O capitalismo arrasta o mundo para o abismo. Só uma Revolução Socialista pode salvar a humanidade.
O ano de 2008 será lembrado na história pela explosão de uma das maiores crises econômicas do sistema capitalista. O que antes parecia ser uma crise cíclica como tantas outras, apareceu em suas verdadeiras proporções. Desde 15 de setembro, com a falência do banco Lehman Brothers, instalou-se o pânico nos mercados capitalistas do mundo inteiro. Entraram em concordata, falência ou quebras encobertas alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos e Europa. A oferta de crédito está congelada em forma generalizada. Nem as instituições financeiras nem os capitalistas individuais querem emprestar dinheiro. A falta de crédito ameaça paralisar a economia americana a tal ponto que o FED (Banco Central dos Estados Unidos) está emprestando dinheiro diretamente para que as empresas possam funcionar, o que está totalmente fora de suas atribuições.
Os Estados dos principais países imperialistas intervieram, injetando mais de um trilhão de dólares nos bancos e na economia. Isso não deteve a crise. Dia após dia ocorrem as maiores quedas nas Bolsas desde muitas décadas. Só na primeira semana de outubro as Bolsas de todo o mundo acusaram perdas globais de 6,2 trilhões no valor das ações. “Derretem-se” ações das maiores empresas do mundo como a General Motors e a Exxon, antes consideradas sólidas. Esta é, sem exageros, a situação atual da economia mundial.
A crise da economia capitalista é uma realidade que hoje está no centro de todos os acontecimentos mundiais. Por outro lado, é um processo que está apenas no começo e vai atingir, em maior ou menor medida, a todos os países. E, sem dúvida, as mais graves repercussões recairão sobre os trabalhadores e os pobres de todo o mundo.
O recente “pacote” conjunto de oito países europeus – que destina mais de 2 trilhões de dólares para socorrer os bancos – e pacotes similares dos governos dos Estados Unidos (250 bilhões de dólares), Austrália e países do Oriente Médio, apesar de constituírem a maior intervenção estatal no sistema financeiro mundial, não conseguirão reverter a crise nem impedir a recessão. É possível que acalmem os mercados por uns dias, mas os efeitos globais desta gigantesca operação sobre os orçamentos, dívidas públicas e índices de inflação dos países envolvidos podem gerar repercussões ainda mais negativas no futuro.
O sistema financeiro dos Estados Unidos e da Europa está em plena quebra. O Banco Lehman faliu, o Merril Lynch foi incorporado pelo Bank of America, o Bearn Stearns foi tomado pelo Morgan Stanley, Wachovia passou para o Wells Fargo e o Goldman Sachs colocou a venda o seu pacote acionário. Fannie Mae e Freddie Mac, as duas maiores empresas do ramo de hipotecas dos Estados Unidos, faliram e foram incorporadas pelo governo americano. Também faliu a seguradora AIG (a maior dos EUA e do mundo). O mesmo aconteceu com o Washington Mutual, maior banco do setor imobiliário dos EUA.
Esta violenta centralização de capitais no sistema financeiro se estendeu à escala internacional: o HBOS da Inglaterra foi adquirido pelo Lloyds e o Santander espanhol absorveu as sucursais do Bradford and Bingley. Os governos europeus foram obrigados a intervir para salvar o Banco Fortis (o maior da Bélgica), o HBOS e Bradford-Bingley (ambos da Inglaterra) e o Hypos Real Estate, principal banco de financiamento imobiliário da Alemanha.
O governo da Inglaterra estatizou parcialmente os bancos mais importantes do país, injetando 50 milhões de libras nestas instituições e tomando em troca uma parte de suas ações. É uma “estatização” para salvar os banqueiros, porque o estado capitaliza suas empresas, mas permite que sigam como donos dos bancos. O governo dos Estados Unidos e outros governos de países imperialistas podem seguir o seu exemplo.
Houve uma enorme “queima” de capital fictício neste curto período: títulos com lastro em créditos “podres”, hipotecas que não podiam ser pagas pelos devedores, ações supervalorizadas, etc. Mas também houve perdas de capital real, principalmente dos fundos de pensão e dos pequenos investidores que apostaram suas economias em títulos ou ações.
