Durante a entrevista concedida ao Diário do Nordeste, publicada na edição de ontem, o presidente Lula da Silva reafirmou o propósito de mudar a face do Nordeste. Particularizou as duas vertentes de atuação do governo federal para alcançar essa meta: garantir investimentos em infra-estrutura, que criem as bases de competitividade econômica para o desenvolvimento da Região; e dar de forma efetiva o apoio às populações socialmente mais vulneráveis.
Em relação ao Ceará, o presidente da República destacou o projeto da nova refinaria Premium II, da Petrobras, um investimento de R$ 11,1 bilhões, além de R$ 18,4 bilhões, à conta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em obras de infra-estrutura, nelas incluídas as do Porto de Pecém. O governante mencionou, ainda, projetos privados capazes de transformar a região.
De fato, o Nordeste, antes de ser apontado como região-problema, deve ser visto pela potencialidade de suas riquezas. O semi-árido regional é o mais biodiverso do mundo, protegido por vegetação resistente à falta d´água, com recursos para combater até a fome crônica.
Disseminado por 734 mil quilômetros quadrados, o Polígono das Secas conta recursos naturais exclusivos: 932 espécies de plantas, 143 mamíferos, 510 árvores e 239 espécies de peixes. Há, entretanto, necessidade, de difusão tecnológica e de preparação de recursos humanos para operar as transformações necessárias ao seu aproveitamento econômico e social.
Para o pesquisador Iêdo Bezerra de Sá, da Embrapa Semi-Árido, “tudo o que é retirado da mata é feito de modo extrativista, sem controle. Faltam incentivos para a domesticação das plantas e sua produção em larga escala.´ A botânica Ana Maria Giulietti, da Universidade Estadual de Feira de Santana, vai mais adiante: “A melhor maneira de resolver os problemas é usar nossas próprias plantas, mas o povo se acostumou com arroz, feijão e farinha.”
A crise internacional dos combustíveis fósseis possibilitou a oportunidade de modificações sensíveis na estrutura de produção agrícola do Nordeste, sem violência, sem invasão de terras. Contemplando a região, a Petrobras investirá nos próximos quatro anos US$ 1,5 bilhão para alcançar a meta de produção de 940 milhões de litros de biodiesel, a cada ano.
A subsidiária Petrobras Biocombustível será responsável também pelos Complexos Bioenergéticos, empreendimentos de produção de etanol voltados para o mercado externo, em parceria com produtores brasileiros e estrangeiros. Para atender à demanda de matérias-primas para essa nova matriz do combustível verde, há necessidade de maior impulso nos programas estaduais de agricultura familiar voltados para o cultivo de oleaginosas como girassol, mamona e algodão.
O Nordeste começa a experimentar mudanças significativas induzidas pelos investimentos públicos e privados nessa área. Essas conquistas precisam ser consolidadas, de modo a que não sofram paralisações ou retrocessos, como aconteceu no passado.
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