Fale Conosco       Acesse seu E-mail
 
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras


Saiu na Imprensa

  22/09/2008 

O capitalismo em crise

O capitalismo científico
A crise do sistema financeiro derruba mitos neoliberais e conservadores. Mostra, mais uma vez, que o Estado não pode ser mínimo e que o mercado não é capaz de sozinho regular os sistemas em que estão inseridos. Os efeitos do esgotamento do modelo serão sentidos com maior força pelos endividados e desempregados. Banqueiros, industriais, comerciantes, rentistas e especuladores estarão preservados, no essencial. A análise é de Luís Carlos Lopes.

As centenas de bilhões de dólares lançadas no mercado mundial para acalmar a crise econômico-financeira globalizada indicam a meta de um capitalismo com um mínimo de risco. As instituições podem cometer erros crassos. Os ciclos econômicos podem se esgotar. Não há problema. Os bancos centrais intervêm e ‘normalizam’ o mercado, usando o erário público. Azeita-se a máquina de fazer dinheiro, mesmo que não exista lastro ou que se tirem recursos que poderiam ser usados em programas sociais de distribuição de renda ou de segurança das comunidades mais pobres.

A acumulação de riquezas é tão grande, tanto nos países do chamado primeiro mundo, como nos ditos ‘emergentes’, que se pode desenhar o capitalismo assegurado pelos Estados nacionais contemporâneos. Quando a luz vermelha acende, basta gastar enormes reservas guardadas pelos bancos de Estado. Estas representam a acumulação dos lucros auferidos com a exploração do trabalho em escala mundial. Obviamente, que há limites, que as medidas recentes podem esbarrar em obstáculos mais poderosos e que nem todo o sistema consegue ser preservado. É preciso que caiam algumas fortalezas, para que o reino do capital permaneça em pé.

Diferentemente do grande crash de 1929, o mercado acionário ressuscita das cinzas em uma questão de horas. Isto não quer dizer que não possa afundar no passo seguinte. Sem sombra de dúvida, os efeitos do esgotamento do modelo só serão sentidos com maior força pelos endividados e desempregados. Banqueiros, industriais, comerciantes, rentistas e especuladores estarão preservados, no essencial. Não se verá nenhum optando pelo suicídio. Suas fortunas não virarão pó. Um ou outro será mais afetado. Contudo, o sistema lutará para permanecer funcionando e dando os imensos lucros de sempre.

A onda de choque, como em 1929, vem se propagando do centro para a periferia. Diferentemente daquela época, o grau de acumulação em todos os pontos do sistema é muito mais elevado. As formas de extrair a mais-valia nos dias que correm são infinitamente mais eficientes. Pode-se pilhar o que se acumulou em décadas e ‘salvar’ o que se arriscou há pouco tempo. Esta pilhagem é um risco, ainda desconhecido. Dependendo da evolução da crise, terão que ser tomadas medidas ainda mais fortes, tirando mais de quem tem muito pouco.

Estes acontecimentos derrubam os mitos neoliberais e conservadores. Mostra, mais uma vez, que os mercados são monstros desregrados e não-racionais. A ação do Estado é a única que pode tentar domar o monstro, mesmo sem o ferir de morte. Ao contrário, a perspectiva adotada é de tentar dar remédios paliativos, mas poderosos, mantendo tudo em seu lugar. O Estado não pode ser mínimo. O mercado não é capaz de sozinho regular os sistemas em que estão inseridos. As mentiras neoliberais se autodesmascaram nesta situação de crise, onde mais uma vez se vê as diferenças entre os centros e as periferias e a interligação mundial das economias, no sentido da dominação dos países ricos sobre os demais.

Por outro lado, uma luz de esperança aparece no horizonte. Se estes sistemas podem se movimentar tão rapidamente, produzindo resultados surpreendentes, a favor do capital, tal poderia ocorrer em sentido inverso. Os Estados nacionais que estão tentando suturar as chagas da crise financeira, dependendo da correlação das forças políticas no poder, poderiam, quiçá, fazer o motor da história girar em função do trabalho. O problema não é econômico e sim de ordem política. Quem está no poder determina para onde a história se dirige e a quem ela beneficiará.

Não se sabe qual será a reação das sociedades envolvidas. Mas, no rescaldo desta última crise global, a ordem política mundial está sendo seriamente afetada. É ingênuo pensar que o mundo de depois destes eventos será o mesmo. O que virá terá a marca do que hoje está se processando.

CAPITALISMO EM CRISE

Agora, regulação é apontada como única saída

O ex-presidente Ronald Reagan (na foto com a ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher eliminou os controles governamentais sobre uma ampla gama de instituições e instrumentos financeiros, em consonância com sua fé no livre mercado. Reagan gostava de ilustrar sua política desreguladora com a frase: "o governo não é a solução, mas sim o problema". Em 1999, a Lei de Modernização de Serviços Financeiros eliminou controles financeiros impostos desde os tempos de Franklin Delano Roosevelt. As conseqüências estão aí.

WASHINGTON - A sangria financeira que, de Wall Street, espalhou-se pelos Estados Unidos e pela economia internacional, levantou o clamor por uma regulação mais estrita dos grandes atores da economia norte-americana. Na quinta-feira (18), a primeira preocupação foi a saúde dos bancos de investimentos de grande porte que sobreviveram à débâcle do início da semana, Goldman Sachs e Morgan Stanley, assim como a da empresa Washington Mutual, com sede na capital dos EUA.