Já existe uma recessão nos países capitalistas imperialistas, começando pelos EUA, e que está se estendendo para todo o mundo. A França já acusou dois trimestres seguidos de crescimento negativo. O Japão sofreu uma queda de 2% do PIB no segundo trimestre deste ano. Já existe recessão na Itália, Inglaterra e Espanha. Também há recessão entre alguns dos países mais débeis da Europa, como Islândia e Irlanda. Houve uma queda da venda de automóveis nos EUA, com uma média de 30% em setembro. A General Eletric, uma das maiores empresas do mundo, teve queda de 12% em suas vendas e busca financiamento.
Não se pode prever ainda se esta recessão vai durar apenas dois ou três anos ou se vai inaugurar um longo período de depressão semelhante ao que se abriu depois da crise de 1929. Não é casual que a maioria dos economistas burgueses, dos líderes políticos mencione a crise de 29, seja para negar que o mundo esteja a ponto de entrar em um período semelhante, seja para advertir sobre as semelhanças entre os dois processos ou alertar para o risco de que a crise evolua para uma situação parecida ou ainda pior. A crise de 29 é um fantasma que assombra a burguesia mundial porque sabe que isto significaria um prolongado período de declínio do próprio capitalismo com enormes conseqüências políticas.
De qualquer maneira, esta é, no mínimo, a maior crise da economia mundial desde 29. Certamente haverá países mais ou menos atingidos, mas nenhum deixará de sofrer os efeitos da recessão instalada nos países imperialistas.
Além disso, esta crise econômica tem uma particularidade que a torna superior às anteriores, mais generalizada e devastadora que as da década de 90: seu epicentro está nos Estados Unidos, a maior economia do mundo e o coração do imperialismo. Isso potencializa ao máximo sua extensão e profundidade. Os países mais frágeis e dependentes não têm como escapar dos seus efeitos.
A evolução da crise
A atual crise da economia mundial apareceu, num primeiro momento, sob a forma de uma crise imobiliária nos Estados Unidos. Nos últimos anos, os bancos americanos ofereceram em forma generalizada créditos hipotecários a compradores de imóveis de alto risco (“subprimes”), cobrando altos juros.
Estas hipotecas eram “empacotadas” por grandes companhias hipotecárias e transformadas em papéis ou títulos que eram negociados no mercado por corretoras e bancos de investimento, captando assim mais capitais e permitindo que as companhias oferecessem mais crédito.
Os títulos foram assegurados por companhias de seguros e avaliados com boas notas por agências de classificação de risco como a Standard & Poor’s. Desta forma os papéis foram comprados por investidores do mundo todo, como os grandes bancos e os fundos de pensão.
Este esquema especulativo, parecido com as famosas “pirâmides”, veio abaixo quando se tornou evidente que milhões de compradores não poderiam pagar suas hipotecas. Os bancos começaram a retomar as casas dos inadimplentes. A grande oferta de imóveis resultante fez baixar bruscamente os preços e deixou evidente que bancos, corretoras, companhias imobiliárias, companhias de seguros e investidores em geral não só não conseguiriam obter lucros como teriam pesadas perdas sobre o capital investido.
A crise financeira atual é mais uma manifestação de um processo permanente de crescimento-auge-crise-depressão, próprio do sistema capitalista, que vive crises cíclicas desde o começo do século XIX, num permanente movimento de equilíbrio e desequilíbrio. Cada crise, no entanto, tem suas particularidades e alcances. A crise atual se expressa de forma particularmente violenta, pela situação do capitalismo imperialista e da luta de classes na época em que vivemos. Na verdade, as contradições que explodiram agora vêm se desenvolvendo há vários anos.
