a informação que importa é a taxa de variação e não o nível dessas variáveis", explica Marcelo Neri.
Na classificação adotada no estudo da FGV, famílias com renda total acima de R$ 1.126 e abaixo de R$4.854 são consideradas da classe C. Entre R$ 706 e R$ 1.126,00 de renda familiar total estão os da classe D. Nos extremos ficam quem tem renda familiar acima de R$ 6.329,00 (classe A) e abaixo de R$ 705,00 (classe E).
Parâmetros
De acordo com o trabalho apresentado sobre o tema, entre 2003 e 2009, houve aumento de 3,86% ao ano na renda individual do brasileiro.
Isso corresponde a um ganho acumulado de 25,5% no período. No estudo, a escolaridade é apontada como um dos fatores que explicam a variação de renda. "Em primeiro lugar e mais importante, destacamos os fatores expansionistas ligados ao nível de escolaridade do indivíduo, que cresceu 2.12% ao ano na população total (0.89% ao ano entre os mais ricos e 5.19% entre os mais pobres). A educação média cresce cerca de um ano completo de estudo no período (2003 a 2009)", diz um trecho do estudo sobre a nova classe média.
Em 1992, a média do nível de educação do brasileiro acima de 25 anos era de 4,98 anos de estudo. Em 2009, essa média havia subido para 7,27 anos de estudo. Os efeitos da educação entre os mais pobres são maiores do que na média da população brasileira, segundo Neri.
Entre os 20% mais pobres, a renda média entre 2003 e 2008 cresceu 9,36% e o fator educação teve impacto de 5,51% nesse crescimento. Na população total, a renda média no mesmo período subiu 5,22%, dos quais 2,33% devem-se à educação.
Classe A
Entre 2003 e 2009, a classe A foi a que mais cresceu proporcionalmente (40,9%). As classes B e C foram ampliadas em 38,5% e 34,3%, respectivamente. Houve redução nas classes mais baixas. Na D, a queda foi de 11,6% e, na E, 45,5%.
"As pessoas estão migrando da classe E pra D, da D pra C e as classes A e B estão se ampliando mais. Não são as que cresceram mais durante a crise, mas foram as que cresceram mais nos últimos seis anos. E vão continuar crescendo mais nos próximos cinco anos", comenta Neri.
Custo de vida
O aumento na renda do trabalhador impulsionou a ampliação da classe média e influenciou a redução da pobreza, avalia o economista.
Ao ser questionado se a classificação leva em conta peculiaridades regionais, o economista explica que os parâmetros são idênticos em todos os estados do Brasil. Há, entretanto, uma diferença evidente no custo de vida. Segundo Neri, essa variação pode ser no máximo de 17% entre São Paulo e a zona rural do Nordeste, por exemplo.
"Se a gente olhar, entre 2003 e 2008, a renda do trabalho cresceu a mesma coisa da renda total. No Nordeste, ambas eram dois pontos percentuais acima das nacionais", compara.
Escolaridade
9,36 por cento foi quanto cresceu a renda média entre os mais pobres, no período que vai de 2003 a 2008. O fator educação teve impacto de 5,51% nesse crescimento, segundo a FGV.
CRISTIANE BONFIM
REPÓRTER |