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Saiu na Imprensa

  10/11/2014 

Casos de contaminação da água são mais comuns do que se conhece

A grave crise de abastecimento de água que vem assolando a região metro­politana de São Paulo chamou a atenção do país para um problema que vinha sen­do anunciado há muito tempo. A cres­cente demanda hídrica, seja para o for­necimento de eletricidade, seja para o consumo ou para a produção industrial, aumentou a níveis muito superiores do que as alternativas tradicionais são capa­zes de suprir.

Falar em desertificação talvez seja um exagero. No entanto, o fato obrigou go­vernos e especialistas a buscarem alter­nativas para o abastecimento, e uma de­las é o uso de águas subterrâneas. Para o diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (Cepas), Ricardo Hirata, enquanto países da Europa e da Améri­ca do Norte são fortemente dependentes das águas subterrâneas, no Brasil seu uso ainda é tímido frente à potencialidade de aproveitamento.

Em entrevista concedida à IHU On­-Line, Hirata defende que o uso da água subterrânea de forma mais ampla e in­tegrada aos demais recursos hídricos é uma solução que vem chamando aten­ção do mundo inteiro. “Isso é particular­mente verdade quando analisamos que as cidades que são abastecidas por mais de um recurso de forma integrada e inte­ligente são mais resilientes a problemas de longos períodos de estiagens, como os observados hoje em São Paulo”, destaca.

No entanto, esta alternativa deve ser bem estudada e medidas de suporte de­vem ser tomadas para permitir sua viabi­lidade. Isto porque, ainda que institutos de pesquisas como o próprio Cepas ana­lisem a qualidade destas águas subter­râneas, Hirata reconhece: há muito me­nos casos de contaminação conhecidos do que a realidade apresenta. “Há ainda várias contaminações que carecem de es­tudos, como o nitrato em grandes cida­des, fertilizantes e agroquímicos nas zo­nas rurais e solventes clorados em áreas industriais”, destaca o diretor.

O nitrato é um contaminante pouco tó­xico, mas muito insidioso nas águas sub­terrâneas. É possível afirmar que quase todas as cidades do país sofrem em al­gum grau desse problema, advindo de vazamento da rede pública de esgoto ou da sua ausência, quando a população faz uso de fossas negras. O grande problema é que em áreas onde há algum monito­ramento da qualidade das águas subter­râneas, vê-se que as concentrações estão aumentando persistentemente. Resolver esse problema que atinge áreas tão gran­des é difícil e caro.

Alternativas de tratamento da água também são caras, e em algumas cida­des, como Natal (RN), a solução tem sido de mesclar as águas contaminadas com águas de outras fontes, sem nitrato.

Com a crise de abastecimento em São Paulo, fala-se em possíveis riscos de desertificação, como de extermínio das reservas hídricas existentes no subsolo. Esse risco existe de fato? Em que proporção, no atual momento?

Ricardo Hirata – É um exagero pen­sar que temos risco de desertificação de parte do estado de São Paulo. A crise da água é muito mais um descompasso en­tre a produção da água e a demanda. Ou seja, as concessionárias públicas, sobre­tudo a Companhia de Saneamento Bá­sico do Estado de São Paulo (Sabesp), não se prepararam adequadamente para eventos climáticos dessa natureza, em­bora os hidrólogos e outros especialistas tenham previsto que eles poderiam ocor­rer. A desertificação existe em outras áre­as, mas não há riscos na Região Metro­politana de São Paulo.

A partir da sua experiência de trabalho em outros países, é possível fazer comparações entre os recursos hídricos e as águas subterrâneas brasileiras com a de outros locais do mundo, tanto em relação ao atual quadro das águas subterrâneas quanto às políticas públicas desenvolvidas para garantir a qualidade dos recursos hídricos?

Muitos países da Europa e da Améri­ca do Norte são fortemente dependen­tes das águas subterrâneas, assim como na Ásia, onde há milhões de poços for­necendo água para a agricultura e para as cidades. No Brasil, o uso ainda é pe­queno (frente à potencialidade), mas es­tima-se que 53% dos municípios se abas­tecem total ou parcialmente do recurso subterrâneo. O uso privado, geralmente complementar à rede pública, faz o dife­rencial da água subterrânea, embora não apareçam nas estatísticas. Há centenas de milhares de poços pelo Brasil parti­cipando da economia e fornecendo água de boa qualidade para os usuários, e em alguns lugares sendo a única alternativa econômica.

Mas o mundo tem acordado para o uso da água subterrânea de forma mais am­pla e mais integrada aos demais recur­sos disponíveis para o abastecimento de uma cidade ou um empreendimento. Is­so é particularmente verdade quando analisamos que as cidades que são abas­tecidas por mais de um recurso de forma integrada e inteligente são mais resilien­tes a problemas de longos períodos de es­tiagens, como os observados hoje em São Paulo. Assim, cidades como Madri, que se abastece de água superficial e subter­rânea, sofrem menos com as secas.

Os países europeus e norte-america­nos, com maior tradição na gestão dos recursos hídricos, possuem leis que têm funcionado de forma adequada. O Bra­sil está apenas iniciando esse processo. O país tem avançado muito nos últimos anos, mas ainda são as águas subterrâne­as a parte mais frágil da gestão dos recur­sos. Como o recurso hídrico subterrâneo é de competência dos estados, há ainda diferenças significativas entre as Unida­des da Federação, mas em todas elas ain­da há uma grande quantidade de poços ilegais e vários problemas de contamina­ção de solo e aquíferos que ainda estão para ser estudados, inclusive avaliando os impactos na população e na ecologia.

