A entrevista do Dr. Smith
Pela primeira vez, um intelectual de esquerda assume a direção do nosso Banco, fato gerador, como era de se esperar, de muitas expectativas. A entrevista por ele concedida ao jornal O Povo (Fortaleza/CE), edição do dia 5/1, responde grande parte das perguntas suscitadas pelo inusitado acontecimento.
Algumas dessas respostas parecem importantes, por nos permitirem avaliar as qualificações do entrevistado para a tarefa que lhe foi confiada: de resgatar o papel de banco múltiplo de desenvolvimento do BNB, perdido na administração passada.
Em síntese, pode-se dizer que a visão administrativa do Dr. Smith fundamenta-se no princípio da necessidade imperiosa de centrar-se no real para operar um sistema, como tal considerado qualquer tipo de organização natural ou cultural.
Implícito nesta visão – ou na dialética, esposada pelo entrevistado – está o fato de que o real não é uma coisa ou fenômeno manipuláveis pela vontade ou boa intenção das pessoas. É um campo interativo de forças endógenas e exógenas cujo equilíbrio dinâmico é constantemente questionado pelas mudanças – ambientais, em relação ao indivíduo; históricas no tocante à organização social.
Daí podermos dizer, com ele, que seria ingenuidade tentar operar com o real ignorando a atual situação estrutural do sistema capitalista mundial, expressa fundamentalmente pelos conflitos de interesse entre os possuidores – poupadores, donos de ativos, etc – e os despossuídos – endividados, excluídos sociais, etc – do capital financeiro.
Sua entrevista é rica de exemplos comprobatórios não só dessa tese, como dos gritantes desmandos da administração passada. Vejamos alguns que nos parecem mais significativos: “É difícil ignorar o FMI”. “Podíamos ter assumido e dito: Não pagamos a dívida externa. Mas deixaríamos de ser governo no dia seguinte”. “Estamos criando uma formulação de poder que não pode ser estreita. Ela significa chamar para a consciência política de uma visão de nação, e não de esquerda”.
“O governo do Banco do Nordeste que me antecedeu foi um governo de faz-de-conta. Ele fez o Farol de Desenvolvimento, que o pessoal diz que é só farol. A pessoa chegava num município e fazia reunião com associação, sindicatos e escrevia na ata: ‘contratei 500 pessoas’. Aí se tem números estratosféricos”. “No governo anterior, do sr. Byron Queiroz, ele tinha amizade com o presidente do Banco Central e o pessoal chegava aqui e era mal recebido. Não se dava informação. A mesma coisa com o Tribunal de Contas. E isso eu falo porque é real”.
“Ao meu ver, a gestão anterior foi infeliz no tratamento da questão das relações humanas”. “Lembro-me que assim que assumi marquei uma reunião com todos os superintendentes e diretores e começamos um processo muito forte de apaziguamento, de dizer que somos profissionais e isso é uma instituição e o que é importante é a instituição”.
“Encontramos um banco que tinha deixado de ser banco. A nossa tarefa era fazer o Banco do Nordeste voltar a ser banco. Ele está capacitado para um volume de operações e tipos de operações de maior envergadura”.
Lida toda a entrevista, resta-nos perguntar: será ele o homem certo, no lugar certo? Que o futuro responda afirmativamente é o que, certamente, desejam os funcionários do banco e todos os nordestinos!
Leia aqui a íntegra da entrevista do Presidente do BNB |