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Saiu na Imprensa

  04/01/2016 

Meio Ambiente - "Não estamos cabendo na biosfera", segundo adverte professor da Unicamp

São tempos de crise, também, ambiental. A instabilidade que vai além de momentos político-econômicos conturbados foi tema da conversa do O POVO com o historiador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Marques. No último mês de dezembro de 2015 ele esteve em Fortaleza para lançar o livro “Capitalismo e colapso ambiental”, no qual defende que a degradação do meio ambiente está relacionada ao sistema capitalista. Marques fala sobre o livro e sobre a tragédia ambiental em Mariana, Minas Gerais, que aconteceu há quase dois meses, mas continua gerando consequências.
 
Confira os principais trechos da conversa dele com O POVO. (Letícia Alves - Especial para O POVO)
 
OPOVO - O senhor lançou um livro chamado “Capitalismo e colapso ambiental”. Qual é a ideia central dele??
 
Luiz Marques - A ideal central do livro é basicamente que o sistema capitalista é incompatível com uma sociedade sustentável, ele leva, necessariamente, pelo seu próprio funcionamento celular, que é o de ser expansivo, a um colapso. Por mais benéficos que sejam todos os esforços para conter as crises ambientais, que são múltiplas, ele poderão, no máximo, retardar o colapso ambiental, mas não revertê-lo. A única maneira que temos de reverter essa tendência é mudarmos de paradigma da sociedade, superarmos aquilo que nós comumente chamamos de capitalismo.
 
OP - Qual seria o sistema ideal?
Luiz Marques - Acho que não existe um sistema ideal. Não existe solução, mas existe uma coisa que temos que entender: a sociedade tem que caber na biosfera. Nós não estamos cabendo na biosfera. Ela está sendo destruída pela atividade humana e econômica. Significa que nós temos que redefinir qual é o patamar mínimo de energia que é necessário para que sejamos civilizados.
 
OP - O senhor tenta pensar em possíveis soluções no livro?
 
Luiz Marques - O que eu proponho na conclusão do livro são apenas algumas sugestões, o livro pensa um diagnóstico do problema e não uma terapia do problema, eu acho que uma das soluções necessárias, uma iniciativa institucional fundamental, é o abandono da ideia de soberania nacional absoluta. Não é porque o Brasil tem a maior reserva florestal de florestas tropicais do mundo que ele tem o direto de cortar essa floresta. Isso tem que ser abandonado em proveito de uma governança global ou de uma soberania compartilhada. Subordinar os interesses nacional aos interesses da humanidade. A segunda questão seria criar uma estrutura que tenha poder de veto sobre as decisões estratégicas de investimento, e essa estrutura que seria necessariamente internacional seria composta de membros da sociedade civil, do estado e também de cientistas e também representantes das gerações vindouras e das espécies não-humanas.
 
OP - O Brasil vive uma das maiores, talvez a maior, tragédia ambiental de sua história, que acontece em Mariana. Na opinião do senhor, o que isso representa para o Brasil e o que o Brasil pode aprender com esse momento?
 
Luiz Marques - É lamentável que tenha que ter havido uma tragédia nessas proporções para que a gente possa aprender alguma coisa. Mas o que é mais trágico é que talvez não aprendamos nada com isso. Quando nós falamos em Samarco, que é a empresa diretamente responsabilizada, nós sabemos que ela é criada por dois grandes conglomerados, e um deles é a Vale. Se fizermos uma análise do que é a Vale, veremos que a privatização que ela sofreu não foi verdadeiramente uma privatização. Quem controla a Vale são o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o fundo de pensão do Banco do Brasil (BB), além de uma empresa japonesa e o (Banco) Bradesco. Na verdade, a Vale é a expressão de uma nova aliança entre o Estado e uma grande empresa, que eu chamo no livro de “estado-corporação”, um estado empresarial. De tal maneira que eu não vejo como o Estado brasileiro possa reagir contra uma reação que ele mesmo criou e de cujos frutos ele depende. Quando o governo fala que vai impor uma multa para a Samarco ele está dizendo que ele é o réu desta multa.
 
OP - O que essa tragédia mostra para a sociedade brasileira?
Luiz Marques- Ela mostra que a sociedade brasileira não está munida de uma estrutura institucional capaz de protegê-la. É preciso que a sociedade brasileira se dote de novos instrumentos que sejam capazes de regulamentar a atividade mineradora, por exemplo. Até quando nós acharmos que a atividade mineradora e agropecuária, por exemplo, são vetores do nosso próprio bem-estar, nós seremos vítimas cada vez maiores e mais diretas das consequências dessas atividades, que serão cada vez maiores até o momento em que elas serão irreversíveis.
 
OP - Essas tragédias ambientais acontecem de tempos em tempos. Como podemos enxergá-las de uma forma mais ampla a fim de pensar numa forma preventiva?
 
Luiz Marques- Existem duas coisas. Primeiro lugar, você pode ter um conjunto de medidas regulatórias muito mais severas, que imponham as empresas uma tal capacidade de punição que elas pensem duas vezes antes de fazerem o que estão fazendo. Mas para que isso aconteça, é necessária uma certa autonomia dos governos em relação às empresas, coisa que não acontece nem no Brasil, nem nos países do mundo inteiro. A outra coisa é que a sociedade tem de levar em consideração que se nós estivermos dependendo de uma expansão das taxas de produção e consumo de energia, de minérios, de carne, para o nosso bem-estar, certamente, por melhor que seja a regulamentação, cedo ou tarde vamos encontrar problemas que são esses que temos encontrado agora, mas numa escala bem maior.
 
 
(PODEREMOS) NO MÁXIMO, RETARDAR O COLAPSO AMBIENTAL, MAS NÃO REVERTÊ-LO. A ÚNICA MANEIRA DE REVERTER ESSA TENDÊNCIA É MUDARMOS DE PARADIGMA DA SOCIEDADE, SUPERARMOS AQUILO QUE NÓS COMUMENTE CHAMAMOS DE CAPITALISMO
Fonte: Portal O POVO Online
Link: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2016/01/04/noticiasjornalpolitica,3556522/nao-estamos-cabendo-na-biosfera-segundo-adverte-professor-da-unicamp.shtml
Última atualização: 04/01/2016 às 13:33:45
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