Saiu na Imprensa

?Trabalhadores são tratados como máquinas que quando dão defeitos são simplesmente substituídos?

Maria Eneide , diretora de Saúde do SEEB/VCR
A LER/DORT retira diariamente dezenas de trabalhadores do mercado de trabalho. Esta é a doença  mais comum enfrentada pelos bancários. As cobranças excessivas,  as metas abusivas e o desrespeito pelos limites físicos e mentais de cada ser humano contribuem para o índice alarmante na categoria.
Por LER/DORT entende-se um conjunto de síndromes (quadros clínicos, patologias, doenças) que atacam os nervos, músculos e tendões, juntos ou separadamente. Em entrevista, a diretora de Saúde do Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista e Região,  Maria Eneide de Oliveira Lima, traz mais informações sobre o assunto.

O Piquete Bancário -  LER/DORT é a doença que mais atinge a categoria bancária. O porquê dessa situação?
Maria Eneide – Hoje, a organização do trabalho bancário hoje é extremamente cruel e desumana. O lucro e a produtividade é o que realmente importa para os banqueiros. Trabalhadores são tratados como máquinas que quando dão defeitos são simplesmente substituídos. A LER/DORT é uma epidemia na categoria e é de difícil tratamento. A única solução é a prevenção no local de trabalho; uma forma simples se não fosse a ganância dos banqueiros.

- Apesar da LER retirar dezenas de trabalhadores do  mercado, não se vê nenhuma medida efetiva por parte dos patrões na tentativa de minimizar esse quadro. Como analisa isso? 
- A qualificação profissional feita pelos banqueiros se torna ineficiente para atender o sistema de trabalho realizado no dia-a-dia do bancário. Como as empresas não adotam de forma qualificada  as medidas preventivas, essa doença é a que mais atinge os bancários. As principais causas da LER/DORT são: jornadas excessivas de trabalho; ritmo do uso manual no serviço, que leva a uma excessiva repetição de movimentos,  enquanto se trabalha em computadores com más posturas e muitas horas de digitações diárias; e a pressão psicológica feita por seus superiores no âmbito do cumprimento de metas.

 - De que forma essa doença repercute na vida do acometido?
- Além de muita dor física, a doença rouba desses trabalhadores seus projetos de vida, esperanças e desejos. Sobra a sensação de desqualificação, o sentimento de auto-desvalorização, esvaziamento e tristeza.

- O assédio moral pode ser um fato provocador da LER?
- Sem dúvida. A cobrança pelo cumprimento de metas abusivas e de produção é uma realidade hoje nos bancos e isso é um agravante e um causador das doenças ocupacionais.
 
-  Como prevenir a LER/DORT?
- As LER/DORTs são doenças de difícil tratamento. Seu remédio mais eficaz continua sendo a prevenção. Numa tentativa de deter os números de casos já alarmante na época, em 1990, o Ministério do Trabalho e da Previdência Social publicou a Portaria 3.425  adequando e modernizando a NR 17 ( Norma Regulamentadora ) que se refere às condições de trabalho, que não é cumprida pelos banqueiros até hoje. Alerto aos bancários para que conheça a NR 17 e qualquer dúvida procure o Sindicato.

- O que o Sindicato dos Bancários tem feito para combater A LER/DORT?
- O Sindicato dos Bancários de Conquista tem trabalhado há muito tempo na fiscalização e denúncias. Presta todo tipo de apoio aos trabalhadores lesionados. Temos uma cartilha publicada sobre prevenção da doença e dos direitos do trabalhador. Em cada campanha salarial, lutamos em defesa da saúde e melhores condições de vida do trabalhador. É bom sempre lembrar aos bancários que sindicato não é apenas uma diretoria eleita que representa, ele é a categoria e nós devemos sempre lutar por nossos direitos, por respeito e valorização de nossa mão-de-obra, pois a riqueza dos bancos não é feita pelos seus donos e diretores, e sim pelo bancário que está lá todos os dias, trabalhando e gerando lucros e mais lucros.

- Da base do SEEB/VCR, dos afastados por LER/DORT 86,2% são do Bradesco. Essa é uma realidade preocupante?
- Sim, muito preocupante. Constantemente alertamos o banco para esse problema, porém o desrespeito pelo trabalhador continua. Esse alto índice de acometidos no Bradesco é fruto de uma política irresponsável com o trato da saúde do trabalhador. Esse banco, apesar de atualmente, em suas propagandas, falar muito em inovação, continua retrógrado no trato de seus funcionários.