Quais são as principais constatações do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas (Cepas) e do Instituto de Geociências da USP em relação à contaminação da água?

Acreditamos que o número de casos conhecidos de contaminação das águas subterrâneas e dos solos pelas agências ambientais seja imensamente menor do que os casos existentes. Há ainda várias contaminações que carecem de estudos adequados, como o nitrato em grandes cidades, fertilizantes e agroquímicos nas zonas rurais e solventes clorados em áre­as industriais e, sobretudo, em aquíferos profundos fraturados. Em paralelo, ain­da estamos começando a descontaminar os aquíferos, e nos faltam técnicas ade­quadas e adaptadas às condições climá­ticas e geológicas brasileiras. Ou seja, há muito o que fazer, e as universidades e centros de pesquisas ainda não estão res­pondendo à altura das reais necessidades da sociedade.

Quais são as implicações da presença de nitrato na água a ser consumida pela população?

O nitrato é um contaminante pouco tó­xico, mas muito insidioso nas águas sub­terrâneas. É possível afirmar que quase todas as cidades do país sofrem em al­gum grau desse problema, advindo de vazamento da rede pública de esgoto ou da sua ausência, quando a população faz uso de fossas negras. O grande problema é que em áreas onde há algum monito­ramento da qualidade das águas subter­râneas, vê-se que as concentrações estão aumentando persistentemente. Resolver esse problema que atinge áreas tão gran­des é difícil e caro. Alternativas de trata­mento da água também são caras, e em algumas cidades, como Natal (RN), a solução tem sido mesclar as águas con­taminadas com águas de outras fontes, sem nitrato.

Segundo notícias da imprensa, com base numa pesquisa da USP, aproximadamente 75% das cidades paulistas têm abastecimento de água público feito por águas de aquíferos. O senhor confirma essa informação? O que esse dado representa?

Sim, o estado de São Paulo é depen­dente das águas subterrâneas para o abastecimento público nessas propor­ções. Quando consideramos a população em números absolutos, vemos que 36% da população é abastecida pelas águas subterrâneas.

Adicionalmente, há dezenas de milha­res de poços que suprem o usuário pri­vado. A maioria das indústrias e grandes empreendimentos têm poços que ser­vem ao abastecimento adicional e com­plementar à rede pública. É importante dizer que muitos desses poços ainda são ilegais e desconhecidos dos órgãos ges­tores, dificultando uma avaliação do real papel que essas águas desempenham na sociedade e na economia do estado.

Veja a Região Metropolitana de São Paulo, que tem o abastecimento público baseado em sistemas de água superficial. Por ano, são perfurados mais de mil po­ços, fornecendo mais de 0,8 m3/s, sem nenhum investimento do poder públi­co. Essa água está aliviando as pressões do sistema público hoje deficitário. No total, temos mais de 10 m3/s extraídos dos aquíferos. É o terceiro maior manan­cial de água da região, disperso entre 12 mil poços nas mãos da iniciativa priva­da. Se não fosse a presença desses poços no abastecimento complementar, o siste­ma público de água já estaria em crise há muito tempo.

O senhor concorda com especialistas, que afirmam não haver solução de curto prazo para a questão do abastecimento de água em São Paulo?

Todos os sistemas de abastecimento, sejam eles para fornecer água para uma casa ou uma cidade, têm riscos de um dia falhar. Cabe aos tomadores de deci­são fazer com que esses riscos sejam mí­nimos. Em sistemas apoiados em água superficial, os riscos são avaliados esta­tisticamente baseados no histórico de chuvas de uma região, pois estão asso­ciados à intensidade de chuvas que ali­mentam os reservatórios. Claro que pa­ra serem mínimos, precisamos de inves­timentos para aumentar a produção e/ou reduzir a demanda.

O que houve em São Paulo é que es­ses riscos foram negligenciados. Es­tudos mostravam que havia riscos pe­quenos de secas dessa magnitude. Op­tou-se por não investir na melhora do abastecimento, em detrimento a outros investimentos de governo. O proble­ma é ainda pior, pois faltou a esses to­madores de decisão uma avaliação cor­reta dos prejuízos que a falta desse in­vestimento na produção de água traria à região. Mas também faltou um plano de contingência. Ou seja, um conjunto de ações coordenadas sobre o que fa­zer caso determinado problema de es­tiagem ocorresse. Faltou pesar tudo is­so e dizer à população: há um risco pe­queno, podemos arriscar? Quais são as perdas? É aceitável? Isso é gestão do recurso hídrico. Hoje fomos todos sur­preendidos.

Em que medida investimentos em saneamento básico poderiam garantir uma melhora na qualidade da água subterrânea?

Há uma forte correlação entre a fal­ta de redes de esgoto ou redes antigas de esgoto e a contaminação das águas subterrâneas. Ter redes novas, feitas de tubos de plástico, e com boa manuten­ção é fundamental para reduzir a con­taminação de nitrato em aquíferos ur­banos. Aliás, recomendamos que, em qualquer novo empreendimento urba­no, a rede de esgoto chegue antes da população, evitando assim a contami­nação dos aquíferos e garantindo que a nova população possa inclusive fazer uso dessas águas subterrâneas. A falta de saneamento traz também outro pro­blema de contaminação dos rios, redu­zindo a oferta de água de superfície. A falta de saneamento faz com que os rios sejam perceptivamente feios, dando a ideia do “mal cuidado”, não cria o valor do cuidar, que o cidadão deve ter, além, obviamente, da redução da vida aquáti­ca, etc. (IHU On-Line)

Fonte: Portal Brasil de Fato
Link: http://www.brasildefato.com.br/node/30447
Última atualização: 10/11/2014 às 10:57:48
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