Fale Conosco       Acesse seu E-mail
 
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras


Saiu na Imprensa

  02/04/2013 

Opinião: Artigos sobre o tema da seca Nordeste

Confira os artigos de opinião relacionados ao tema da seca publicados no jornal O Povo (CE).

____________

 

Seca e omissão
 
"Ano após ano, a situação é a mesma, com os técnicos fazendo previsões sobre se haverá ou não inverno"
 
A situação da seca no Ceará, como nos demais estados do Nordeste, revela a omissão, o despreparo político dos governos. No estágio atual de desenvolvimento da tecnologia para o armazenamento e canalização de água, como construção de açudes, adutoras, barragens subterrâneas, perfuração de poços, reflorestamento para o restabelecimento do equilíbrio hidrológico, técnicas de irrigação, não se concebe ficar a mercê dos desígnios da natureza.
 
Ano após ano, a situação é a mesma, com os técnicos fazendo previsões sobre se haverá ou não inverno, passando os governantes a ideia para a população de que o problema está acima das possibilidades humanas de solução. O povo resignado olha para o céu e faz preces, abandonado que está pelo poder público com soluções definitivas de convivência com a estiagem.
 
Políticos omissos, incompetentes, inescrupulosos se utilizam secularmente do fenômeno da seca para manter cativo o eleitor dos grotões, socorrendo-os emergencialmente com os carros-pipas, até o próximo período sem chuvas. No intervalo entre um período de seca e um de chuva, os administradores nada fazem em termos de obras estruturantes para solucionar o problema.
 
A falta de chuva é providencial para boa parte dos políticos, que vê nela a oportunidade de decretar estado de calamidade pública e, assim, receber recursos federais, os quais serão gastos, dispensando-se as licitações, cometendo-se todo tipo ilicitudes, e até, realizando festas despropositadas, em meio à tragédia da sede, da fome, de perdas de plantações e rebanhos.
 
O desafio das Igrejas cristãs, de todas as pessoas de bem, como faziam os profetas, é de denunciar a omissão, a farsa que os governos sustentam de que seca não tem solução.
 
O povo precisa acordar e combater a tragédia da omissão com o voto em candidatos a governador e prefeitos que tenham o compromisso com medidas estruturantes para a solução definitiva do problema da seca.
 
Fátima Vilanova
 
mfatimavvilanova@gmail.com
Secretária Executiva da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) da CNBB
 
__________________
 
Era uma vez no Nordeste
 
"O marco principal e fecundo da ação do Dnocs no semiárido é o açude público estratégico"
    
Foi a iniciativa federal da Segunda Comissão de Seca, no final do século XIX, que recomendou a criação de uma instituição para coordenar as obras contra as secas, a primeira delas foi o açude Cedro, em Quixadá. Esta inspetoria criada em 1909 guarda inspiração e semelhança com o USBR, o Bureau of Reclamation, ambos formados no mesmo ambiente e bebendo da mesma fonte de tecnologia, a Universidade de Stanford na Califórnia. Cem anos já se passaram.
 
Foi somente nos anos 40, quando o governo resolveu adotar o modelo dos Departamentos, ainda hoje em vigor nos EUA, que o órgão adquiriu a denominação de Dnocs, ao lado do Dner, DNPM, Dnos, etc.Nosso país prima por destruir memoráveis instituições, embora ainda não tenha conseguido eliminar aqueles notáveis organismos originários da chamada Reforma Administrativa oriunda do Estado Novo.
 
O marco principal e fecundo da ação do Dnocs no semiárido é o açude público estratégico. Esta é a fonte básica do abastecimento, irrigado, pescado continental, perenização dos rios, integração de bacias, adutoras, etc.
 
Acontece que nos anos 60 a instituição foi chamada para somar no reforço da irrigação do Nordeste. Canais, adutoras e sistemas de bombeamento nunca foram novidades para seu escopo de obras, pois a tradição dos postos agrícolas dos anos 30 o credenciava para esta função. Quem conhece as estruturas dos açudes São Gonçalo, na Paraíba, e Lima Campos, no Ceará, vai verificar a semelhança desses modelos com obras do Bureau of Reclamation, dos Estados Unidos. Ao longo do tempo, o USBR buscou concentrar sua gestão na oferta de água e energia para os proprietários privados. O Dnocs resolveu adquirir quase no estilo Kolkhoz soviético e se transformar em gestor de oferta de uso, colocando a raposa dentro do galinheiro. Era lógico que este modelo iria desgastar o órgão. Uma Autarquia Federal não deve plantar tomate. O produto da irrigação é um ser vivo. A planta não pode esperar que um parafuso de uma bomba seja objeto de processo administrativo e licitatório para a sua aquisição.
 
