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Notícias

  25/10/2013 

Carta aberta de uma funcionária ao presidente do BNB

Atendendo a solicitação da funcionária do BNB, Elizabeth Holanda da Costa, reproduzimos abaixo texto de sua autoria.
 
 
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A., Sr. Ary Joel de Abreu Lanzarin
 
Sobre o sentido que damos a pessoas, lugares e coisas
 
Sr. Presidente
Uma cidade, um cheiro, uma música tem um sentido único para cada pessoa, pois marca um momento especial, traz a lembrança de um lugar ou de alguém que foi importante pra gente num dado momento. O mesmo sentido damos as instituições, a empresa em que trabalhamos, afinal, aqui é um outro lugar de sociabilidade de compartilhar saberes, experiências e sobretudo de compartilhar sentidos.
 
Estes sentidos são construídos historicamente, formam uma identidade, definem uma cultura. Definem o que é ser brasileiro, o que é ser nordestino. É o que nos diferencia dos europeus, africanos, asiáticos. Da mesma forma um banco de desenvolvimento tem a sua identidade, a sua cultura que (com)partilhamos entre colegas e entre os nossos clientes e parceiros.
 
É comum ouvir dos nossos clientes, especialmente no interior do NE, mais ou menos o seguinte: “Olha, o banco pode ter todos os defeitos do mundo, mas vocês são diferentes do Banco do Brasil ou da Caixa. Aqui a gente se sente bem, é tratado de igual pra igual.” Veja que não somos nem melhores, nem piores que os colegas dos demais bancos. Somos diferentes. Somos reconhecidos por essa diferença. E te digo o molho desta diferença. É o sentido que incorporamos a palavra “desenvolvimento”. Simples assim, sem adjetivos.
 
Está na nossa veia, no nosso sangue “desenvolver o nordeste”. Entretanto estamos anêmicos.
 
O Banco está anêmico de direcionamento. Anêmicos pelo esvaziamento do sentido dado a palavra desenvolvimento.
 
O desenvolvimento que hoje está na nossa missão não passa de uma rima pobre, que paulatinamente está caindo em desuso. É cafona falar de desenvolvimento. A palavra do dia é eficiência operacional, custos x receitas. Está correto, somos um banco.
Mas... Qual será a nossa diferença dos demais bancos? O que nos legitimará perante a sociedade de que somos importantes e não apenas mais um “trambolho” público que consome impostos?
 
Desenvolvimento não é só uma palavra. É o que nos diferencia dos demais bancos, é o que nos diferencia na hora de tratamento com os clientes nos mais diferentes rincões do Nordeste. É a nossa identidade. É a nossa cultura. É a nossa história. É o que nos legitima.
 
Esvaziá-la e substituí-la por letrinhas mágicas como PLR ou eficiência operacional funciona, afinal o discurso de “dinheiro no bolso” é mais atrativo que “desenvolver o Nordeste”.
 
Leva algum tempo e tem custo. Custo de desmotivação do corpo funcional. Custo de jogar no esquecimento aquilo que era permanente. Custo de implosão de sentidos e significados que constroem uma cultura, uma instituição.
 
Esta implosão é simbólica. Reproduzo aqui uma matéria do notícias.com em que você comentava a inauguração da FIAT em Pernambuco. Transcrevo as palavras do presidente da montadora:
 
“Estamos dando passos importantes no processo de reindustrialização do Estado, adensando a cadeia produtiva regional. Estaremos juntos, avançando sempre na busca do desenvolvimento sustentável” Cledorvino Belini (notícias.com, 28/12/2012, “Ary Joel assina o maior contrato da história do Banco”)
 
Agora transcrevo o que tu falaste:
 
“É uma satisfação participar de um projeto dessa magnitude, que reafirma o nosso compromisso com o estado. Conseguimos concluir o processo em um tempo recorde de 30 dias, graças ao empenho da nossa equipe e a uma conjunção de esforços dos governos federal e estadual” (mesma matéria)
 
Considero simbólica a tua fala (e tantas outras que li) pois se não tivesse avisado quem falou o quê, certamente a fala do presidente da FIAT incorpora o discurso de um banco de desenvolvimento. Este é o esvaziamento de sentido ao qual me refiro desde o início desta carta. Somos maiores que prazos, que números, que PLR. Ainda tenho a esperança que fazemos a diferença na região. Não destrua isto.
 
