Ser negro, no Brasil, é ser duplamente discriminado. Pela condição social e pela cor. Esta é a conclusão tomada pelo 4º Boletim de Análise Político-Institucional do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Segundo dados da 4ª edição do boletim, ser negro pode diminuir a expectativa de vida em até 114% se comparada ao de indivíduos da cor branca. Além disso, pertencer à raça negra/parda aumenta em 8 pontos percentuais a probabilidade de o indivíduo ser vítima de homicídios.
Para o pesquisador do Ipea, Almir de Oliveira Júnior, se no Brasil a exposição da população como um todo à possibilidade de morte violenta já é grande, ser negro corresponde a pertencer a um grupo de risco. Essa visão é compartilhada pela acadêmica da área de Direitos Humanos da Universidade de Brasília (UnB), Verônica Couto de Araújo Lima. Ela afirma que a cada três assassinatos, dois são de negros. Somando-se a população residente nos 226 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, calcula-se que a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior em comparação com os brancos.
A pesquisa também aponta que negros são maiores vítimas de agressão por parte de policiais do que brancos. A Pesquisa Nacional de Vitimização, de 2010, mostra que 6,5% dos negros que sofreram uma agressão no ano anterior tiveram como agressores policiais ou seguranças privados, contra 3,7% dos brancos. Esse dado comprova outro dado mostrado na pesquisa do Ipea, o da desconfiança na polícia. Cerca de 60,30% dos negros não buscam ajuda policial por não acreditar na corporação, esse número é quase a metade quando se fala na raça branca, apenas 39,70%. Os números praticamente se repetem quando o fator é o medo de represálias, 60,70% dos negros e 39,30% dos brancos.
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