As estatísticas retratam sempre o Nordeste com índices negativos, seja na produção econômica, seja em aspectos socioculturais. No Produto Interno Bruto, na distribuição da renda ´per capita´, nas matrículas escolares, na saúde pública, na alimentação e nutrição, as piores situações se localizam no Nordeste, campeão da taxa de analfabetismo.
No entanto, surge um fato singular, capaz de marcar o início de mudanças sensíveis no perfil econômico e social da região. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) constatou haver caído, neste ano, a desigualdade regional em relação ao consumo de energia. Pela primeira vez, o Nordeste aparece num quadro de resultados positivos ao superar o consumo residencial da região Sul.
Dois fatores se destacam nesse lance até então imprevisto: o semi-árido tem população superior ao Sul, contrastando com a renda daquela região expressivamente maior do que a nossa. De todo modo, maior consumo energético significa maior poder aquisitivo, expansão dos serviços e maior giro comercial em face do incremento da renda.
A própria EPE tem uma versão para justificar essa transformação, embora pontual, da expansão nordestina no consumo energético: a aceleração no rendimento do trabalho e nas transferências diretas de renda, como a operada pelo programa Bolsa Família. Esse fato se conjuga com outro programa de relevância social, o “ Luz para Todos”, responsável pela inclusão de milhares de nordestinos, espalhados pelas áreas rurais, no consumo regular de energia elétrica.
Tendo maio como referência, nos últimos doze meses, o consumo de energia, no Nordeste, onde estão 27,9% dos habitantes, atingiu 15,4 mil GWh. Este resultado se projeta acima dos15 mil GWh da região Sul. Lá residem 14,7% da população brasileira. Essa tendência de aumento começou a se processar em 2003, corrigindo defasagem habitual até se nivelar em 2007.
As disparidades econômicas são responsáveis pelo distanciamento das duas regiões. O Nordeste, com quase o dobro da população do Sul, sempre conservava o quadro de crescimento desacelerado, incapaz de queimar etapas e de se aproximar dos padrões acelerados de crescimento do Centro-Sul.
Nos últimos anos, mudanças estruturais foram captadas pela Pesquisa Nacional por Amostragem, do IBGE, como resultado da alta real de 35% do salário mínimo desde 2003 e do aumento estimado em 23% para o rendimento médio do trabalho no Nordeste. No Sul, ele chegou a 13,4% e no Sudeste a 9,8%. Como no Nordeste a maioria dos trabalhadores ganha salário mínimo, o impacto na ampliação da renda regional é mais sensível.
O acerto da partilha desse mecanismo, advindo com o Bolsa Família, possibilitou a liberação de R$ 24,5 bilhões no período analisado. Como o Nordeste concentra o maior contingente de pobres, a maior fatia desse bolo ( 53%) ficou na região, permitindo, desse modo, a melhoria do consumo, incluindo o energético. A redistribuição de renda é visível.
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