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Saiu na Imprensa

  01/10/2015 

Mundo - Jeremy Corbyn: 'Queremos solidariedade'

Jeremy Corbyn redefiniu o trabalhismo e a esquerda britânica em seu primeiro discurso no congresso anual do partido, transmitido ao vivo para todo o país. Nessa espécie de cadeia nacional que são os congressos partidários, que definem a agenda política britânica dos próximos doze meses, Corbyn enterrou o “Novo Trabalhismo” de Tony Blair, ao anunciar que seguirá defendendo a estatização das ferrovias, que estenderia os direitos sociais a milhões de trabalhadores autônomos, que pretende combater as políticas de austeridade e promover uma nova política exterior baseada nos direitos humanos.
 
Com a imprensa conservadora hegemônica apresentando-o como um Lenin britânico decidido a demolir o Palácio de Buckingham, com a direita de seu próprio partido flutuando entre o estupor, a expectativa e a conspiração, Corbyn adotou um estilo que Michael White – um analista não corbynista do diário local The Guardian – definiu como “a calma zen perante as tormentas”. Mas o novo líder trabalhista está longe do ser o raivoso revolucionário decidido a lançar uma emboscada marxista contra o parlamento e o nº 10 da Downing Street (a imprensa adotou um tom desavergonhadamente macartista nas últimas semanas), e passou a ser como um Mahatma Gandhi, que responde aos ataques com bom humor e sem renunciar às suas convicções, propondo uma política mais amável, baseada no respeito mútuo e no debate de ideias.
 
Corbyn usou a estratégia gandhiana contra a investida midiática e falou de um patriotismo baseado na solidariedade e em medidas inclusivas. “Não queremos uma sociedade na qual as pessoas cruzam a rua quando encontram alguém em dificuldades. Queremos solidariedade, respeito do ponto de vista dos outros. Queremos `fair play´, um valor fundamental dos britânicos, uma das razões pela que amo este país e o seu povo. Me elegeram para defender esses princípios: uma política mais amável e uma sociedade mais bondosa”, explicou Corbyn.
 
A mensagem pode parecer banal, ingênua ou abstrata, mas é uma maneira de redefinir o patriotismo depois da abusiva catarata de críticas que recebeu por não pronunciar o “God Save the Queen” (Corbyn é um republicano num país monárquico) num ato público (embora seja discutível se a canção pode ser mesmo considerada um hino nacional, já que não se trata de uma resolução do Parlamento). O líder trabalhista ancorou o patriotismo na solidariedade e na ética do fair play, e aproveitou para responder a outra crítica: que a sua mensagem não incluiria os que aspiram a melhorar seu padrão de vida com o próprio esforço. “Queremos que os trabalhadores autônomos tenham direito a licença por paternidade e maternidade, e que tenham cobertura social em casos de doença. O trabalhismo criou o estado de bem-estar. Esse estado que tem que ser para todos”, assegurou Corbyn.
 
Cerca de quatro milhões e meio de trabalhadores (um de cada sete) são autônomos, algo que, segundo os conservadores, mostra o espírito empreendedor dos britânicos, embora muitos sejam microempresas montadas pela falta de outros empregos, como se percebe ao analisar a renda média dos mesmos, muito abaixo da metade da média nacional. Corbyn buscou entregar a mesma mensagem modernizadora às pequenas e médias empresas, a quem disse que apoiará com a proposta de criação de um Banco de Desenvolvimento, e o investimento em infraestrutura e num programa de moradia.
 
No mesmo discurso, o líder trabalhista apontou que os direitos humanos deveriam estar no centro da política exterior britânica, tanto no caso da Síria como no dos refugiados, e desafiou primeiro-ministro David Cameron a exigir de um dos grandes clientes da poderosa indústria armamentista britânica, a Arábia Saudita, que impeça a crucificação e decapitação de Ali Mohammed Anama, um ativista de 16 anos que teve o atrevimento de participar de uma manifestação.
 
Corbyn não esquivou os temas conflitivos, e voltou a rechaçar a renovação do sistema nuclear Trident que “custará 100 bilhões de libras, um quarto do orçamento direcionado à Defesa”. Mas o tom do seu discurso foi inclusivo quando falou sobre as outras facções do partido, com elogios abertos aos três candidatos que derrotou nas eleições internas do dia 12 de setembro. Nesse sentido, com uma postura claramente conciliadora, Corbyn criticou a decisão de ir à guerra contra o Iraque, mas não pediu perdão publicamente aos britânicos, algo que poderia reabrir as feridas com o blairismo e os parlamentares trabalhistas – a maioria apoiou a invasão e a derrubada de Saddam Hussein. Ainda assim, cedo ou tarde, o trabalhismo terá que encontrar uma saída às profundas diferenças internas entre corbynistas e blairistas, seja sobre o sistema Trident ou o possível bombardeio ao Estado Islâmico na Síria.
 
O impacto do corbynismo no país ainda é um enigma. A imprensa conservadora decidiu há muito tempo que o atacará com todo o seu arsenal, independente do que ele diga ou deixe de dizer. Com bastante humor, Corbyn começou seu discurso se referindo à imprensa. “Vocês devem ter notado que alguns jornais se interessaram no que eu fazia nestas duas primeiras semanas tão tranquilas que eu tive. Segundo uma manchete, `Jeremy Corbyn deu as boas vindas à possibilidade de que um asteroide apague a humanidade da face da terra´. "Como os asteroides são tão controversos, eu não gostaria que este congresso adotasse uma política sobre o tema sem ter um debate profundo a respeito", comentou entre risos e aplausos do auditório – que depois se transformaram em gargalhadas, quando Corbyn citou o Daily Express e sua descrição da bicicleta que usa para ir ao parlamento como “uma bicicleta estilo `presidente Mao Tse Tung´”.
 
Essa ofensiva midiática continuará. A imprensa conservadora teme o impacto que as ideias de Corbyn têm sobre a população e a possibilidade dele superar a muralha comunicacional e reabilitar a oposição. As primeiras opiniões analisadas pela BBC flutuam entre os que pensam que ele é “inelegível” (numa eventual disputa para o cargo de primeiro-ministro, em 2020) ou “vive no mundo da lua”, e os que acham que é “uma esperança” e uma “nova voz”. Em temas econômicos e sociais, o trabalhismo melhora sua imagem a partir deste congresso, com uma mensagem reformista e renovada. Em temas internacionais e de defesa, tão sensíveis num país com duas guerras mundiais no histórico, um ex-império e a segunda indústria militar do planeta, a coisa é mais complicada. Em termos concretos, os votos começarão a ser contados só no próximo mês de maio, nas eleições regionais em Gales e na Escócia, além das municipais em Londres, Bristol e diversas cidades inglesas. Nesse momento, poderemos ver melhor o impacto do corbynismo no Reino Unido e sua mensagem para o resto da esquerda na Europa.
 
Fonte: Portal Carta Maior
Link: http://cartamaior.com.br/?/Coluna/Ministro-do-TCU-confessa-casuismo-no-julgamento-das-contas-de-Dilma-Rousseff/34599
Última atualização: 01/10/2015 às 09:48:47
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