Desde a falência da Usina Ouricuri, no início da década de 90, o local tem sido palco de conflitos causados pela disputa por terras
As 80 famílias do Acampamento São José, que faz parte das terras da antiga Usina Ouricuri, na Fazenda São Sebastião, em Atalaia (AL), receberam a solidariedade de diversos movimentos populares e sindicais e conseguiram suspender o despejo forçado que estava marcado para esta segunda-feira (15).
As tropas da Polícia Militar, organizadas em cavalarias, carros-pipas e ambulâncias para efetuar o despejo não foram suficientes para deter a resistência, formada por movimentos como a Comissão Pastoral da Terra (CPT); o Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL); a Via do Trabalho; o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), além de forças sindicais como representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
O MST fez diversas tentativas de mediações com as instâncias do poder público, atentando para a justiça social com as famílias acampadas no território. O despejo dos trabalhadores está baseado em um suposto usucapião da terra, em nome da família do antigo e já falecido arrendatário da Usina Ouricuri, Pedro Batista.
Entretanto, o próprio Ministério Público Federal, segundo o Movimento, critica a possibilidade da reintegração de posse à família requerente. O julgamento da ação rescisória sobre o tema, em tramitação no Tribunal de Justiça (TJ-AL), alimenta as esperanças das famílias que vivem atualmente nas terras.
Por enquanto, “o alerta permanece”, segundo José Roberto, da direção nacional do MST. “Toda essa capacidade de organização para resistir das famílias e de solidariedade que recebemos dos demais movimentos de luta pela terra e dos companheiros da cidade somente reforçam o sentimento de continuar a luta pela reforma agrária, pelo acesso à terra e aos direitos”, disse.
Contexto
Os trabalhadores rurais de Atalaia já estão preparados para o enfrentamento e acostumados com a resistência. Desde a falência da Usina Ouricuri, no início da década de 90, o local tem sido palco de conflitos causados pela disputa por terras.
A primeira ocupação na fazenda São Sebastião aconteceu em 2004 e foi marcada pelo assassinato do dirigente estadual do MST, Jaelson Melquíades, executado a tiros a mando de fazendeiros da região, em 29 de agosto de 2005. O caso permanece impune.
“É uma triste constatação: saber que a mesma polícia que em mais de uma década não consegue resolver um crime de assassinato político do nosso companheiro, rapidamente se mobiliza para retirar violentamente as famílias da terra”, afirmou Débora Nunes da coordenação do MST.
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