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Saiu na Imprensa

  14/10/2008 

Artigo: Bancos, a crise e a greve dos bancários

César Costa de Araújo

Ganância: é isto que os bancos internacionais e os bancos brasileiros têm em comum. Os primeiros, sobretudo os bancos americanos, construíram sua lucratividade com crédito farto sem lastro e com poucas garantias, envolvendo-se num emaranhado de operações financeiras de alto risco, cuja quebra está na origem da crise dos mercados financeiros em todo o mundo. Já os bancos brasileiros, que nunca foram muito afeitos a riscos, construíram sua lucratividade sobre dois pilares: operações com títulos públicos, com retorno garantido devido aos juros elevados; e a exploração da sociedade e dos bancários com altas taxas de juros das operações de crédito, tarifas abusivas, péssimas condições de trabalho e salários absurdamente desproporcionais aos lucros bilionários do setor.

Os bancos no mundo todo estão em crise. Os de lá estão mergulhada numa série crise financeira e de liquidez. Os daqui sofrem de uma irreconhecível crise moral e ética. Imorais são as taxas de juros cobradas da sociedade e as aviltantes tarifas cobradas pelos serviços bancários. Imoral é a expulsão de pequenos correntistas e da população mais pobre para serem atendidos somente por correspondentes bancários. A crise ética é caracterizada pela exploração dos bancários, pelo desrespeito à jornada de trabalho da categoria e pela conseqüente violação da integridade física e mental desse segmento de trabalhadores, que segundo pesquisas oficiais estão entre os que mais sofrem com doenças ocupacionais e toda sorte de pressão e assédio moral. Sem falar na terceirização sem limite, verdadeira fraude contra os trabalhadores. Antiético também é desrespeitar a lei de greve através de interditos proibitórios que tentam coibir o legítimo direito dos trabalhadores; prática, aliás, já condenada pelo Supremo Tribunal Federal.

É neste contexto que se insere a greve dos bancários, que acontece há vários dias em todo o Brasil e há quase três semanas em Brasília e em alguns estados da federação. Se colocadas diante dos lucros exorbitantes dos bancos, as reivindicações da categoria mais parecem migalhas capazes, no máximo, de reproduzir "marolas" nas contas dos banqueiros. Para se ter uma idéia, a folha de pagamento dos maiores bancos é paga com sobras apenas pelas receitas de tarifas cobradas. A truculência dos bancos (que durante este período mais parecem "bandos") se caracteriza por ameaças, assédio e todo tipo de constrangimento para impedir a adesão de bancários à greve ou para tentar fazer os grevistas voltarem ao trabalho. Enquanto isso, seus gestores ou "capatazes" lutam a todo custo para atender os grandes clientes e desprezam a "chibatadas" os clientes menores e a população que precisa de atendimento.

Nos Estados Unidos, há muito tempo, os banqueiros já foram apelidados de "bankgsters", uma referência à expressão "gângsters", para denominar a forma como se organizam e atuam na sociedade de forma a engolir a concorrência e a influenciar os poderes públicos na defesa de seus interesses, para não dizer da truculência que usam para enfrentar quem se opõem a suas políticas. Nos dias de greve, fazem de tudo para obrigar os bancários a trabalhar. Além de ligar no celular e na residência dos trabalhadores, os obrigam a chegar mais cedo ou até que durmam no trabalho. Direcionam os trabalhadores para as unidades que não estão em greve e até alugam salas para serviços de contingenciamento. No limite, usam helicópteros para transportar executivos e outros bancários.

Nestes tempos de crise financeira, os bancos centrais correm para salvar os bancos com o dinheiro público. A pretexto de evitar uma quebradeira em cadeia, destinam bilhões para socorrer as instituições ameaçadas. Da mesma forma que os BCs intervêm quando os bancos estão perdendo muito, talvez devessem intervir quando os bancos ganham demais, até para cobrar um retorno em forma de investimentos e crédito mais barato, já que sua principal função na economia é, ou deveria ser, de intermediação dos recursos da sociedade.

Nas bolsas de valores os operadores compram e vendem papéis e suas metas são determinadas pelas oportunidades e pela dinâmica do mercado. Já nos bancos, os bancários são obrigados a vender "produtos" com metas estabelecidas da cabeça de gestores de plantão, que na maioria das vezes desconhecem a realidade de cada ponto de atendimento.

No Brasil, os bancários de bancos privados não sobrevivem, em média, a mais de cinco anos no emprego, e já são substituídos por trabalhadores com salários menores e desempenhando a mesma função. Se já não bastassem as indecentes condições de trabalho, esta rotatividade é ainda mais perversa. Dos poucos que fazem carreira nestas instituições privadas, boa parte é demitida em fim de carreira, pouco antes da aposentadoria. Trata-se de uma monstruosidade sem tamanho. É difícil imaginar que são pessoas que estão por trás dessas organizações. Pisar em que for necessário para garantir os maiores lucros, descartar pessoas quando não mais se precisa delas.

Algo precisa mudar em como as instituições financeiras operam e tratam a pessoas, sejam elas parte de seu corpo funcional, clientes ou cidadãos usuários ou que dependem dos bancos. A nacionalização de bancos agora empreendida, quem diria, nos Estados Unidos e em outros países europeus, pode até não ser a saída, mas no mínimo é o reconhecimento de que estas instituições não podem e não devem atuar sem a intervenção do Estado em benefício do interesse público.

No que tange aos trabalhadores, é preciso ouvir o clamor da greve. Melhores salários, além de mais justos, fortalecem o mercado interno e ajudam a fortalecer a economia em tempos de crise. O governo também pode contribuir para isso cobrando que os bancos cumpram suas obrigações perante a sociedade e orientando os bancos públicos a avançarem nas negociações específicas. A luta continua!

César Costa de Araújo
Assessor do Sindicato dos Bancários de Brasília

 

Fonte: Contraf-CUT
Última atualização: 14/10/2008 às 14:12:00
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