Márcia Lígia e Gilberto Martins têm sete filhos. Alguns só dele, outros só dela. Mas, casados, o orçamento tem que ser suficiente para todos. Para seus cinco filhos, Márcia recebe o auxílio do programa Bolsa-Família. No total são R$ 134 que garantem a merenda de um, o caderno de outro. ``Antes, eu chorava dia e noite porque não tinha dinheiro para comprar lanche``, observa a doméstica.
Agora, as coisas melhoraram. Seu salário é complementado pelo auxílio do Governo Federal e pelo seguro-desemprego que o marido vem recebendo. Ele apertou as contas, pois das duas filhas & que moram com a mãe & somente uma está matriculada, o que significa que a transferência de uma das meninas foi cortada.
O casal mora no Lagamar, no conjunto habitacional construído às margens da BR 116. Dois anos atrás, moravam na favela. Agora, melhoraram a morada e também as finanças. Nessa melhoria, Márcia e Gilberto acabam ajudando o orçamento de outras pessoas. Isso porque as compras do casal são feitas nos mercadinhos instalados no bairro e, desempregado, Gilberto faz uns ``bicos``, dando manutenção nos eletrodomésticos dos vizinhos.
Nessa pequena cadeia que se movimenta no condomínio Nossa Senhora de Fátima & onde vivem 342 famílias & o Bolsa Família ajuda mais que o beneficiário direto. Ele faz com que o dinheiro circule entre aquelas famílias, passando, a seguir, para uma economia maior. A dinâmica dessa cadeia está detalhada em estudo realizado pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), ligado ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
Mercado interno
Para o gerente da célula de estudos e pesquisas macroeconômicas, industriais e de serviços do Etene, Airton Saboya, com a transferência de renda, o beneficiário melhora sua situação financeira e passa a demandar a compra de alimentos, vestuário, produtos de limpeza, em resumo, bens de primeira necessidade. "Isso tem impacto muito grande na economia regional e do País. Um programa de transferência de renda acaba estimulando todo o mercado interno``, observa.
Como explica Saboya, o estudo elaborado pelo Etene buscou mensurar o que os beneficiários demandam de alimentação, além de tentar identificar qual o impacto dessa transferência feita pelo Governo na geração de empregos, salários e tributos. O autor do estudo, Biagio de Oliveira, explica que entre 2004 e 2009 o Governo transferiu R$ 31,5 bilhões, levando em consideração a área de atuação do BNB, com o Bolsa Família. Por sua vez, os beneficiários geraram R$ 18,4 bilhões em tributos, nesse período.
CONSUMO DOS BENEFICIÁRIOS
Orçamento gasto pelos beneficiários (em %)
> Gêneros alimentícios 40,0
> Aluguel 15,2
> Energia elétrica 2,2
> Gás doméstico 3,6
> Água e esgoto 1,2
> Manutenção do lar 4,7
> Artigos de limpeza 1,6
> Mobiliários e artigos do lar 3,2
> Eletrodomésticos 2,6
> Vestuário 5,8
> Transporte 8,9
> Higiene e cuidados pessoais 2,8
> Assistência à saúde 3,5
> Educação 0,9
> Recreação e cultura 0,8
> Fumo 1,0
> Serviços pessoais 0,7
> Despesas diversas 1,4
> Total 100
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