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Saiu na Imprensa

  04/08/2008 

Euforia do desenvolvimento

Manfredo Oliveira
Vivemos em clima de euforia: em nível nacional o PAC, em nível local o anúncio de obras fundamentais parecem anunciar uma reviravolta extremamente significativa da vida societária de nosso Estado. Equipamentos como a Refinaria, a Siderúrgica, a Zona de Processamento de Exportação (ZPE), exploração de urânio e fosfato em Itataia, a usina de energia solar dos Inahmuns, os parques de energia eólica, os novos empreendimentos na esfera do turismo, a nova estrutura do Porto do Pecém, as novas obras de infra-estrutura inclusive os grandes projetos do Governo Federal como a Transnordestina e a Transposição do Rio São Francisco, projetos na área da educação e da cultura, tudo dá a entender que o Ceará está preste a dar um passo grande e decisivo na direção de se tornar uma sociedade moderna, industrializada, deixando definitivamente para trás a imagem de miséria e pobreza que sempre povoou o imaginário dos cearenses.

Certamente este clima de entusiasmo e esperança é muito importante numa sociedade que foi historicamente marcada por um certo complexo de inferioridade em virtude mesmo de ter consciência de ocupar os últimos lugares entre os estados brasileiros no que diz respeito às condições de crescimento econômico e de condições vida de sua população. No entanto, diante desta "revolução", uma pergunta irritante se faz inevitável: onde fica o ser humano em tudo isto? Certamente ocorrerão grandes transformações na vida das pessoas a começar pelos deslocamentos na direção da Região Metropolitana onde estarão concentradas as grandes plantas industriais. Faz-se aqui antes de tudo necessária a superação do mito do progresso inevitável: o crescimento econômico promove a igualdade por toda parte onde ele funciona plena e livremente. Numa palavra, o crescimento conduziria inevitavelmente a uma equalização gradual das condições de vida e de oportunidade de progresso social o que por sua vez leva ao suprimento das necessidades de uma massa crescente de consumidores, elevando os níveis de emprego.

O cenário, no entanto, pode ser e normalmente tem sido outro: a precarização do emprego, a estagnação dos níveis de renda e a continuidade de sua má distribuição, o aumento da concentração da propriedade e o encarecimento dos serviços públicos essenciais constituem as características básicas da situação de exclusão social produzida por um modelo de desenvolvimento que não converte o social em seu eixo. A exigência ética que aqui se impõe consiste em orientar todo o processo na consciência de que um desenvolvimento verdadeiro não se pode limitar à multiplicação de bens e serviços, mas deve contribuir para o ser do ser humano, ou seja, realizar-se assim que as instituições básicas que promovem o desenvolvimento estejam a serviço do desenvolvimento integral da pessoa humana.

Trata-se na configuração da via coletiva acima de tudo, como já os gregos perceberam, de uma questão de justiça, isto é, da organização da vida coletiva de tal modo que tudo esteja a serviço da dignidade da pessoa humana uma vez que esta constitui o fim último da vida societária. A conseqüência imediata é que a ordem social e seu progresso devem ordenar-se incessantemente ao bem das pessoas uma vez que a organização das coisas deve subordinar-se à ordem das pessoas e não o contrário. Isto implica levar e em consideração antes de tudo a vida das pessoas e os meios necessários para mantê-la dignamente, ou seja, planejar, o processo de desenvolvimento de tal modo que os programas sejam orientados pela consciência de que deve prevalecer o valor de cada ser humano e de suas necessidades de vida. De forma alguma a pessoa humana pode ser simplesmente instrumentalizada em função do aumento da produção da riqueza e do lucro.

MANFREDO OLIVEIRA
Doutor em Filosofia. Professor da UFC


Fonte: Jornal O Povo
Última atualização: 04/08/2008 às 14:22:00
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