A economia brasileira vem resistindo bravamente à crise econômica irradiada dos EUA, considerada uma das mais sérias da história do capitalismo, somente comparável à Grande Depressão que se seguiu ao crash da bolsa de Nova York em 1929. O desemprego nas principais regiões metropolitanas diminuiu em outubro, segundo estimativas do Dieese, e ainda não há sinais de queda do consumo.
Todavia, além da instabilidade nos mercados de capitais e de moeda (câmbio), o mês de novembro está chegando ao fim exibindo notícias preocupantes para o setor produtivo - ou aquilo que se convencionou chamar de economia real. De acordo com a FGV (Fundação Getúlio Vargas) o Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 19,4% em novembro ante outubro, depois de registrar uma queda de 9,2% no mês passado.
Pessimismo
Dieese, O indicador sinaliza um crescente pessimismo sobre o futuro da economia nacional no meio empresarial, que naturalmente vai afetar negativamente as decisões de investimentos na indústria. "A piora do ambiente de negócios, verificada em todos os quesitos que compõem o ICI, sinaliza desaceleração de atividade econômica em novembro e maior disseminação de expectativas pessimistas em relação aos próximos meses, no meio industrial.", comentou a FGV em comunicado distribuído aos meios de comunicação.
O ICI é um indicador da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, que utiliza para cálculo uma escala que vai de zero a 200 pontos, sendo que o resultado do índice é de queda ou de elevação se a pontuação total das respostas fica abaixo ou acima de 100 pontos, respectivamente. De outubro para novembro, o indicador caiu de 104,4 pontos para 84,1 pontos, nos dados com ajuste sazonal. Esse foi o nível mais baixo do índice desde julho de 2003.
Expectativa em baixa
A FGV atualizou os dados de queda referentes ao mês passado, quando havia divulgado uma queda de 11,7% para o ICI, na série com ajuste sazonal. Na comparação com novembro do ano passado, o ICI registrou queda de 30,2% nos dados sem ajuste sazonal - recuo bem mais intenso do que o registrado em outubro, no mesmo tipo de comparação (-12,7%).
A expectativa caiu tanto em relação ao presente quanto aos próximos meses. Entre os componentes do indicador, o Índice da Situação Atual (ISA), que caiu 22,2% em novembro após registrar queda de 7,7% em outubro na série com ajuste sazonal. O segundo componente do ICI é o Índice de Expectativas, que apresentou queda de 16,5% em novembro em comparação com o recuo de 10,9% em outubro, também na série com ajuste sazonal.
Uso da capacidade
O Nível de Utilização de Capacidade Instalada (Nuci) da indústria, sem ajuste sazonal, alcançou patamar de 85,2% em novembro, após atingir nível de 86,3% em outubro, segundo a FGV. A instituição informou que o Nuci, sem ajuste sazonal, atingiu em novembro deste ano o menor nível desde abril de 2008 (85,1%). Todavia, é bom esclarecer que tal patamar ainda é elevado e não indica capacidade ociosa.
Ainda de acordo com a fundação, na série de dados com ajuste sazonal, o nível de uso de capacidade em novembro ficou em 84%, abaixo do Nuci de outubro nessa série (85,3%). Esse patamar de 84%, apurado para essa série em novembro, é o menor desde março de 2007, quando o Nuci atingiu 83,8%.
Férias coletivas
A indústria automobilística, uma das mais afetadas pela crise, concedeu férias coletivas de até três meses para 60 mil operários (as). Além disto, há sinais de que demissões em massa já foram iniciadas em algumas empresas, como é o caso da Fiat de Betim. Outro ramo de atividade fortemente afetado foi a indústria da construção civil, que mais sofreu a desvalorização das ações negociadas no Bovespa. Também aí notam-se os sinais do facão capitalista decepando postos de trabalho.
O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgou nesta sexta-feira (28) suas estimativas para o crescimento da produção industrial brasileira. Em outubro de 2008, o Ipea projeta que o crescimento anual foi de 3,3%, na comparação com o mesmo mês de 2007. Entretanto, a comparação mensal, que considera os meses de setembro e outubro de 2008, mostra que o índice ficou estável.
Segundo a pesquisa, as montadoras, por exemplo, vêm sentido a acomodação das vendas de automóveis no país e vêem seus estoques crescerem. "Parte desta queda já é reflexo dos primeiros efeitos da crise internacional, porque a escassez de crédito tem afetado as vendas do setor, que registraram queda de 11% em relação a setembro", diz Leonardo Mello de Carvalho, coordenador do indicador, em nota.
Entretanto, o instituto diz que, apesar da crise, a indústria em geral mantém bom desempenho. Na comparação com os primeiros nove meses de 2007, a expansão da produção foi de 6,4%. "Durante o mês de outubro, alguns setores ligados à exportação sofreram com a diminuição das linhas de financiamento externo. Somado a isso, a queda na demanda mundial e nos preços das commodities começam a afetar negativamente as quantidades exportadas", diz Carvalho.
Emprego em queda
O nível de emprego na industrial paulista caiu 0,41% em outubro ante setembro, sem ajuste sazonal, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (13) pela Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). Essa é a primeira queda para o mês de outubro desde 2003, quando o indicador apresentou declínio de 0,63%.
No mês passado, o resultado significou a diminuição de 10 mil postos de trabalho. A queda se manteve também no resultado com ajuste sazonal, em 0,13%, na mesma base de comparação.
Ainda assim, no acumulado de janeiro a outubro deste ano, o emprego da indústria paulista acumula alta de 7,28%, com saldo de 59 mil vagas criadas. O nível de emprego também cresceu em relação a outubro do ano passado, com alta de 3,60%.
Este é o primeiro mês também em que a maior parte dos 21 segmentos da indústria registrou diminuição nos postos de trabalho. Dez setores demitiram, cinco contrataram e seis mantiveram o emprego estável. Desde janeiro deste ano, a maior parte do segmento vinha registrando mensalmente contratações de empregados.
Os indicadores sinalizam uma forte desaceleração da economia nacional em 2009, o que pode comprometer as modestas conquistas obtidas pela classe trabalhadora ao longo dos últimos anos. É indispensável ampliar a mobilização das centrais sindicais e dos movimentos sociais para evitar que a conta da crise seja cobrada exclusivamente dos trabalhadores e trabalhadoras, garantir o emprego e exigir que os ricos paguem a crise. Ganha particular importância a exigência de estabilidade em contrapartida às verbas que o governo está canalizando para os capitalistas com o objetivo de manter a atividade econômica em alta e contornar o perigo de recessão.
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