Essa função de usuária da água deve ser reexaminada. É justificável ainda a execução da infraestrutura principal da irrigação, ou seja, as obras hidráulicas. Sobre o seu futuro, para não viver do passado, o Dnocs deve se espelhar nos modelos tecnológicos dos sistemas de controle e operação da água que atuam na Califórnia, (EUA) ou na Province (França)
 
O Dnocs vem há mais de uma década vegetando heroicamente, sendo assediado por todo tipo de processo de descrédito num ambiente quase impossível de trabalho. Entre extinguir e não fazer nada pelo órgão em todo esse tempo, a diferença é muito pouca.
 
Hypérides Pereira de Macedo
 
Consultor em Recursos Hídricos
 
 
_______
 
Seca: tragédia reprisada
 
"Os prefeitos decretam logo Estado de Emergência.Os governadores convocam logo secretários, deputados e senadores"
    
Quando a seca chega no sertão, fenômeno natural bastante conhecido e estudado desde o século XVI, fica evidente que o problema é fundamentalmente de ordem política. A realidade descrita por Rachel de Queiroz, no seu romance O Quinze, e por Graciliano Ramos, em Vidas Secas, espalhando pelo mundo verde as agruras do Sertão e do seu povo forte e sofrido, vai se eternizando. É verdade que ganha toques de modernidade. A moto substituiu o jumento, as comitivas de retirantes e de paus de arara não existem mais. No entanto, as práticas oligárquicas permanecem intactas.
 
A tragédia da seca encobre interesses escusos daqueles que têm influência política ou são economicamente poderosos, que procuram eternizar o problema e impedir que ações eficazes sejam adotadas. Utiliza-se do clamor dos flagelados para captar recursos do Estado em benefício próprio, com o pretexto de combater as mazelas do fenômeno climático.
 
Como se a estiagem fosse algo novo e imprevisível, ensaiam de forma orquestrada o enredo da tragédia tendo como pano de fundo os tons marrons da terra seca, dos galhos retorcidos e os olhos tristes e famintos de homens e animais. Os prefeitos decretam logo Estado de Emergência. Em seguida, os governadores convocam secretários, deputados e senadores. Todos enfileirados, em um só coro, marcham rumo a Brasília. O governo central, lança de forma emergencial um pacote de medidas paliativas de “combate à seca” que chega a ser algo risível diante da vasta produção científica a cerca de como se conviver com o semiárido.
 
A principal dificuldade que o País enfrenta está no próprio enunciado, no enfoque de combate à seca. Um fenômeno climático sistemático não é para ser combatido. Alguém imaginaria combater o gelo na Sibéria? Deve-se, sim, criar melhores condições de convivência com ele. Ao contrário do que se pensa e se divulga, existe água suficiente no Nordeste. Só que, pelo modelo econômico do latifúndio e do capitalismo tropical, a água também é pessimamente distribuída.
 
Concentração de renda, concentração de terras, concentração do controle das águas, eis os pressupostos da tragédia que se renova. É importante atentarmos que, além da falta de vontade política, torna-se necessário também a permanente mobilização da sociedade. Enquanto o povo nordestino aceitar, passivamente, a perpetuação de práticas assistencialistas e do clientelismo queassume novas formas mas mantém sua essência no trato da estiagem, o quadro dantesco se repetirá. Enquanto a solidariedade pontual e os bálsamos emergenciais continuarem a prevalecer, nada vai mudar de verdade.
 
Sergiano de Lima Araújo
 
sergiano_araujo@hotmail.com
Geógrafo, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
Fonte: O Povo
Link: http://www.opovo.com.br/jornaldehoje/opiniao/
Última atualização: 02/04/2013 às 09:51:36
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras

Comente esta notícia

Nome:
Nome é necessário.
E-mail:
E-mail é necessário.E-mail inválido.
Comentário:
Comentário é necessário.Máximo de 500 caracteres.
código captcha

Código necessário.
 

Comentários

Seja o primeiro a comentar.
Basta preencher o formulário acima.

Rua Nossa Senhora dos Remédios, 85
Benfica • Fortaleza/CE CEP • 60.020-120

www.igenio.com.br