Durante a década de 90 do século XX e princípios do século XXI, e depois de décadas de crise, o imperialismo conseguiu inaugurar um período de expansão e crescimento através do enorme aumento da exploração dos trabalhadores de todo o mundo e de um verdadeiro processo de recolonização dos países explorados. Isso se deu de distintas formas:
• Através da restauração do capitalismo na China, Rússia e todos os estados do Leste europeu e Ásia. Isso permitiu que o imperialismo explorasse diretamente os trabalhadores destes países, principalmente a China que se transformou na fábrica do mundo, pagando salários de fome e extraindo assim uma enorme massa de mais-valia.
• Com a abertura de novos mercados para os produtos das transnacionais nos países onde se restaurou o capitalismo e também nos países onde se impuseram os chamados Tratados de Livre Comércio (TLC’s).
• Com a quebra dos monopólios para a exploração das riquezas das riquezas naturais dos países pobres, seguida de uma verdadeira pilhagem destes recursos pelas transnacionais.
• Impondo um amplo e generalizado processo de privatizações de empresas estatais e serviços públicos, que permitiu às empresas imperialistas explorar diretamente todo um setor dos trabalhadores dos países periféricos e dos próprios países imperialistas e obter enormes lucros, o que antes só fazia em forma indireta.
• Criando novas formas de aumentar a exploração do trabalho assalariado, a chamada “flexibilização trabalhista”, isto é: terceirizações, todo tipo de contratos precários, eliminação de conquistas, aumento da jornada de trabalho, etc.
Todas estas formas de exploração e expansão dos mercados permitiram um aumento da taxa de lucro (relação entre a mais valia apropriada pelo capitalista e o capital investido por ele). Novas tecnologias digitais também possibilitaram aumentar a produtividade e criar um mercado financeiro mundial que funciona on-line e permite um ritmo instantâneo de repartição de lucros e acumulação e sobreacumulação de capital.
Todos estes processos redundaram na extração de uma enorme massa de mais-valia. Produziu-se uma grande sobreacumulação de capital. No entanto, esta sobreacumulação de capital gera uma queda na taxa de lucro na medida em que a parte superior da equação, a mais-valia, permanece a mesma, mas a parte inferior (o capital) aumenta. O capital busca então, o mais rapidamente possível, novos investimentos onde obter lucros e reverter a queda na taxa de lucros.
Durante as últimas décadas, esta sobreacumulação de capital provocou um grande aumento do capital fictício, isto é o capital que não é investido na produção diretamente, mas sim na especulação, em suas diversas formas.
Em geral, esta grande massa de capital disponível é injetada de novo na economia sob a forma de uma enorme oferta de crédito (ações em bolsa, títulos, títulos da dívida pública, créditos para exportação, créditos para as empresas, crédito ao consumidor), sobre a qual os capitalistas esperam conseguir uma remuneração maior e mais rápida que a obtida na produção.
Mas, este movimento provoca um brutal endividamento, não só dos consumidores individuais, mas das empresas e até dos Estados. A dívida pública dos Estados Unidos, por exemplo, já alcança a incrível quantia de 13 trilhões de dólares.
Quando se produziu a última crise mundial, em 2001-2002, o imperialismo buscou atenuar seus efeitos e produzir um novo ciclo de crescimento, entre outras medidas, baixando a taxa de juros e facilitando ainda mais a oferta de crédito. Com isso conseguiu estimular o consumo e recuperar a taxa de lucro por um curto período.
Isso foi combinado com outra política fundamental do governo Bush na época: deflagrar as guerras do Iraque e do Afeganistão, aumentando violentamente os gastos com o orçamento e estimulando assim um crescimento generalizado da indústria militar e dos setores ligados ao provimento das Forças Armadas.
No entanto, ambas as medidas significaram uma fuga para adiante, isto é, conseguiram suavizar a crise de 2001-2002, mas só aumentaram as contradições do capitalismo norte-americano. Por um lado, levaram a níveis insuportáveis o endividamento generalizado das empresas, consumidores e do Estado. Por outro, a heróica resistência das massas iraquianas e afegãs, gerou uma crise política no imperialismo e um prolongamento acima de qualquer expectativa da guerra e conseqüentemente dos gastos públicos e da dívida do Estado.
