Um estudo divulgado pela USP/Esalq a respeito do efeito do gasto social sobre a pobreza no Brasil pelas três esferas do governo – federal, estadual e municipal – revelou que gastar com saúde e saneamento é mais efetivo para reduzir a pobreza do que gastar com previdência e assistência. Enquanto saúde e saneamento têm um peso de 0,31% na redução do índice de pobreza, os gastos com a previdência e assistência pesam apenas 0,07%.
A pesquisa, que utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Secretaria do Tesouro Nacional traz um dado que demonstra o salto ocorrido, num espaço de duas décadas, no total de gastos do governo federal destinados à área social: entre 1987 e 2009, a percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) direcionada para essa área em geral passou de 4% para 14%, o equivalente a R$ 432 bilhões, privilegiando principalmente a previdência e a assistência. Aí se incluem os recursos destinados ao Bolsa-Família. Alguns poderão concluir que, se os recursos tivessem sido aplicados em saneamento básico e saúde, a redução da pobreza teria sido maior.
Esse seria um tipo de comparação sem bases éticas. Não dá para comparar, por exemplo, o alívio concreto do indivíduo que não tinha o que comer - e passa a ter a possibilidade
de ter três refeições por dia - com a realidade de dispor de um banheiro e esgoto sanitário, ou contar com um posto de saúde, mas à noite ir dormir com a barriga vazia. Tirante isso, é verdade que o saneamento básico e a saúde constituem elementos fundamentais e imprescindíveis para a constituição de uma vida minimamente digna e para a diminuição das desigualdades sociais.
Ter esgotamento sanitário significa reduzir a mortalidade infantil decorrente de doenças infectocontagiosas, bem como proteger o restante da população desses mesmos males. Isso evitaria a aplicação de enormes dispêndios para curá-las. Sai mais barato investir na medicina preventiva do que na curativa.
Os benefícios com esses investimentos vão muito além da saúde, pois, ao se atender necessidades básicas da população, reduz-se a chaga da desigualdade - raiz da violência desbragada que atormenta a sociedade brasileira.
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