A combinação de um custo de captação mais elevado e o aumento da margem cobrada pelos bancos fizeram com que o juro médio passasse de 37,6% ao ano em maio para 38% ao ano em junho, o maior nível desde abril de 2007. A avaliação foi feita pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes. A despeito da alta dessas taxas, o volume de empréstimos continua crescendo. As operações de crédito do sistema financeiro tiveram uma expansão de 33,4% no acumulado dos últimos 12 meses até o mês passado. Na comparação com maio, os empréstimos tiveram expansão de 2,1% em junho. Com a variação do mês passado, o estoque dessas operações aumentou de R$ 1,044 trilhão em maio para R$ 1,067 trilhão em junho.
No acumulado de 12 meses até junho, o juro médio contabilize aumento de 1,3 ponto percentual. Segundo Lopes, a alta da taxa Selic, iniciada em abril, determinou parte desse aumento. Isso acontece porque a alta do juro básico eleva o valor pago pelos bancos para captar recursos que serão, posteriormente, emprestados ao mercado.
A taxa média foi influenciada, principalmente, pelo comportamento dos empréstimos para as pessoas físicas. Nessas operações, a taxa passou de 47,4% ao ano em maio para 49,1% ao ano em junho e também atingiu o mesmo nível de abril de 2007, quando também estava em 49,1% ao ano. Nos últimos 12 meses até junho, essas operações acumulam aumento da taxa de 1,3 ponto percentual.
Nas operações para as empresas, o juro seguiu tendência contrária e houve redução de 26,9% ao ano para 26,6% ao ano, na passagem de maio para junho. Mas, no acumulado em 12 meses até o mês passado, a tendência também é de alta e o juro subiu 2,9 pontos porcentuais no período.
O spread bancário, diferença entre a taxa de captação dos bancos e de empréstimo, nas mesmas operações, permaneceu em 24,5 pontos percentuais em junho, igual patamar de maio. No crédito para empresas, o spread caiu 0,6 ponto, de 14,5 pontos para 13,9 pontos. Nos empréstimos para pessoas físicas, houve redução acumulada de 2,4 pontos e para as empresas, aumento de 1,3 ponto percentual.
A taxa de inadimplência nas operações de crédito do sistema financeiro caiu de 4,3% em maio para 4% em junho. No período acumulado dos últimos 12 meses até junho, a parcela dos empréstimos com atraso superior a 90 dias acumula redução de 0,7 ponto percentual.
CRÉDITO: Consumidor amarga juros de 135%
Taxas de juros ao consumidor são tão pesadas que alta da Selic não deve ter forte efeito no crédito, diz especialista. Entre as duas pontas - Selic e mercado - a variação chega a 1.000%. Nas operações de pessoa física, as taxas de mercado atingem, em média, 135,27% ao ano
Dizer que nunca se viu tanta oferta de crédito e tanta facilidade para comprar não é novidade. Tampouco é notícia de última hora que o brasileiro paga caro por isso. Com taxas de juros abusivas, que traduzem a essência da lógica capitalista, os aumentos da Selic já estão embutidos, com folga, nos juros praticados pelo mercado. De acordo com Miguel José Ribeiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a diferença entre a taxa básica de juros e as cobradas ao consumidor é muito grande. "Na média da pessoa física, (as taxas) atingem 135,27% ao ano, provocando uma variação de quase 1.000% entre as duas pontas ", diz.
Por isso mesmo, Ribeiro acredita que a tentativa do Governo de frear o consumo com o aumento da taxa básica de juros (Selic) deve ser frustrada. "Não é a alta da Selic que vai fazer com que o consumidor deixe de comprar. Serão só alguns centavos ou reais a mais na prestação", explica.
Para ele, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em fixar a taxa em 13% ao ano sinaliza que o Banco Central (BC) pode estar esperando uma inflação maior. "Psicologicamente, (a alta em 0,75 pontos percentuais) é mais negativa, mas na prática o efeito continua sendo muito pequeno. Não é isso que vai fazer com que o consumidor deixe de comprar a sua casa, o seu carro ou a sua geladeira financiada", reforça.
Para ilustrar a afirmação, a Anefac realizou algumas simulações do efeito da alta da Selic nas operações de crédito no mercado. Se a taxa básica de juros tivesse ficado em 12,75% ao ano, por exemplo, a taxa de 6,09% ao mês cobrada no crediário de uma loja passaria para 6,13% ao mês. Na compra de uma geladeira por R$ 800, financiada em doze vezes, a prestação que era de R$ 95,89 por mês passaria a R$ 96,10. O valor total pago pelo produto passaria de R$ 1.150,68 para R$ 1.153,20. Ou seja, uma diferença de R$ 0,21 na prestação ou de R$ 2,52 no total.
Considerando a taxa de 13% ao ano fixada pelo BC, a taxa de 6,09% ao mês cobrada no crediário de uma loja passaria para 6,15% ao mês. A prestação do financiamento de uma geladeira de R$ 800 passaria de R$ 95,89 para R$ 96,21. O valor total pago pela geladeira teria uma diferença de R$ 3,84, pois passaria de R$ 1.150,68 para R$ 1.154,52. A prestação teria um aumento de R$ 0,32.
|