Em Americana, no interior de São Paulo, 51 trabalhadores, sendo 45 bolivianos, fabricavam peças de roupa da marca espanhola Zara em situação semelhante à de escravidão em uma oficina de costura. Por conta das condições de trabalho, o MPF (Ministério Público Federal) em Piracicaba denunciou quatro pessoas.
Os empregados eram submetidos a jornadas de até 14 horas diárias, não possuíam registro em carteira nem equipamento de segurança. Os funcionários não tinham descanso mínimo durante a jornada e, no caso dos estrangeiros, os três primeiros salários ainda eram retidos para pagamento dos custos com transporte e alimentação da Bolívia para o Brasil.
O local ainda funcionava como alojamento para os trabalhadores, mas as instalações eram precárias. De acordo com a denúncia, havia quartos sem ventilação, alimentos armazenados no chão e banheiros em mau estado de conservação e limpeza. Na oficina, ainda moravam três menores, sendo dois bebês.
De acordo com o MPF, todos trabalhavam para a Rhodes Confecções Ltda., empresa que trabalhava como fornecedora direta da grife espanhola Zara. De acordo com o MPF, a Rhodes não possui capacidade produtiva para atender à demanda e, por conta disso, repassava as encomendas para outras confecções.
A oficina de costura onde foram constatadas as irregularidades pertence ao boliviano Narciso Atahuichy Choque. Além dele, foram denunciadas as brasileiras Rosangila Theodoro, Sonia Aparecida Campanholo e Silva Regina Fernandes Ribeiro da Costa, respectivamente sócia e funcionárias da Rhodes Confecções Ltda.
De acordo com a denúncia, Sonia e Silvia faziam visitas frequentes à oficina para vistoriar a produção. Já Rosangila, segundo o MPF, sabia da utilização de mão de obra barata ao contratar empresas como a do boliviano.
Todos foram denunciados pelo artigo 149, por reduzir alguém à condição análoga à de escravo, e o 203, por frustrar direito assegurado pela legislação do trabalho.
O Ministério do Trabalho e Emprego foi quem descobriu o caso entre maio e agosto de 2011 durante uma operação. O imóvel foi interditado e a fiscalização constatou perigo de choque elétrico, incêndio, explosão, instalações elétricas improvisadas, extintores de incêndio vencidos e falta de ventilação. De acordo com a denúncia, o único portão de entrada do local permanecia fechado com cadeado e nenhum dos trabalhadores que foram consultados possuía a chave.
Segundo o MPF, na época, constatou-se que os trabalhadores confeccionavam peças de vestuário da marca Zara. A reportagem tentou entrar em contato com a Zara, mas não conseguiu falar com nenhum representante da grife espanhola.
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