O tema da próxima Reunião do Conselho de Representantes da AFBNB, que acontecerá em Fortaleza (CE), no dias 6 e 7 de agosto, será Desenvolvimento, Meio Ambiente e Recursos Públicos. E, para antecipar um pouco as discussões que devem acontecer na ocasião, o Nossa Voz entrevistou o coordenador do Projeto Agenda 21 Brasileira, Pedro Ivo de Souza Batista.
Pedro Ivo é ex-funcionário do Banco, ex-diretor da AFBNB e integra agora, em Brasília, o Ministério do Meio Ambiente.
Nesta entrevista, ele fala como a ação do BNB relaciona-se com a promoção de um desenvolvimento responsável na Região Nordeste; como os modelos de financiamentos podem ser repensados sob a ótica de uma sociedade sustentável e como cada funcionário do Banco pode e deve se envolver nestas ações.
Nossa Voz – O que você acha da AFBNB estar trazendo esta discussão sobre desenvolvimento e meio ambiente para a Reunião do Conselho de Representantes?
Pedro Ivo – Eu acho muito importante. É fundamental envolver uma instância como o Conselho da entidade para pensar uma forma da AFBNB, e não só o Banco, envolver-se numa cultura de Desenvolvimento Sustentável. Esta não é a primeira vez que a AFBNB proporciona este tipo de debate. Quando eu era diretor da entidade, nós promovemos um Encontro Internacional sobre Economia Sustentável, que trouxe importantes nomes para discutir o assunto com o funcionalismo do BNB.
Nossa Voz – E como o BNB interfere na promoção de um desenvolvimento sustentável da Região?
Pedro Ivo – O BNB é o principal financiador do desenvolvimento. Nós criticamos muito os moldes dos financiamentos das instituições multilaterais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), mas esquecemos de fazer o mea culpa. Como os bancos públicos estão aplicando nas regiões? Que tipo de projetos tem recebido recursos? Estes projetos são ambientalmente responsáveis?
Nossa Voz – Critica-se muito, por exemplo, o financiamento da carcinicultura (criação de camarão em cativeiro) no Ceará...
Pedro Ivo – Exatamente. A Carcinicultura tem todo um processo de industrialização que destrói a caatinga, os mangues, prejudica as populações litorâneas pois acaba com a pesca artesanal. Tudo isso compromete a sustentabilidade da Região e o BNB tem sua parcela de responsabilidade sobre isso.
Nossa Voz – Mas a quem cabe definir que projetos receberão ou não financiamento público?
Pedro Ivo – Primeiro, e não podemos deixar de reconhecer, isso tem a ver com a política de desenvolvimento do Governo Federal. Mas, de uns anos para cá, a lógica de deixar a questão ambiental em segundo plano vem mudando. O BNB, por exemplo, assinou o Protocolo Verde (acordo internacional assinado pelos bancos públicos Brasileiros) e desenvolveu a linha de financiamento chamada de FNE Verde, que é o crédito concedido apenas àqueles projetos que não comprometam a sustentabilidade da área na qual ele se insere.
Nossa Voz – Uma linha especial não reforça o problema? Não é admitir que outros recursos vão para projetos que podem prejudicar o futuro da Região?
Pedro Ivo – Claro que isso deveria ser a regra, não a exceção. Mas este projeto é uma forma de incentivar a mudança; mostrar que estamos preocupados em caminhar numa outra direção. Outras medidas precisam ser tomadas, como a revisão do Prodetur, o incentivo à agricultura ecológica... O BNB tem tudo para ser o Banco do Desenvolvimento Sustentável! Até porque o atual presidente tem conhecimento e sensibilidade para a causa.
Nossa Voz – E como os funcionários podem envolver-se nesta causa?
Pedro Ivo – Em primeiro lugar, cobrando posturas do Banco e das suas associações de classe. E podem também se engajar, como cidadãos, na defesa do Meio Ambiente e na luta por um Desenvolvimento Sustentável. |