Enquanto governos e bancos centrais mundo afora tentam salvar suas economias, tem gente mais preocupada em simplesmente ser feliz. Neste contexto, ganha força o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) e o significado de riqueza se amplia
"E a felicidade pode ser
simples como um aperto de mão"
(A Carta, Djavan)
O ano é 1972 e o rei Jigme Singye Wangchuck decide aplicar em Butão, pequeno país asiático, um indicador de riqueza diferente, que leva em conta mais do que os ganhos proporcionados por bens e serviços, como acontece no resto do mundo ao se calcular o Produto Interno Bruto (PIB). A partir de então, na sociedade butanesa, o desenvolvimento social, econômico e político passou a ser respaldado por uma consciência cultural, social, espiritual e ambiental que elege a felicidade como o núcleo de toda política pública nacional denominada de Felicidade Interna Bruta (FIB).
O psicólogo e professor titular do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor) Francisco Silva Cavalcante Junior, que também é coordenador da Rede Lusófona de Estudos da Felicidade (Relus), explica que para um butanês a felicidade não acontece por alguns breves instantes, não é passageira como no prazer de quem sacia o desejo da fome, ou quem, outrora entediado, encontra diversão. "Para um butanês, a felicidade é resultado de uma mente sem preocupações, sem ansiedades e sem depressões. De um corpo livre de dores, de doenças, de sofrimento e de fome, além de outras condições que precisam ser reunidas", contextualiza.
O tempo foi passando e somente em 1998 o conceito de FIB chegou ao mundo ocidental, promovido pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP). Agora, em meio à crise financeira que tem feito as principais pontenciais econômicas mundiais tremer, a riqueza gerada - e disseminada entre as pessoas - é questionada pelos que acreditam que dinheiro por si só não traz felicidade. "Estamos diante da possibilidade de uma grande transformação na humanidade", instiga o professor.
Cavalcante lembra ainda que parecíamos convencidos de que a felicidade estava sincronizada à nossa capacidade de perdurar no prazer. "Cultivamos a ilusão que o modelo liberal era infalível. Como alternativa ao PIB, propõe-se agora no ocidente, a Felicidade Interna Bruta, que conserva uma dimensão profundamente humana, ao tomar a busca pela felicidade como medida da humanidade comum que nos habita, e, ao mesmo tempo, um tom de crítica-cultural, enfrentando a anestesia do consumo", diz.
O psicólogo é crítico ao consumo exagerado e defende que não podemos confundir alegria, que é uma emoção fugaz, com felicidade. "Um povo feliz precisa desfrutar de um completo bem-estar", diz. Cavalcante argumenta que os indivíduos materialistas geralmente têm baixa auto-estima e acreditam que o seu valor pessoal encontra-se nos seus bens materiais e no reconhecimento desses valores por outros. "Além de terem maior dificuldade de adaptação social e apresentarem comportamentos anti-sociais", finaliza.
EMAIS
- Estudos demonstram que os países mais ricos do mundo, mensurados através dos respectivos índices do Produto Interno Bruto (PIB), não apresentam uma relação simétrica aos indicadores de felicidade de sua população.
- Os Estados Unidos, até então considerada uma das nações mais ricas do mundo, aparecem como o segundo na escala mundial da felicidade, precedido pela Austrália, seguido pelo Egito e Índia, antes do Reino Unido e do Canadá, os próximos da lista.
- O Brasil é o nono país mais feliz do planeta de acordo com os estudos.
- O psicólogo e pesquisador norte-americano Tim Kasser defende a tese central de que, ao ganharem mais dinheiro e acumularem mais bens materiais, os indivíduos não se percebem mais felizes e satisfeitos em suas vidas, tanto menos, gozam de uma maior saúde psicológica.
- Para Glenn Firebaugh, um outro estudioso da felicidade, o crescimento de renda em vez de promover a felicidade geral, pode promover uma corrida consumista em que os indivíduos consomem mais e mais só para manter um nível constante de felicidade.
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