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Notícias

  13/11/2014 

Novembro Azul: Depoimento de quem venceu o câncer de próstata

Conheça a história de Paulo Coelho, o físico e alpinista de 56 anos que venceu o câncer de próstata.

"Ele descobriu o câncer de próstata em 1999. Tratou-se e continua praticando alpinismo com a mulher, Helena. Há 30 anos, eles encaram as montanhas mais altas do mundo. Sem guia, sem tubos de oxigênio, sem carregadores de bagagem. O esforço para escalar os 8.850 metros é a resposta de Paulo ao câncer
 
Escalei o Everest umas oito vezes. A última foi em abril. É a montanha mais alta do mundo. O maior desafio do alpinista, em termos de altitute. Fui com minha mulher, Helena. Sem levar oxigênio extra, sem guia, carregando nossa própria bagagem, do jeito que achamos que é a forma mais correta de subir uma montanha. Chegamos a 8.400 metros de altitute. O Everest tem 8.850. Vamos voltar porque ainda falta um pedacinho a ser feito. Nenhum brasileiro fez o que gostaríamos de fazer. Mas a gente vai continuar tentando. Somos persistentes.
 
O Everest é um grande desafio, mas o câncer é mais difícil que ele. Convivo com a doença desde 1999, quando recebi o diagnóstico depois de fazer exames de próstata. A notícia foi como uma paulada, uma pancada na cabeça. Mas a fé em Deus me ajudou muito. Sou católico. Rezei, fiz tudo a que tinha direito. Só não fiz promessa.
 
A radioterapia e a quimioterapia me deixaram fragilizado. Não apenas fisicamente. Minhas reações psicológicas mudaram. Fiquei depressivo, intolerante, duro. Cheguei a pensar que nunca mais pudesse escalar. Mas, na virada do milênio, fomos para o Aconcágua. Foi difícil para mim, tinha enfrentado uma radioterapia forte algum tempo antes. Mesmo assim, continuei fazendo pelo menos uma escalada por ano.
 
Meu médico é mais que médico. Ele é meu gerenciador de qualidade de vida. Sabe que o esporte é muito importante para mim. Então ele tenta administrar o tratamento de forma que eu não tenha de abrir mão de meu prazer. Se eu não pudesse mais escalar, seria uma perda enorme. Seria como se um grande companheiro tivesse morrido.
 
Quando subo uma montanha, tenho a sensação do gol. É uma realização. O resultado de um ano de treino e planejamento. Volto da escalada, descanso para me recuperar fisicamente e já recomeço a treinar pensando na próxima. É uma coisa sem fim. Às vezes chego ao topo de uma montanha e de lá avisto outra com um caminho legal. Dá uma vontade de terminar aquele serviço e depois já pegar o outro.
 
Na primeira escalada ao Everest depois do tratamento, meu corpo estava fraco. Subi devagar, tive tremores, mal-estar, não cumpri exatamente meus objetivos. Mas não tive medo de morrer ali.
 
Com a montanha, eu consigo negociar. Com o câncer, não. No ano passado, ele voltou. Isso me fez repensar a vida. Passei a encarar tudo com mais serenidade, com mais calma. Vi que não valia a pena me estressar com pequenas coisas. Não sou um Super-Homem, tenho limites. Percebi que o câncer virou um sócio. Um sócio com quem tenho de lidar para o resto da vida. Voltei a tomar os remédios da quimioterapia. Estou tocando numa boa.
 
No Everest, não penso no câncer. Penso na vida. O visual lá de cima é maravilhoso. É estar num ambiente incrível, com pessoas legais do mundo todo. É isso que se leva da vida. Tenho um conhecido que não gosta de tirar retrato. O que interessa para ele é o que fica guardado na memória. Eu também tenho esse modo de encarar a vida. No Everest, convivemos com pessoas de outras culturas, gente do monastério budista ali perto. Escalamos pelo lado do Tibete, que é mais barato.
 
Certa vez, no final de uma expedição, decidimos passar no monastério para doar alimentos. Mas a estradinha desbarrancou no meio do gelo. Nunca vou esquecer da cena dos monges que vieram ajudar. Da alegria deles enquanto trabalhavam. Era uma satisfação genuína. Não estavam felizes por causa da carga. Os monges com aquelas roupas, carregando pedras pesadas, refazendo a estrada numa alegria incrível. Essa experiência me marcou. Se não fosse o alpinismo, eu não a teria vivido.
 
O alpinismo tem riscos. Mas há riscos num monte de coisas na vida. Ainda não sabemos qual montanha será nosso próximo desafio. Só sabemos que teremos um desafio. Certamente vai aparecer algo legal no ano que vem. Não temos patrocinadores. Acho que eles percebem que nosso espírito não é de chegar ao cume a qualquer preço. Nosso estilo é outro.
 
Então juntamos o dinheiro e vamos. Por isso, só podemos saber o destino perto da data da viagem. Só aí podemos saber se vamos conseguir ir ou não. Até hoje fizemos muitas viagens. Gostamos de escalar tanto em rocha quanto em gelo. Estamos sempre escalando por aí. Brasil, Cordilheira dos Andes, Alpes, Himalaia... Enquanto a carcaça estiver agüentando, vou tocando. Quero viver muitos e muitos anos".
 
Fonte: Portal Revista Época
Link: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR80474-8055,00.html
Última atualização: 13/11/2014 às 13:15:36
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