O homem sempre almejou a felicidade. Nossa ânsia é tal, que não nos importamos se ela é real ou ilusória. Vale tudo em nome dessa tal felicidade. Não importa cartão de crédito estourado, relacionamentos efêmeros e fugazes, nomadismos religiosos, o consumo de chás, bebidas alcoólicas, psicotrópicos, drogas ou qualquer outra coisa. O que importa mesmo é ser feliz. Para isso, se paga qualquer preço.
O problema é que, frutos de uma cultura do consumo, nossa pequenez toma forma, levando-nos a crer, que a felicidade não só existe como é tangível e material ocupando lugar no tempo e no espaço. Essa premissa é pautada na ideia enviesada de que, em um objeto ou em alguém encontraremos nossa felicidade. Daí o fetichismo das mercadorias. Os objetos passaram a ter o “poder” que, outrora, havíamos concedidos à metafísica: religiões e deuses. Profanamos o sagrado em nome da felicidade.
Nossos templos foram substituídos pelos shoppings centers e nossa reverência ao sacerdote desviada aos objetos de consumo. Eureca! A felicidade existe, um comprimido a contém e pode ser adquirida nas farmácias, anunciavam os americanos há cerca de vinte anos. Houve uma desembestada corrida aos oráculos da modernidade, os consultórios psiquiátricos. E o médico como que possuidor da onipotência de “deus”, realiza o desejo dos infelizes, classificando-os em um diagnóstico. E há para todos os gostos - são mais de 480 classificações, conforme DSM-IV (Manual Estatístico de Doença Mental) e a CID-10 (Código Internacional de Doenças), acompanhado, é claro, de um receituário colorido, com um nome eufemístico, que faz, pasmem, qualquer um, menos avisado, sentir-se “feliz”.
Odailson da Silva
odailson1975@hotmail.com
Psicanalista e escritor
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