Por isso, esta crise é particularmente explosiva. Porque, além de sua natureza comum a todas as crises do capitalismo – isto é, se manifesta em uma queda abrupta da taxa de lucros e um desequilíbrio que leva a uma crise de superprodução – comporta um elemento que a potencializa tremendamente. Estamos falando da crise do sistema financeiro dos Estados Unidos e Europa que, por obra da mundialização do capital e do desenvolvimento espetacular da técnica, já atinge o mundo inteiro, refletindo este enorme endividamento dos consumidores, empresas e estados.
O suposto “descolamento” dos emergentes é uma farsa
A famosa tese do “descolamento” dos países ditos emergentes, que por serem supostas potências em ascensão poderiam escapar da crise, revelou-se um mito. Existe uma única economia e um mercado mundiais e as economias nacionais são partes deste todo e estão subordinadas a ele. E, como já dissemos antes, o centro da crise é a principal economia do planeta, os Estados Unidos, o que faz com que seus efeitos se estendam às economias de todos os países, principalmente os países de economia mais débil ou secundária.
Os “emergentes” já estão sentindo estes efeitos. A crise financeira já atingiu a Rússia onde, em uma semana, os pregões da Bolsa já foram interrompidos 4 vezes numa tentativa de impedir a fuga de capitais. Somente no dia 6/10, a Bolsa de Moscou caiu 19%. O governo russo foi obrigado a suspender o funcionamento da Bolsa por 2 dias para não ruir completamente o sistema financeiro
Na América Latina não é diferente. A princípio os governos latino-americanos, como os de Lula e Cristina Kirchner, tentaram minimizar a crise enquanto permitiam que os banqueiros e capitalistas internacionais e nativos retirassem seus capitais com ganhos extraordinários, aproveitando as remessas de lucros, os juros altos pagos pelo governo e os pagamentos da dívida externa e interna.
Agora a crise mundial está desequilibrando essas economias de várias maneiras, seja pela fuga de capitais, pela queda nas exportações ou pela desaceleração da produção agrícola e industrial, fruto da queda do consumo dos países imperialistas. Tudo aponta para a recessão. A ilusão do “descolamento” ruiu, e agora, os mesmos governos que antes faziam pouco caso da crise tentarão impor o seu custo à classe trabalhadora e aos pobres.
Afirmações de que o Brasil ou a Argentina, ou outros países periféricos, não seriam atingidos pela crise não tem apenas o objetivo de encobrir a inação destes governos. Além disso, existe um caráter intencional claro: os governos de Lula, Cristina Kirchner e outros querem anestesiar a classe operária e os setores populares, desarma-los, amarrar suas mãos para que aceitem passivamente pagar pelos custos da crise ou que a enfrentem totalmente despreparados para a inevitável luta de vida ou morte contra a superexploração, o desemprego e a fome que já se vislumbram no horizonte.
A crise econômica vai provocar uma enorme crise social
Como em todas as crises da economia capitalista, a burguesia mundial já começou a descarregar os custos nas costas dos trabalhadores e dos setores populares. As primeiras manifestações são as restrições do crédito ao consumidor e os aumentos de preços. Por exemplo, só nos Estados Unidos, mais de um milhão e setecentas mil famílias americanas foram expulsas de suas casas porque não puderam pagar suas hipotecas. Mas, o ataque que está por vir será muito pior.
A recessão provocará um enorme aumento do desemprego. Só nos Estados Unidos 750 mil trabalhadores já perderam seus empregos. Antes da explosão dos mercados financeiros a Organização Internacional do Trabalho (OIT) já previa que 5 milhões de trabalhadores se somariam a população desempregada no mundo este ano. Agora, este número deve aumentar muito.
Os trabalhadores imigrantes nos países imperialistas, oriundos de países pobres, serão os primeiros a sofrer com o desemprego, o aumento do trabalho precário e as leis para estrangeiros promovidas pelos governos destes países. A crise econômica e o desemprego também trarão o crescimento da xenofobia e do racismo, como está acontecendo hoje na Itália e na Áustria.
