Lançada em São Paulo, campanha que distribuirá dez mil cartões que sujam as mãos e lembra que a escravidão ainda não acabou, pelo menos para 25 mil brasileiros
Sujar as mãos, mas por uma boa causa. Com esse mote, será lançada nesta sexta-feira (08) a campanha "Escravidão Não", que distribuirá em São Paulo dez mil cartões a fim de alertar para a continuidade do trabalho escravo no país, 121 anos depois da abolição da escravatura, lembrada no dia 13 de maio.
Os cards serão distribuídos a partir deste final de semana em 50 estabelecimentos da capital paulista como a Pinacoteca do Estado, o Museu de Imagem e do Som (MIS) e o Teatro Ruth Escobar, além de bares e universidades.
Ao pegar o card, a pessoa sujará as mãos com carvão e irá se deparar com o questionamento: "Olhe para suas mãos. Iguais a elas, sujas, as de milhares de escravos em carvoarias pelo mundo também ficam. Você também vai lavar as mãos para o problema?".
Um dos principais objetivos da campanha, tocada pela Agência Sagarana, é ajudar na coleta de mais de um milhão de assinaturas para pressionar a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 438/2001, parada na Câmara dos Deputados desde 2004. Além de aumentar o rigor da punição aos empregadores escravagistas, a PEC determina que sejam destinadas para fins de reforma agrária as terras onde for encontrado esse tipo de trabalho.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que apoia para a campanha, 25 mil brasileiros em situação de escravidão.
Para Guilherme Stella, sócio-diretor da Agência Sagarana, é preciso um esforço conjunto para informar a população sobre a existência de trabalhadores nestas condições, não apenas em carvoarias, mas também em outros contextos, como plantio de cana-de-açúcar e prostituição. "A sociedade não está atenta ao que está acontecendo, ainda há muitas pessoas ignorantes em relação a esse assunto", argumenta.
O esforço de combater o trabalho escravo, no entanto, não deve parar na distribuição de cards nem mesmo na coleta de assinaturas. Segundo Stella, a intenção é tornar a campanha permanente, o que certamente motivará outras ações. "A gente tem o intuito de que a população não apenas assine essa petição, mas que volte a discutir esse assunto", explica.
A petição pela aprovação da PEC 438/2001, assim como outros materiais informativos da campanha, podem ser acessados na página www.escravidaonao.com.br
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