Sabemos que desenvolvimento acontece em suas múltiplas dimensões. É um fenômeno social, político, econômico, cultural. Ou seja, nossa ação deve promover ações que promovam não só a nossa economia, mas articulação do econômico com políticas públicas que permitam o desenvolvimento destes empreendimentos, do município, do estado. Ações que promovam a cultura nordestina, o desenvolvimento social do nosso povo. Porque tenho que comprar um pen drive “made in China”? Por que não pode ser produzido em Canindé, no sertão do Seridó, ou em qualquer lugar do sertão? Qual a nossa ação como instituição de desenvolvimento para viabilizar atividades econômicas menos dependentes de fatores climáticos? Qual a nossa articulação com os governos estaduais e federal? Qual o sentido de continuar financiando qualquer empreendimento sem ação articulada com outras políticas públicas que viabilizem estes empreendimentos?
 
E o mais importante: Qual o sentido de um banco de desenvolvimento que não pensa nem executa desenvolvimento?
 
Não serei tão cruel contigo. Compartilho a tua responsabilidade com o Governo Federal que não pensa, nem executa políticas públicas de ESTADO para o desenvolvimento do País. Por políticas públicas de Estado compreendo ações planejadas com orçamento e de caráter permanente, independente da partido político que eventualmente esteja no poder. Ações que viabilizem infraestrutura para nossa região, que possibilitem a mudança e/ou ampliação da nossa pauta de exportação para produtos de maior valor agregado, reduzindo a nossa dependência das comodities da soja, algodão, etc, dentre tantas outras ações de impacto estrutural ensinadas pela escola da CEPAL, em especial pelo Celso Furtado e executadas com sucesso por chineses, sul coreanos, claro que devidamente adaptadas a realidade deles. Entretanto o que o governo federal chama de programa de desenvolvimento são políticas que se resumem a construção de estádios de futebol, a programas emergenciais para seca. Pão e circo.
 
Entretanto somos diferentes e podemos fazer diferente. Temos o fraco direcionamento federal que reflete aqui embaixo. Taí uma boa oportunidade para você conduzir um processo que realmente faça a diferença na nossa região e na nossa atuação enquanto banco de desenvolvimento.
 
Penso que a extensão da greve reflete além do histórico descaso com as questões permanentes na mesa de negociação como isonomia, revisão de PCR, etc, está em pauta repensarmos o nosso papel enquanto instituição de desenvolvimento. Estamos atomizados com os nossos processos, projetos, clientes para atender, mas enfim, qual a razão de ser de tudo isso? O que estou fazendo de diferente dos demais bancos? Quais as nossas ações que promovem incentivo a nossa cultura, sustentabilidade das MPE´s, agricultura familiar...
 
Me parece que a “caixa” do desenvolvimento está limitada as ações de microfinança que por sinal é realizada em grande medida por equipe de colegas terceirizados. E o resto do banco? O que fazemos? O mesmo que o Itaú, Bradesco, CEF, Banco do Brasil? O que garante anoitecermos com o “coqueiro” da nossa marca e não amanhecermos com a “árvore” do Bradesco? O que garante que o nosso gesto do “pense positivo” não se converta no “i” do Banco Itaú? O que legitima a nossa permanência? Para além disto, o que legitima a nossa existência? Ainda não saímos da crise que te trouxe aqui. A nossa crise é de legitimidade.
 