Por outro lado, em mais de trinta países pobres já existia uma crise social por causa do aumento do preço dos alimentos e dos combustíveis. Aí, a recessão e o desemprego terão o efeito de uma verdadeira hecatombe social.
Os reflexos da crise econômica entre os trabalhadores contrastam com os privilégios da alta burguesia. O capitalismo busca salvar os bancos com pacotes estatais que só nos Estados Unidos já somam mais de um trilhão de dólares.
O que significa este gasto frente a outras necessidades agudas da humanidade? Segundo a ONU para dar água potável para todo o planeta seriam necessários 32 bilhões de dólares. Segundo a FAO para acabar com o drama das 925 milhões de pessoas que passam fome em todo o mundo seriam precisos 30 bilhões de dólares. Quantias ínfimas se comparadas à fortuna destinada a salvar os bancos que foram os protagonistas da ciranda financeira.
Além disso, há outra farsa que caiu por terra. Durante décadas a propaganda neoliberal fez a apologia das privatizações, da liberdade do capital para atuar livremente, obedecendo apenas às leis do mercado. Agora pedem desesperadamente, ou melhor, exigem uma injeção de dinheiro público para cobrir suas perdas. O que estão dizendo é que num momento de crescimento econômico e altos lucros é preciso privatizar o Estado, nos momentos de crise e grandes perdas o Estado deve financiar os capitalistas. Privatizar os lucros e socializar os prejuízos, tal é a lógica do capitalismo.
Por isso, nem todos sofrem a crise por igual. Os trabalhadores perdem suas casas e empregos, muitos já estão ameaçados pela fome. Muitos burgueses, cuja especulação levou os bancos à quebra, conservam privilégios escandalosos, até obscenos. Executivos dos bancos que foram a falência levaram para casa “indenizações” e bônus milionários. Richard Fuld, que conduzia o Banco Lehman Brothers que pediu concordata no meio de setembro, teve “ganhos” de 45 milhões de dólares em 2007. Stan O’Neal do banco Merryl Lynch, vendido para o Bank of América, se aposentou levando para casa 161 milhões de dólares em indenizações.
Mas que ninguém se engane. O custo desta benevolência com os grandes bancos e seus executivos será pago pelos Estados com dinheiro público, isto é dos trabalhadores. Pior, para desviar dinheiro do Estado para salvar os bancos, os governos capitalistas vão procurar aumentar os ataques ao nível de vida dos trabalhadores. Isso porque as enormes quantias despendidas para salvar os bancos aumentarão o déficit do orçamento e a dívida pública dos Estados Unidos e dos países europeus. Os governos destes países buscarão cortar gastos com saúde, educação e planos de aposentadoria, bancados pelo estado. E, também vão procurar aumentar a exploração dos países periféricos, fazendo funcionar seu conhecido “aspirador” de capitais.
O imperialismo vive uma crise política
Seria um grande engano pensar que a crise se limita à esfera da economia. O descalabro econômico deixou evidente uma crise política no país mais poderoso do mundo. Este descontrole não foi só um produto de um governo em fim de mandato. Um dos exemplos mais gritantes foi o episódio da votação do pacote de ajuda aos bancos. O governo Bush, com pleno apoio dos dois candidatos presidenciais, Barack Obama e John McCain, e das direções dos partidos Democrata e Republicano, foi derrotado numa primeira votação na Câmara. E hoje em dia, mesmo depois da aprovação do pacote, a crise não cede. O governo Bush, o FED, o Congresso, ninguém tem controle sobre a situação ou sequer dispõem de mecanismos eficazes para enfrentar a crise.
A crise política não vem de agora. É produto da derrota da ofensiva do imperialismo americano depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Esta ação, encabeçada pelo governo Bush, consistia em atacar a todos os países explorados do planeta, principalmente os que detinham grandes reservas petrolíferas ou uma posição estratégica para seu transporte. A guerra contra o terrorismo serviu como justificativa para o ataque e a guerra contra o Iraque e o Afeganistão. Mas, a heróica resistência dos povos iraquiano e afegão levou as tropas dos Estados Unidos e da OTAN a um atoleiro que não permite mais uma vitória militar. A este fato se soma o fracasso do imperialismo em tentar derrotar os processos revolucionários na América Latina. Também contribuíram para esta derrota a resistência dos trabalhadores imigrantes latinos nos Estados Unidos e a luta dos trabalhadores europeus contra as reformas neoliberais.
