É usual os governos construírem grandes estruturas sem planejar como serão operados
Com a crise na economia, a realidade financeira se impôs, e diversas políticas públicas estão sendo suspensas e repensadas. Nos últimos dias, o País ficou estarrecido com o desligamento do supercomputador Santos Dumont por falta de dinheiro para pagar a conta de energia. O equipamento, que custou R$ 60 milhões, consome cerca de R$ 500 mil por mês de energia e não há orçamento para bancar seu funcionamento.
A situação reflete uma má cultura da gestão pública brasileira: falta de planejamento. É usual os governos comprarem equipamentos caríssimos e construírem grandes estruturas sem planejar como serão operados e com que recursos serão mantidos. O resultado são “elefantes brancos” que se espalham pelo País. O Ceará está repleto deles. Os tatuzões, o Acquario e o Centro de Formação Olímpica (CFO) são alguns notórios exemplos.
A mesma situação tende a ocorrer com a obra da transposição do São Francisco. O Governo projetou, levantou recursos para a construção, iniciou a obra, atrasou-a por anos, injetou mais recursos do que o previsto, mas, em breve, será finalizada. A questão não cessa com as águas, que antes despejavam do Atlântico, escorrendo pelos canais e irrigando parte do semiárido. É preciso operar e gerenciar esse grande e caro equipamento.
Funcionários em turno de 24 horas, eletricidade para acionar as potentes bombas, reparos constantes dos equipamentos e uma ampla lista de outros custos de manutenção são necessários para manter a transposição cumprindo com seus nobres objetivos. O Ministério da Integração estima que esse custo deva ultrapassar os R$ 500 milhões ao ano.
A obra está perto de ser finalizada, mas, até aqui, não foi estudada a forma de gerenciá-la. Muito provavelmente, restará o improviso ou a entrega desse bem, praticamente de mão beijada, para a inciativa privada tomar conta e cobrar do setor público pelo serviço, numa versão distorcida da inteligente invenção britânica chamada Parceria Público-Privada.
A falta da cultura do planejamento, aliada à improvisação e à incompetência, explica boa parte das mazelas brasileiras. Romper com essa má cultura é uma imposição para viabilizar o País.
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