As eleições constituem um rico aprendizado de democracia. Elas propiciam a cada cidadão refletir sobre os destinos de sua cidade, do seu Estado, do seu País.
É muito cômodo "lavar as mãos", não se envolver nas discussões do dia-a-dia da população, e reclamar que tudo vai mal, que "político é tudo igual", desonesto, "farinha do mesmo saco", como se fosse ele eleito por "geração espontânea".
A representação política reflete o nível cultural de um povo e de suas instituições. Em síntese, representa o nível civilizatório da Nação.
Não podemos considerar civilizado um país no qual as escolas não atendem à demanda, o ensino é de qualidade duvidosa, os mestres são mal remunerados, pouco qualificados, as bibliotecas precárias, e o ambiente de estudo não atende às mínimas condições de conforto e bem-estar à comunidade escolar.
O mesmo quadro de horrores encontramos na saúde, na qual as carências são gritantes, o financiamento pelo SUS insuficiente, gerando o descredenciamento em massa de hospitais e clínicas, alimentando a indústria dos planos de saúde. A classe média se vê aviltada, não tendo como barrar os reajustes abusivos; e os idosos, padecem muito mais ao pagar cada vez mais caro pelos serviços prestados, em descompasso com as aposentadorias irrisórias.
Nesse ambiente de carências sociais profundas, está posto o mercado das trocas eleitorais, da compra e venda de votos dos menos favorecidos (lembrando que os abastados também vendem votos, por mordomias, privilégios, cargos, verbas, obras nos governos, financiando campanhas com dinheiro da sonegação etc., movimentando a indústria da corrupção), gerando uma sociedade servil, sem esperanças e, ao mesmo tempo, indignada. Falta tudo, em termos de políticas públicas, originando a dependência dos cidadãos aos políticos aproveitadores da miséria e ignorância.
Precisamos civilizar o País, com investimentos massivos em educação em tempo integral - com reforço escolar, cursos profissionalizantes, atividades culturais e esportivas, boas bibliotecas - com as escolas abertas nos finais de semana, como pólo irradiador do conhecimento, como também de integração da comunidade com o seu bairro, inserindo-o na discussão coletiva de seus problemas dentro da escola, formando cidadãos conscientes de seu papel transformador da realidade.
Do mesmo modo, a saúde carece de atenção, com o recredenciamento de hospitais e clínicas, mediante a complementação da tabela do SUS, com recursos oriundos dos municípios e Estados, equiparando os valores dos procedimentos aos pagos pelos planos de saúde privados. Uma competição bastante saudável para equilibrar o sistema.
Civilizar o País, em duas questões básicas, eis o grande desafio posto aos políticos sérios, conscientes do trabalho que deles espera a população, para a construção da verdadeira democracia.
Fátima Vilanova - Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Professora da UECE e Palestrante da EFG.
mfatimavilanova@gmail.com
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