A crise política do imperialismo americano influiu decisivamente no desenrolar da crise econômica pelo menos em dois aspectos. Primeiro, porque a resistência do povo iraquiano e afegão prolongou a guerra por mais de cinco anos, obrigando o governo americano a gastar até agora mais de 800 bilhões de dólares no conflito e debilitando a economia do país. Segundo, porque o atoleiro da guerra se traduziu num custo político para o governo Bush, enfraquecendo-o profundamente na hora em que mais precisou enfrentar a crise econômica.
Frente ao desastre provocado pelo capitalismo, só a classe operária pode oferecer uma saída para a humanidade.
Durante as mais de duas décadas que sucederam a restauração do capitalismo nos países do assim chamado “socialismo real”, uma sufocante propaganda, promovida pela burguesia mundial e seus agentes, apregoava que o capitalismo era o único sistema possível para a humanidade, fonte de riqueza e bem estar crescentes para todo o planeta. Decretaram a morte do socialismo.
A crise da economia mundial vem repor a verdade. Não foram as políticas “neoliberais”, os excessos especulativos ou mesmo a falta de regulamentação que a provocaram, como apregoam muitos pensadores burgueses ou reformistas. Ao contrário, as crises são inerentes ao sistema capitalista. Estão em sua essência.
O capitalismo é um sistema em decadência, que desenvolve tecnologia, unicamente para auferir lucros e não para benefício da humanidade. Ao contrário, quase sempre a utiliza para a destruição do homem e da natureza. Este sistema precisa desesperadamente das guerras para gerar lucros. Nele vigora a anarquia da produção, o consumo descontrolado e supérfluo de uma minoria, a superexploração dos recursos naturais que provoca um desastre ecológico mundial e a especulação financeira. Um sistema em que a mundialização do capital, que não tem fronteiras, se utiliza permanentemente de barreiras impostas pelas fronteiras nacionais para reprimir e melhor explorar os trabalhadores imigrantes. Um sistema que, ciclicamente, lança a humanidade em períodos de intenso desemprego, fome e miséria.
No entanto, a falência deste sistema está longe de significar a vitória definitiva para os trabalhadores e os setores populares do mundo inteiro. Ao contrário, a burguesia imperialista, em sua decadência, pode arrastar toda a humanidade para a barbárie. A crise não torna o imperialismo menos perigoso para os explorados deste mundo. Um monstro ferido, que luta desesperadamente para sobreviver, pode, em sua agonia, destruir tudo ao seu redor.
A burguesia demonstrou mais uma vez que já não cumpre nenhum papel progressivo. É uma classe que procura apenas defender seus privilégios e sua dominação com todas as armas de que dispõe. Não consegue mais desenvolver as forças produtivas da humanidade e nem sequer atender à suas necessidades mínimas. Uma minoria de grandes capitalistas e financistas, os donos dos meios de produção e distribuição, explora cada vez mais as grandes maiorias. A cada tanto ameaçam não só nossos postos de trabalho, salários e casas, mas também a própria existência física da classe operária e de toda a humanidade. Os meios de comunicação e os governos dizem que não há outra saída. Que temos que nos acostumar e tratar de nos adaptar porque o mundo é assim. Mas a atual crise do capitalismo produz uma grande transformação na consciência habitual dos trabalhadores.
Cada dia da crise traz enormes lições práticas para a classe operária do mundo inteiro. Os operários vêem diariamente os escândalos financeiros, o aumento brutal das desigualdades, a ameaça de depressão, a irracionalidade e a anarquia do capitalismo e do mercado mundial. Isto se concretiza depois nas duras experiências do desemprego, perda de conquistas e baixos salários, que muitos operários dos países imperialistas irão enfrentar no próximo período.