Atenciosamente,
Elizabeth Holanda da Costa.
Última atualização: 25/10/2013 às 19:07:01
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Comentários

Enviado por Henrique Eduardo em 06/11/2013 às 09:06:02
Parabéns Elisabeth! Polida na forma e contundente no conteúdo.
Enviado por gilson queiroz em 30/10/2013 às 16:15:33
OI ELIZABETH ! MAGNIFICAS AS SUAS PALAVRAS DIRIMIDAS AO ATUAL PRESIDENTE DO BNB, MAS, QUEM DERA ESSAS MESMAS VERDADES, QUASE ESCRITAS EM FORMA POÉTICA , SE ELAS FOSSEM DIRECIONADAS PARA UM EX-GESTOR DO BNB , SR BYRON QUEIROZ , FIGURA LENDÁRIA , QUE PAIROU NO BNB COMO UMA PRAGA EM LAVOURA, , DEVASTADO TUDO , INCLUSIVE RECURSOS E VIDAS HUMANAS. MAS, SE EU ESTIVESSE SENTADO AGORA OCUPANDO A CADEIRA DO SR ARY JOE, , CERTAMENTE AO LER SUA CARTA , OU EU ME SENSIBILIZARIA E TENTAVA MUDAR O PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DO BNB OU PEDIRIA A MINHA EXONERAÇÃO DO CARGO . PARABÉNS !
Enviado por Gabriel E. Vitullo em 29/10/2013 às 10:03:35
Meus parabéns, Beth, pelas suas belíssimas palavras! Força nesta luta, que não é só de vocês, mas de todos aqueles que sonhamos com um outro mundo e um outro país. Abraços,
Enviado por Jeane Ramos da Silva em 29/10/2013 às 09:55:45
Perfeito. Esse é o espírito do Banco. Quem trabalha no Banco do Nordeste tem esse compromisso ético com a nossa região, com o povo nordestino. A Bete falou de uma forma técnica, poética, antropológica, filosófica e viva. Todo o meu apoio e coração.
Enviado por Izany em 28/10/2013 às 23:09:21
Excelente carta que cuida de um caso de Estado, corroborando o dito pelo deputado Raimundo Gomes de Matos: - “Temos de enfrentar esse problema, senão, o Nordeste vai continuar pobre – alertou.” em matéria no portal do senado (Em audiência pública, atuação do BNB no combate à seca recebe críticas), e do presidente da Faepa, Mário Borba, na mesma matéria “Toda região de semiárido do mundo tem um tratamento diferenciado – argumentou Borba, apontando exemplos na Austrália e na Europa.” Aqui o banco de desenvolvimento é omisso a seu papel reflexo da importância dada pelo Estado ao desenvolvimento dessa região.
Enviado por Lindalva Barros Pontes em 28/10/2013 às 11:33:45
Parabéns, Elizabeth! Por ter expressado com tanta clareza, fidedignidade o sentimento que vai nos corações de todos nós benebeanos que fazemos e amamos verdadeiramente o BNB, esse banco de desenvolvimento, dos brasileiros e dos nordestinos.
Enviado por Dorisval de Lima/diretoria da AFBNB em 27/10/2013 às 18:05:29
Caro Marcos, a matéria da colega Beth é muito importante no contexto de desfiguração do BNB enquanto instituição de desenvolvimento. Como é do teu conhecimento, a AFBNB já vem debatendo esse assunto ao longo de anos, conforme você próprio pode dar o testemunho haja vista ser um participante assíduo das Reuniões do Conselho de Representantes, fórum por meio do qual a Associação tem dedicado a esse tema sobretudo. Assim, a ousadia, coragem e felicidade da carta da colega, endereçada ao presidente do Banco, amplamente divulgada pela AFBNB a seu pedido, no nosso entendimento, é o corolário que ela faz do conjunto de elementos que temos abordado, agregando elementos da sua própria leitura. Quanto a tua ênfase sobre a AFBNB estar "queimando dinheiro", e se digladiando com outros entes, permita-me, sinceramente, discordar. Primeiro, a entidade não derrama dinheiro, pois tudo que os associados investem é revertido na nossa luta, a exemplo dos fóruns (RCRs, que é muito caro com custo total próprio), nossos impressos, funcionários, assessorias, deslocamentos, matérias na mídia, ações jurídicas (mais recente, por demanda dos representantes na RCR), etc., dessa natureza. Segundo, não há briga com ninguém. Se é sobre as mentiras que têm sido postas contra a entidade agora nas eleições que o