O setor bancário fechou 5.004 postos de trabalho em 2014, mesmo sendo um dos setores que mais lucrou no ano. O saldo negativo foi resultado de 32.952 admissões contra 37.956 desligamentos, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregado (Caged).
Dados da consultoria Economatica apontam que entre as 10 empresas com maior lucratividade no terceiro trimestre de 2014, sete são ligadas ao setor financeiro (cinco são bancos, uma seguradora e uma operadora de cartões de crédito), duas são do setor de alimentos e bebidas e uma de telecomunicações. Os balanços anual e do último período do ano ainda não foram divulgados.
Segundo afirma Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), o fechamento de vagas é um mecanismo de achatamento da média salarial. "É injustificável essa eliminação de postos de trabalho num dos setores mais lucrativos da economia, ostentando os maiores índices de rentabilidade de todo o sistema financeiro internacional", afirma Cordeiro.
Os maiores cortes ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com 1.847, 984, 857 e 587 cortes, respectivamente. O estado com maior saldo positivo foi o Pará, com geração de 290 novas vagas.
A Febraban informa que nos últimos dez anos, o quadro de funcionários do setor bancário passou de 400 mil pessoas para 511 mil bancários em 2014, conforme dados do Ministério do Trabalho (Caged). "A taxa anual de rotatividade de bancários é de apenas 4,5%, considerando os funcionários desligados por iniciativa do empregador e sem justa causa, enquanto a média no Brasil está em 50%, segundo dados do Dieese. Os funcionários de bancos permanecem, em média, dez anos na mesma instituição financeira."
Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) divulgada na segunda-feira (26) pela Contraf-CUT, que faz o estudo em parceria com o Dieese, com base nos números do Caged aponta que além do corte de vagas, a rotatividade continuou alta no período. Os bancos brasileiros contrataram 32.952 funcionários e desligaram 37.956.
A pesquisa mostra também que o salário médio dos admitidos pelos bancos no ano passado foi de R$ 3.374,99 ante o salário médio de R$ 5.338,12 dos desligados. Assim, os trabalhadores que entraram nos bancos receberam valor médio 37% menor que a remuneração dos que saíram.
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), "a diferença de salário médio entre aqueles que recém entraram no setor e aqueles que deixam o banco comprova o êxito da política interna de carreiras praticada nas instituições financeiras".
"Essa diferença [salarial] prova que os bancos privados continuam praticando a rotatividade, um mecanismo cruel utilizado para reduzir a massa salarial da categoria e aumentar ainda mais os lucros", destaca o presidente da Contraf-CUT.
Segundo a Febraban, o setor bancário está entre os setores que mais valorizam a carreira dos profissionais, com uma das maiores médias salariais do mercado. "O salário médio dos bancários ultrapassa os R$ 6 mil, representados não só pela valorização em função da Convenção Coletiva de Trabalho, mas mostra também uma oxigenação nas áreas, em função de promoções de funcionários e da valorização das equipes internas."
Desigualdade entre homens e mulheres
A pesquisa mostra também que mulheres, apesar de terem um grau mais elevado de escolaridade do que os homens, ainda que representem metade da categoria e ganham menos quando são contratadas. Essa desigualdade segue ao longo da carreira.
Enquanto a média dos salários dos homens na admissão foi de R$ 3.805,74 em 2014, a remuneração das mulheres ficou em R$ 2.921,66, valor 23,2% inferior à remuneração de contratação dos homens.
Já a média dos salários dos homens no desligamento foi de R$ 6.017,45 no período, enquanto a remuneração das mulheres foi de R$ 4.4522,87. Isso significa que o salário médio das mulheres no desligamento é 26% menor que a remuneração dos homens.
"Essa discriminação é absurda e totalmente inaceitável. As mulheres têm escolaridade maior, mas enfrentam barreiras para a ascensão profissional em razão do machismo que ainda impera nos bancos", enfatiza Cordeiro.
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