A nova situação mundial que se abre com a crise econômica fará com que o proletariado viva uma experiência concentrada com a exploração e as mazelas do sistema capitalista, que normalmente só seria possível no decorrer de anos. Isso permitirá o despertar de uma nova consciência, similar ao que as guerras, as agressões imperialistas e as políticas neoliberais representaram recentemente, em termos de consciência antiimperialista, para os povos dos países explorados. No entanto, para que esta nova consciência dê um salto é preciso que a classe passe à ação.
Só uma ação consciente da classe operária pode oferecer uma alternativa para todos os explorados do mundo. Esta ação consciente deve começar pela organização para a luta em defesa da sua sobrevivência física, em defesa de suas vidas e de suas famílias, das centenas de milhões de pessoas ameaçadas pela crise. Os trabalhadores do mundo inteiro precisam organizar-se e lutar para defender seus empregos, salários e casas. Precisam mobilizar-se contra os aumentos dos preços, contra o trabalho precário e pelos direitos dos imigrantes.
Só medidas de fundo – tais como a escala móvel de horas de trabalho e planos de obras públicas para conter o desemprego; reajustes salariais automáticos de acordo com o aumento da inflação; fim de todas as formas de trabalho precário e outras similares – serão capazes de enfrentar efetivamente esta crise. Os sindicatos, comissões de fábrica e todas as organizações de classe serão convocados a cumprir um papel ativo neste combate, ou estarão destinados a perecer e dar lugar a novas organizações que possam enfrentar o desafio.
Indo mais além, é preciso buscar uma saída global e definitiva que impeça a humanidade de permanecer à mercê de crises cada vez mais violentas e arrasadoras. Esta saída existe. É necessário planificar a economia, colocá-la a serviço da satisfação das necessidades da grande maioria, os trabalhadores e os setores populares, e não para aumentar a riqueza de uns poucos. Só esta planificação permitirá utilizar racionalmente os recursos naturais e cessar imediatamente com seu uso predatório e com a destruição da natureza. Só uma economia planificada pode por fim à fome, ao desemprego, à miséria. Somente esta planificação permitirá o pleno desenvolvimento das tecnologias e sua utilização em benefício do desenvolvimento material e cultural da humanidade.
É necessário reorganizar toda a economia mundial. Isto é impossível sem atacar os bancos, o coração da economia capitalista imperialista. Hoje, os grandes bancos e todo o sistema financeiro dominado por eles são uma fonte permanente de anarquia e paralisam a economia mundial. Foram responsáveis pela escandalosa especulação e por perdas gigantescas. E agora não emprestam mais dinheiro, provocando diminuição da produção, desemprego e falências de empresas.
Não é possível reorganizar a economia de forma racional sem acabar com o domínio dos bancos e implantar um sistema único de investimento e crédito controlado pelo Estado. Mas isso deve ser feito de forma oposta à estatização promovida hoje pelos governos, como o da Inglaterra, que significa dar dinheiro do Estado aos banqueiros e permitir que eles continuem à frente dos seus bancos.
É necessário expropriar todos os bancos e a estatizar todo o sistema financeiro dos Estados Unidos e de todos os países imperialistas, sob controle dos trabalhadores e sem indenizar os banqueiros. É preciso expropriar também as grandes empresas imperialistas, anular as dívidas externas dos países pobres e estabelecer um rígido controle de capitais que impeça sua fuga para os países imperialistas. Para acabar com a escassez de alimentos e seus altos preços é preciso expropriar os latifúndios e realizar reformas agrárias radicais que dêem a terra aos camponeses pobres que a trabalham e aos “sem-terra” que querem produzir alimentos.
Isso significa construir uma sociedade totalmente distinta. Uma sociedade que não viva em função do lucro e onde não seja necessária a exploração para garanti-la. Uma sociedade solidária com todos, ao invés de estar baseada na competição e no individualismo. Uma sociedade socialista.
