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Saiu na Imprensa

  13/05/2015 

Deputados tentam votar às escondidas projeto de lei que beneficia mineradoras

Está anunciado para os próximos dias mais um retrocesso na legislação brasileira no que diz respeito às vidas das comunidades tradicionais e à manutenção dos territórios protegidos. Deputados ligados às grandes mineradoras articulam um golpe para aprovar a qualquer custo o novo Marco da Mineração (PL 5.807/2013 e apensados).  

Se aprovado, o projeto pode paralisar a criação de unidades de conservação e demarcação de terras indígenas, de áreas quilombolas e de assentamentos. É mais uma proposta do conjunto de ameaças aos direitos dos povos e à proteção da biodiversidade – como a PEC 215/2000.  

Nesta semana, enquanto trabalhadores, representantes de movimentos sociais e entidades em defesa dos atingidos e comunidades participavam do Seminário sobre o Marco Regulatório da Mineração, realizado pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, o presidente e relator da Comissão Especial que analisa o tema, Gabriel Guimarães (PT-MG) e Leonardo Quintão (PMDB-MG), articularam às escondidas uma tentativa de votação do projeto de lei.  

Sem nenhum aviso prévio, foi convocada para terça-feira (5) uma reunião da comissão especial – com o intuito de aprovar o substitutivo de Quintão. Mas, ao ser informado sobre a movimentação dos participantes do Seminário, o deputado Gabriel Guimarães decidiu cancelar a reunião.  

Membros do Comitê Em Defesa dos Territórios Frente a Mineração repudiam a tentativa de votação do substitutivo desta forma antidemocrática. Eles denunciam que o setor produtivo ligado às mineradoras teve um espaço ampliado na discussão da nova legislação, enquanto trabalhadores, comunidades e ambientalistas quase não foram ouvidos no debate.  

O PL 5.807/2013, do governo, veio para substituir o atual Código da Mineração que é regulamentado pelo Decreto-Lei 227/67, publicado durante o regime militar. O novo texto não apresenta nenhuma medida com relação às questões de saúde e segurança dos trabalhadores nas minas e muito menos aos enormes impactos socioambientais causados pelas empresas.  

Na avaliação do especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, Aldem Bourscheit, a proposta de novo código da mineração que tramita no parlamento é fruto de mais um processo político precário, no qual o governo alijou do debate a sociedade civil, os atingidos pela mineração e pequenas empresas do setor. “Apenas as grandes mineradoras discutiram a portas fechadas o texto enviado à Câmara em regime de urgência pelo governo, em junho de 2013”, destaca o especialista.  

O relatório de Leonardo Quintão, apresentado na legislatura passada, é ainda mais questionável. O deputado Quintão foi reconduzido ao posto de relator, e já anunciou que espera votar a matéria até o final deste mês. O seu texto mantém dispositivos da proposta original encaminhada pelo Executivo, como a criação da ANM, em substituição ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).  

“O resultado, até agora, é uma proposta ainda mais retrógrada em alguns pontos que o atual Código da Mineração, pois atende exclusivamente o setor privado”, ressalta Aldem Bourscheit. Para o especialista, o Brasil perde uma grande oportunidade de ter uma legislação que proporcione o aproveitamento equilibrado de seus recursos naturais e a manutenção de seu patrimônio humano e ambiental.  

Conforme análise do professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Santos, o substitutivo de Quintão é ainda pior que o texto original do governo. “Em geral, é um código muito anelado aos interesses das mineradoras. E, de qualquer forma, os interesses ambientais e sociais não estão representados ou está muito pouco apresentado em todos os documentos”, afirma o pesquisador.  

Segundo Santos, que é doutor em Sociologia pela UFRJ, o cenário atual ainda é mais preocupante devido à nova composição da Comissão Especial. “Estamos com uma perspectiva de votação muito em breve e a Comissão de Mineração Especial mudou para pior. É um momento defensivo”.  

No entanto, o professor considera extremamente positivo o fato de que os trabalhadores das mineradoras estarem agora no mesmo lado dos movimentos sociais. “Estamos conseguindo construir um diálogo com eles. E a nossa estratégia é criar uma pressão pública para adiar a votação com o apoio dos trabalhadores e da sociedade civil”.  

Em 2013, mais de oitenta organizações da sociedade civil, movimentos sociais, partidos e parlamentares, assinaram uma nota pública contra a apresentação em regime de urgência constitucional, por parte do governo. O texto denuncia a ausência de transparência e debate com a sociedade sobre o tema. Após pressão dos movimentos, o Planalto retirou a urgência do projeto.  

Perfil da mineração X financiamento A grande maioria dos políticos envolvidos nos debates relativos à mineração obteve financiamentos das corporações minerárias. É o caso do presidente da Comissão Especial que analisa o novo Código da Mineração. O deputado Gabriel Guimarães (PT-MG) teve sua campanha financiada por empresas do setor mineral como: Gerdau Comercial de Aços S/A, Concretos Rolim Ltda., Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração e Rima Industrial S/A. A receita total declarada foi de cerca de R$ 3 milhões.  

Leonardo Quintão, relator na Comissão Especial, teve sua campanha financiada por empresas do setor mineral como a Arcelor Mittal Inox Brasil, Ecosteel Indústria de Beneficiamento Ltda, Gerdau Comercial de Aços S/A, LGA Mineração e Siderurgia Ltda e Usiminas Mecânica S/A. A receita total declarada foi de cerca de R$ 2 milhões com quase 20% doado pelo setor mineral.  

Por ter recebido doações de mineradoras, Quintão foi acusado por quebra de decoro parlamentar por organizações de defesa de territórios contra a mineração. A representação elaborada por advogados dos movimentos e do Instituto Socioambiental (ISA), em maio de 2014, afirma que o deputado não poderia ser relator do Marco Regulatório da Mineração, pois teve sua campanha eleitoral financiada por empresas de mineração. No entanto, o processo foi arquivado.   

Nesta nova legislatura estima-se que 89 deputados (de quase todos os partidos) receberam altas doações de empresas mineradoras, um aumento considerável em comparação ao ano de 2010. O que significa que faz parte do lobby a aprovação às pressas do novo Código da Mineração.

Fonte: Portal CSP Conlutas
Link: http://cspconlutas.org.br/2015/05/deputados-tentam-votar-as-escondidas-projeto-de-lei-que-beneficia-mineradoras/
Última atualização: 13/05/2015 às 09:46:42
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