O Conselho de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros (Selic) para 9,5% ao ano. A alta de 0,75 ponto percentual já era esperada por parte do mercado financeiro, mas a maioria dos economistas apostava em alta de 0,50 ponto percentual.
É a primeira alta de juros desde setembro de 2008, dias antes da quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em 15 de setembro daquele ano, estopim da crise financeira internacional. Através de nota, o BC informou que "dando segmento ao processo de ajuste das condições monetárias ao cenário prospectivo da economia, para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 9,5% ao ano sem viés``.
Para o presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Roberto Macedo, o aumento vai afetar diretamente todos os setores e diminuir significativamente o crescimento da economia brasileira. ``Essa alta representa um retrocesso. Quem faz investimento vai ter que deixar de investir``, explica.
O Copom se reúne a cada 45 dias. A próxima reunião do conselho será nos dias 8 e 9 de junho. Nas últimas cinco reuniões, o Copom havia mantido a Selic inalterada em 8,75% ao ano. Porém na última reunião em março, o conselho já havia se dividido: cinco votaram pela manutenção da taxa e três queriam aumento de 0,50 ponto percentual.
Na terça-feira, o presidente do BC, Henrique Meirelles, declarou que as decisões do Copom são baseadas apenas em critérios técnicos e tomadas individualmente pelos diretores que compõem o colegiado. Segundo ele, a definição da taxa de juros não tem relação com motivações políticas. ``Buscam-se motivações: uma foi política, outra foi para recuperar credibilidade, quando na realidade a credibilidade do BC hoje é reconhecida mundialmente. O BC não precisa provar nada pra ninguém``, afirmou.
Inflação
O aumento de juros é o remédio adotado pelo Banco Central para controlar a inflação, pressionada pela melhora da economia e o aumento do consumo. No último relatório de inflação, o Banco Central projetou em 5,2% o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no fim deste ano - a meta oficial do governo é de 4,5%. A previsão do mercado é que o índice encerre o ano em 5,1%, também acima da meta do governo. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto deste ano foi elevada para 6,0%.
Para Raimundo Porto Filho, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Nordeste (Apimec Nordeste), a alta da taxa é benéfica à economia brasileira. ``O aquecimento da economia é o desejado, mas é preciso ter um controle senão a inflação volta. O que deveria ser feito na verdade é um controle de gastos dos governos para se ter a redução nos juros. Como não temos isso ainda, resta tomar esta medida``, diz. |