Nós trabalhadores, que com nosso trabalho criamos todas as riquezas, podemos construir esta nova sociedade. Para isso será necessário derrotar o imperialismo, expropriar a burguesia parasita e desaloja-la do poder, criando um estado operário que encaminhe a transição para esta sociedade socialista. A experiência concreta de uma Revolução Socialista vitoriosa já foi feita pelo proletariado russo, que tomou o poder em 1917 e construiu um estado baseado em Conselhos Operários democráticos, ao serviço das grandes maiorias populares.
Essa experiência durou poucos anos e depois degenerou pela ação de uma burocracia privilegiada. No entanto, apesar da burocracia, a URSS mostrou a enorme força de uma economia assentada na propriedade coletiva estatal dos meios de produção (fábricas, bancos e meios de distribuição), na planificação da economia e no monopólio do comércio exterior. Na década de 30, quando os Estados Unidos e todo o mundo capitalista viviam os anos da Grande Depressão, a URSS se desenvolvia a taxas de crescimento de 20% ou mais ao ano, e se transformou de um país atrasado e rural na segunda potência do mundo em menos de 40 anos.
Hoje, a classe operária mundial está diante do desafio de retomar a estratégia da Revolução Socialista mundial para derrotar o sistema capitalista imperialista e terminar de vez com a exploração e o flagelo das guerras e das crises econômicas.
Mas, sem dúvida há um enorme obstáculo neste caminho que hoje impede o proletariado de lutar por seus objetivos históricos e até mesmo de defender-se plenamente dos ataques do capital: à frente da maioria absoluta das organizações sindicais e políticas da classe operária estão direções burocráticas e oportunistas que defendem seus privilégios e o sistema capitalista que os mantêm. Essas direções traidoras conduziram o proletariado a tremendas derrotas no passado e preparam um novo desastre para as lutas do futuro.
A luta espontânea das massas por si só, por mais heróica que seja, não levará à conquista do poder. Para fazer a Revolução Socialista mundial, única forma de impedir que o mundo se precipite na barbárie, a classe operária, colocando-se à frente de todos os explorados do mundo, necessita de uma direção política revolucionária que a conduza.
O proletariado necessita de partidos revolucionários em todos os países, que sejam parte de uma Internacional revolucionária, oposta firmemente a todos os partidos e organizações burgueses e oportunistas. Uma Internacional que levante um programa que reúna a experiência e a tradição internacionais do proletariado desde a publicação do Manifesto Comunista há 160 anos. Que se baseie em uma ampla democracia interna e no princípio organizativo do centralismo democrático: completa liberdade de discussão, total unidade na ação.
A nova situação mundial aberta pela atual crise econômica abre enormes possibilidades para a construção desta Internacional e suas seções, os partidos revolucionários nacionais. Este é o grande desafio e a principal tarefa dos revolucionários nesta época de decadência do capitalismo.
Em setembro deste ano, enquanto a confusão e a crise desabavam sobre as bolsas e todas as instituições do mundo burguês e imperialista, completaram-se 70 anos da fundação da IV Internacional. A IV é a legítima herdeira das tradições, do programa e dos princípios da III Internacional, fundada por Lênin e Trotsky em 1919, logo depois da Revolução Russa. Trotsky lutou anos contra a degeneração do Estado soviético e da Terceira quando estes passaram a ser controlados pela burocracia encabeçada por Stálin.
O Programa de Transição – escrito por Trotsky e adotado pela IV como seu programa de fundação – os princípios, políticos e organizativos da Internacional e seu objetivo estratégico continuam mais válidos que nunca.
Estas palavras de Trotsky não só mantêm toda sua validade como expressam muito bem a disjuntiva dramática da atual situação: “As premissas objetivas da revolução proletária não estão somente maduras, mas começam a apodrecer. Sem a vitória da revolução socialista no próximo período histórico, toda a civilização humana estará ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe. Tudo depende do proletariado e, antes de tudo, de sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade se reduz à crise da direção revolucionária”.
Enfrentar esta nova etapa de crise econômica e decadência do capitalismo exigirá dos revolucionários do mundo inteiro concentrar todos seus esforços na tarefa de reconstruir a IV Internacional, lutando para que o melhor da vanguarda da classe operária ingresse às suas fileiras.
Secretariado Internacional da LIT
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