O discurso da juíza baiana Luislinda Valois sobre o racismo, sobretudo contra as mulheres negras e nordestinas, é digna de leitura. Confira!
"Não vou fazer feijoada na casa da branca, vou virar juíza e voltar aqui", disse juíza
A juíza baiana Luislinda Valois emocionou o público que foi prestigiar o segundo dia de apresentações da Semana Esmal da Consciência Negra nesta quarta-feira (17/11). O auditório estava repleto de um público diverso, desde militantes pelas causas das ditas minorias até autoridades do Poder Público alagoano. Com a palestra A Mulher Negra nos Três Poderes da República, a juíza discorreu sobre o racismo, sobretudo contra as mulheres negras e nordestinas.
Luto pelos PPPs, aqueles que são chamados de pretos, pobres e periféricos. Luto pelas mulheres negras e nordestinas porque são as mais discriminadas do País, inclusive, luto pela inclusão de mais mulheres na magistratura, afirmou Luislinda, que foi a primeira mulher negra a exercer o cargo de magistrada, em 1984, e a proferir uma sentença contra o racismo no Brasil.
Em meio a uma palestra emocionante, a magistrada não conteve as lágrimas ao relembrar de um preconceito sofrido por ela quando ainda era criança. A juíza afirmou que seus pais não tinham dinheiro para comprar o material da escola e, por isso, seu professor opinou que seria melhor ela parar de estudar e ir fazer feijoada na casa da branca. Com a voz embargada, Luislinda comentou que saiu aos prantos, mas voltou e respondeu: eu não vou fazer feijoada na casa da branca; eu vou estudar, virar juíza e voltar aqui, relatou, arrancando uma salva de palmas da plateia.
A magistrada também abordou a condição de conformidade dos nordestinos; relembrou o papel de Zumbi dos Palmares para a história dos negros no Brasil; respondeu a questionamentos da plateia sobre a condição vulnerável da mulher negra na pós-escravidão, dentre outras temáticas.
Participar deste momento em Alagoas é algo gratificante, pois aqui é a terra de Zumbi, a terra da Consciência Negra. É marcante na minha vida, mais um passo que dou na luta pelas ditas minorias, afirmou Luislinda, enfatizando que estar neste Estado, onde o Poder Judiciário é comandado por uma mulher, é luxuoso demais.
Histórico Premiado
Luislinda Valois reativou dezenas de Juizados Especiais em municípios da Bahia, criou a Justiça Itinerante - sala de audiência instalada dentro de um ônibus que atende os bairros carentes de Salvador e Feira de Santana - e o Juizado Itinerante Marítimo, que conduz profissionais até as ilhas da Bahia. Coordenou ainda o Balcão de Justiça e Cidadania e levou a lei às comunidades quilombolas e aos índios. Nas horas livres, Luislinda dá palestras em escolas públicas para que os jovens conheçam seus direitos e deveres.
O Programa Justiça, Escola e Cidadania, idealizado por ela, atingiu mais de 5 mil estudantes. Sua militância também se estende à escrita: publicou o livro O Negro no Século XXI, uma reflexão sobre a participação dos afrodescendentes na sociedade atual, lançado na Escola Superior da Magistratura (Esmal) na IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
A magistrada baiana também é vencedora do Prêmio Claudia 2010 na categoria Políticas Públicas".
FONTE: TJ-AL
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