Ao meio-dia, circulavam rumores que o Morgan Stanley poderia ser adquirido pela Wachovia Corporation, da Carolina do Norte, quarta maior cadeia bancária dos EUA, com presença em 21 estados e em seis países latino-americanos. Todas as sirenes de alarme dirigiram-se depois ao Federal Reserve (equivalente ao Banco Central) e ao Departamento do Tesouro (equivalente ao Ministério da Fazenda).

Após intensas reuniões e conversas telefônicas, o Federal Reserve injetou 55 bilhões de dólares nos bancos dos EUA e outros 180 bilhões nos bancos centrais de todo o mundo, com o objetivo de estabilizar os mercados financeiros. Essa ajuda e mais aquela dirigida ao American Insurance Group e às companhias hipotecárias Freddie Mac e Fannie Mae serão suficientes para conter a crise?

Os especialistas duvidam e insistem que a única solução a longo prazo é uma regulação mais estrita dos mercados financeiros. Essa é a posição, por exemplo, dos jornalistas especializados em economia da revista Time e do jornal The Washington Post, dois dos meios de imprensa mais influentes do país. “O temor se generalizou agora por que os mercados financeiros e muitas instituições de crédito não mostraram, durante anos, nenhum temor. Waal Street não tinha porque se preocupar com o tema das regulações”, escreveram Andy Server e Allan Sloan, da Time.

O The Washington Post acusou o governo de não controlar as maquinações das companhias Fannie Mae e Freddie Mac, cuja eminente quebra desatou a crise na semana passada. O resgate pelo Estado custou aos contribuintes bilhões de dólares. O Centro para o Progresso dos Estados Unidos, instituição acadêmica com sede em Washington, também atribuiu boa parte da responsabilidade à falta de regulações.

A “política de não-intervenção” do presidente George W. Bush “foi o que impulsionou a crise atual”, criticou a entidade. “Após sete anos e meio no cargo, os reguladores do governo Bush não reconheceram como a débâcle atual poderia ter sido evitada com um controle mais efetivo dos mercados financeiros, nem entendem que a resolução desta crise começa com os proprietários de habitações individuais”, escreveu Andrew Jakabovjcs no site do centro.

Ondas de finanças predadoras
O professor de economia, James K. Galbraith, da Universidade do Texas, explicou que “a desregulação tem sido parte do credo do público e do setor cidadão” desde a presidência de Ronald Reagan (1981-1989). Durante o governo Bush, o hoje ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, lançou “ondas de finanças predadoras” no mercado imobiliário, no que foi acompanhado do principal assessor econômico do candidato presidencial republicano John McCain, Phil Gramm, “e pelos autodenominados reguladores que sistematicamente subverteram o interesse público”, acrescentou Galbraith.

Reagan gostava de ilustrar sua política desreguladora com a frase “o governo não é a solução, mas sim o problema”. O ex-presidente, falecido em 2004, eliminou os controles governamentais sobre uma ampla gama de instituições e instrumentos financeiros, em consonância com sua fé no livre mercado, compartilhada pela maioria de seus correligionários no Partido Republicano.

A aprovação, em 1999, da Lei de Modernização de Serviços Financeiros, proposta pelos legisladores republicanos Phil Gramm e Jim Leach, eliminou controles financeiros impostos desde os tempos de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), o presidente que pôs fim à crise de 1929. Roosevelt proibiu a fusão entre empresas do setor bancário, de intermediação financeira e de seguros. O Serviço de Investigações do Congresso legislativo desaprovou os projetos desreguladores. Apesar disso, a maioria republicana conseguiu impô-los em 1999. Menos de dez anos depois, as conseqüências estão aí. A maioria dos analistas resiste em fazer prognósticos para o futuro, mas concordam que a turbulência e as tragédias familiares continuarão no médio prazo.

A especialista Nomi Prins, que trabalhou em empresas financeiras como Bear Sterns, Lehman Brothers e Goldman Sachs, reclama reformas urgentes. “Só se poderá consertar o que está torto com medidas radicais e com uma regulação decisiva”, sentenciou. A complexidade das instituições criadas pelas fusões à raiz da reforma de 1999 impede o controle por parte do Estado, advertiu. O Federal Reserve, por exemplo, não tem entre suas funções a supervisão do mercado de seguros.

Nas medidas tomadas por Washington na última semana não há diálogo nem estratégia, disse Prins a IPS. “Façam o que façam os políticos, nossa sociedade será mais pobre do que antes, porque o crédito será mais difícil de obter e os estadunidenses deverão aprender a viver com seus salários”, observaram Server e Sloan, na Time. “Durante um ano, o Federal Reserve e o Departamento do Tesouro acreditaram nos mercados com a esperança de que o sistema se recuperasse por si mesmo. Isso não aconteceu e o colapso do Lehman Brothers deve marcar o fim desse enfoque”, concluíram.


 
 

 

Fonte: Carta Maior
Última atualização: 22/09/2008 às 16:12:00
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras

Comente esta notícia

Nome:
Nome é necessário.
E-mail:
E-mail é necessário.E-mail inválido.
Comentário:
Comentário é necessário.Máximo de 500 caracteres.
código captcha

Código necessário.
 

Comentários

Seja o primeiro a comentar.
Basta preencher o formulário acima.

Rua Nossa Senhora dos Remédios, 85
Benfica • Fortaleza/CE CEP • 60.020-120

www.igenio.com.br