Dados da Rais mostram que o patamar salarial dos nove estados da região vem sendo nivelado por baixo
A ampliação no número de empregos no Brasil e, em especial, no Nordeste - área mais necessitada -, é sem dúvida um dado a se comemorar. Parte importante destas ocupações veio puxada pela indústria, que vive uma fase de renovação na região. Contudo, o patamar salarial nos nove estados nordestinos, por outro lado, vem sendo nivelado por baixo neste setor, ao longo dos últimos anos de crescimento. É o que provam os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho (MTE). Entre 2003 e 2008, o porcentual de empregados na indústria de transformação nordestina com salários de até dois salários mínimos subiu de 58,7% para 76%. Ou seja, a cada quatro vagas criadas, três estão nessa faixa.
Dos 905.885 postos do estoque de emprego formal na indústria de transformação do Nordeste, 668.169 estão na menor faixa salarial. Em 2003, eram 380.598 de 648.708 vagas. Se, por um lado, os dados mostram uma ampliação do número de vagas na indústria como um todo, por outro, revela que as vagas com maior média salarial tiveram queda, em todos os níveis. Hoje, há menos postos com salários mais elevados do que há cinco anos. De 2003 para 2008, houve uma redução de 50.394 postos com salários acima de dois mínimos no Nordeste, passando de 268.110 para 217.776 empregos, um decréscimo de 18,7%.
A faixa salarial acima de três até seis salários mínimos foi a que apresentou maior queda nas vagas, em número absolutos: 17.223 a menos. Já porcentualmente, a maior redução se deu entre aqueles que recebem acima de 25 salários mínimos: os postos reduziram a mais da metade, saindo de 9.348 para 4.126. "Os novos empregos que estão sendo criados são todos com salários mais baixos. Não existe uma discussão forte sobre a política industrial. O Brasil precisa refazer sua estrutura no setor", critica a diretora de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Liana Carleial.
Os dados da Rais mostram que, na verdade, todo o País observou um aumento do porcentual de empregados em menores níveis salariais na indústria. Se em 2003 representavam 27%, em 2008 passaram a 47%. O Sudeste, região onde a atividade é mais desenvolvida, foi o que mais acrescentou em número, com 878.959 postos até dois salários mínimos. Contudo, no geral, esta faixa representa bem menos que no Nordeste: 37,8% do total. A economista e ex-diretora da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Tânia Bacelar, todavia, faz leitura diferente destes dados. "Tem muita gente que, de um, passou pra dois (salários mínimos). E faz diferença você ganhar quinhentos reais e mil. Pra quem ganha 10 mil reais, isso não é nada. Agora, pra quem ganhava quinhentos e agora ganha mil, dobrou a renda dele", pondera.
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