A passagem de Ary Joel Lanzarin pela presidência do BNB foi breve, mas deixou marcas. Nas matérias que repercutiram na imprensa, ressaltaram-se o aumento do número de agências e a moralidade no Banco, com o fim das alçadas individuais. Entre muitas notícias que circularam na mídia cearense, uma deu conta de que “nem um alfinete sequer era comprado sem que passasse pelo presidente”.
O exemplo do alfinete, longe de ser louvável, é preocupante, pois demonstra centralização, autoritarismo e insegurança com a equipe – postura nada recomendável a um líder nem adequada para uma gestão que se reivindica democrática e participativa com base nos pressupostos da governança corporativa. Afinal de contas, para o que mesmo é que serve uma equipe, com despesas nada modestas, peculiares das pastas - não importando qual a instância?
Algumas questões importantes devem ser relembradas antes que se diga que o ex-presidente deixa saudades ou que o modelo de gestão levado a cabo por ele é digno de loas e de exacerbados elogios. Com esse intuito a AFBNB faz o presente comentário, o qual compartilha em cumprimento à deliberação da 45ª Reunião do seu Conselho de Representantes, ocorrida nos dias 4 e 5 de abril de 2014, em Natal (RN).
Foram 19 meses à frente do BNB. Pouco tempo? Não. Tempo suficiente para direcionar inúmeras ações e projetos, novas regras e rotinas, programas de modernização, ampliar a rede de agências etc, etc – conforme o próprio ex-presidente assinala na sua mensagem de despedida dirigida aos trabalhadores da Instituição.
No entanto, ao que parece, a gestão não olhou para trás, para a história do Banco, para as demandas históricas dos trabalhadores. Sem olhar e sem corrigir os erros do passado corre-se o risco de permitir que ocorram novamente! E foi isso que aconteceu: muitas das medidas tomadas, sobretudo as referentes aos funcionários foram atropeladas, impostas, sem diálogo ou transparência, fruto de uma política de RH ausente, deficiente e falha. Várias situações exemplificam o que afirmamos. Lembremos algumas delas:
- a reestruturação atabalhoada da Direção Geral e das Centrais, que tanto transtorno trouxe aos trabalhadores, ao ponto de impactar negativamente nos processos operacionais e na celeridade das operações de crédito;
- a extinção do serviço de ônibus “ponto a ponto” que há mais de trinta anos contribuía para uma melhor mobilidade dos trabalhadores, e para a própria cidade;
- a substituição de uma política de reconhecimento e valorização dos funcionários por um mero pacote de “cifras” traduzido na política neoliberal “Plano de Incentivo ao Desligamento” (PID), quando o coerente e esperado era a recuperação da previdência complementar – Dignidade Previdenciária;
- a inexistência de critérios bem definidos e transparentes em processos de concorrência interna, onde prevalece a subjetividade, inclusive com direcionamentos, segmentação e exclusão dos funcionários das agências, e que nem de longe se observa sinais de cumprimento ao princípio constitucional da “isonomia de tratamento”;
- as medidas na Caixa de Assistência Médica – Camed (autogestão), com a imposição de aumento abusivo na contribuição dos funcionários e a exclusão dos genitores dos associados como dependentes no “plano natural” - fato que implicou a retirada de recursos que eram aportados para a Caixa, e que motivou o ingresso da AFBNB na justiça para reverter tal ato, cujas ações liminar e principal se encontram em tramitação, aguardando desfecho. A propósito, é oportuno lembrar a atitude temerária de descumprimento da decisão liminar favorável aos associados, conforme petição da AFBNB na justiça, para reversão da medida;
- a postergação de uma política de reafirmação do BNB enquanto Instituição de desenvolvimento, a falta de uma estratégia estruturada de atuação, a falta de revitalização do Etene (Escritório de Estudos Técnicos do Nordeste) – órgão constituído e outrora voltado para pensar e elaborar políticas pertinentes – bem como a não valorização dos quadros técnicos, que expressam a pouca importância dada a esse fim, essência do Banco.
É importante ressaltar que a abertura de novas agências e a convocação de pessoal é fato, louvável. A propósito, o aumento da capilaridade do BNB é uma das bandeiras institucionais e históricas da AFBNB e consta inclusive em documentos como a Carta Compromisso pelo Desenvolvimento Regional, entregue à presidência da República e ao próprio Banco. No entanto, abrir agência sem que se tenham definidas as diretrizes estratégicas que devem nortear o trabalho dos funcionários, seja onde for – agência ou direção geral – merece uma reflexão.
O que esperamos no BNB
Hoje, como o BNB se vê enquanto instituição de desenvolvimento, que é a essência da sua constituição sessenta e dois anos atrás? Qual sua linha e estratégia de atuação nesse sentido? Que conceito de desenvolvimento seus quadros são levados a pensar e a difundir, do gestor de alto escalão ao operativo de uma agência de pequeno porte? A visão e a cultura do BNB enquanto “agente de desenvolvimento” devem estar vivas em todos! Ora, essa é alma do Banco; esse é o motivo para o qual foi criado! E o que foi feito nesse sentido, nos últimos anos, inclusive nos 19 meses em que Ary Joel esteve à frente da instituição? A AFBNB ratifica o entendimento de que não agregou nada sobre esse aspecto; infelizmente só intensificou o perigoso viés de foco para a lógica perversa do mercado em detrimento da face desenvolvimentista. É, imperativo, pois, o redirecionamento de rumos.
Não resta dúvida, ao considerar os propósitos constitutivos, e a AFBNB reafirma isso: o BNB caminha sem rumo já há muitas gestões, cerca de vinte anos pelo menos. Quem vem, se acomoda, cede às forças externas e internas e se subalternam a qualquer ditame, como se estivéssemos na era da “quartelada”.
A gestão Ary Joel foi mais uma. Ainda não foi ela “o salvador da pátria”. Ainda não foi a mesma o modelo que expresse a sensibilidade, a vontade política e administrativa suficientes para fazer a verdadeira revolução no BNB: voltar a ser um banco de desenvolvimento, uma instituição que faça a diferença na sua área de atuação, um lugar onde os trabalhadores se sintam reconhecidos efetivamente e valorizados, e que acima de tudo estes não necessitem recorrer à Justiça para reclamarem seus direitos, enfim, onde as relações de trabalho voltem a ser saudáveis e harmoniosas.
A partir desse panorama, não fica difícil constatar que é urgente uma mudança de rumos, que é premente uma alteração substancial da realidade no BNB. Isso exige, além de um esforço concentrado, um somatório de esforços, sobretudo a compreensão por parte da Administração do Banco de que é necessária uma ação positiva e decisiva junto aos órgãos superiores nesse sentido.
A AFBNB ao lado dos trabalhadores.
Gestão Autonomia e Luta.
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