colega faz referência, acredito que não seja difícil ver que a Associação está apenas exercendo o direito de se defender, apresentar os fatos como de fato acontecem, preservando assim a sua imagem e a dos seus diretores, estatutária e democraticamente constituídos para gerir os rumos, com o objetivo de que a mentira nunca prevaleça sobre a verdade, como qualquer um faz ou deveria fazer quando caluniado ou atacado na sua honra. Se alguém ou algum ente pratica tais atos, por favor ser mais direto a quem faz jus a esse equívoco. À AFBNB não cabe tal acusação. Grato pela atenção. Dorisval de Lima Diretor de Comunicação e Cultura da AFBNB Pela Diretoria da AFBNB
Enviado por Marcos Antonio. em 27/10/2013 às 12:51:17
Acontece cara colega Elizabeth; que nesses 60 anos o Mundo mudou muito e também o nosso BNB, vejamos: QUANDO FOI CRIADO ERA UMA COISA e HOJE É OUTRA, COMPLETAMENTE DIFERENTE={{Antes nos Sustentavam e hoje...? Apregoam que devemos ter nossa própria Sustentabilidade e isso...; é como tirar leite de pedra, sabemos que a Região, por definição é paupérrima e de IDH baixíssimo}}; veja bem, no início foi Criado, como você mesmo cita, para Desenvolver; Resolver ou Amenizar os Problemas decorrentes das constantes Secas(E hoje, já fizeram o dever de Casa?)=(Pergunto-vos ainda: Por que nos Desertos de Israel e das Arábias se Colhem hortaliças, Heim?]; Era também missão= Ajudar os Pobres da Agro-Pecuária=(parece que hoje nem são mais os funcionários que realizam essas missões e SIM os Terceirizados do crediamigo e do Agroamigo); Era também missão: Ser praticamente o Único Braço do Governo nesse Nordeste esquecido do resto do Brasil={E hoje vemos estarrecidos, muitos postos servindo de negociações políticas, como se esquecessem o drama do Nordeste, Heim?} E o {Fundo Constitucional, SER FATIADO entre os bancos coirmãos}; naquela época também: Os Funcionários eram Empossados nos seus Cargos=[hoje..., nosso Plano de Cargos e Salários parece mais uma Coxa de Retalhos e está uma LÁSTIMA e só se respira Comissões-Cadê a valorização do Pessoal, Heim?]; Ainda naquele tempo o nosso trabalho era mais reconhecido em termos de Realizações e Presença Assistencial ao povo Carente=((E hoje, nosso trabalho é dar cada vez MAIS LUCRO; competir com o Mercado Financeiro, com metas abusivas e Atendimento VIP=aos Grandes Empresários, os quais, as vezes teem nos causado prejuízos igualmente Grandes e..., para atendimento dos pobres botaram os terceirizados. Sem contar/falar em uns Prejuízos Enormes que a Grande Mídia publicou em 2011 e 2012, os quais; dizem que estão sendo apurados e que certamente diminuíram bastante os nossos Lucros Suados. Hoje vemos uma Direção Enorme; gerando Despesas Enormes e pelo jeito lá; tirando os Contratados=Terceirizados, todo Mundo é Comissionado; gerando uma grande despesa, enquanto isso..., as Agências, coitadas!=((geradoras de Receitas trabalham na precariedade, muitas com somente meia-Dúzia de Funcionários e isso...; é uma bagunça e uma tremenda injustiça Administrativa sabiam?. Enquanto isso..., {{Na sala da INJUSTIÇA....bat-man e hobby, DIGO ..., nossas ENTIDADES SINDICAIS, juntamente c/a nossa AFBNB ficam como gladiadores/brigando umas contra as outras, AO INVÉS DE SE UNIREM A NÓS ficam rasgando as nossas Contribuições Mensais, que ÀS sustentamos e ÀS Financiamos nesses malditos DESENTENDIMENTOS, os quais têm nos trazido demasiadas PERDAS e desprestígios. É isso aí meus caros..., diante de alguns fatos tristes, os quais, nem são bons de lembra-los, sinceramente..., não sei dizer-vos se temos: +Vitórias, +Derrotas ou se estamos deveras EMPATADOS, francamente, francamente. Só sei que..., somente o Pensamento Positivo não nos tem ajudado o quanto esperávamos. Saudações.
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