Nossa Voz - Por que a questão regional não está na pauta do dia?
Saumíneo - É a visão de quem hoje comanda alguns ministérios importantes que poderiam estar tocando isso. Fala-se hoje num país policêntrico onde a divisão regional é bem diferenciada. A visão regional precisa ser retomada como pauta importante de discussão, inclusive da atuação dos bancos regionais como é o caso do BNB.
NV - Foram apresentados números que mostram que o FNE é importante para a região, mas que não atende sozinho às suas necessidades. O que falta para a região deslanchar? O FNE está cumprindo a contento o papel para o qual ele foi criado?
SN - O FNE é um instrumento importante. Ele pode ser um alavancador de outros recursos para a região. Precisa-se estudar melhor a sua distribuição setorial, sua categoria de atendimento por porte de produtores, a distribuição por estados, com avaliação constante. O Nordeste ainda não recebe recursos dentro da sua necessidade, “vis a vis” a sua população. Esse é um desafio que não só cabe ao governo central, como também aos governos estaduais, juntamente com as demais instituições que atuam na região.
NV - Que papel deve desempenhar um Banco regional?
SN - O Banco regional tem que ser o catalisador dessas ações. Ele tem que ser o fio condutor que une diversas ações que vão estruturar melhor os seus entes federados. Cada vez mais a gente vê os países se unindo em blocos. Temos os BRICs, que não são países contíguos, mas estão se unindo em blocos para enfrentar os grandes, temos a União Européia que cada vez mais busca fortalecimento; na África os países estão se unindo em blocos. Então, no Brasil, a necessidade de rediscutir o planejamento regional é importantíssima e o BNB enquanto banco da região Nordeste pode ser aquele agente que poderá induzir e coordenar essas ações. Quando da recriação da Sudene foi instituído o Comitê das Instituições Financeiras pra que elas juntas pensassem como apoiar financeiramente as demandas da região. Infelizmente o Comitê não está funcionando. O seu funcionamento seria uma grande contribuição para uma melhor absorção de recursos para a nossa região.
NV - O BNB tem perdido assento em importantes espaços, a exemplo do conselho do DNOCS e por pouco não perde assento no Conselho Deliberativo da Sudene. Ao mesmo tempo perdeu a exclusividade da operacionalização do FDNE. O Banco tem perdido espaço político?
SN - Sim e na minha visão o BNB poderia estar melhor posicionado. Vou dar um exemplo do BB: o Banco do Brasil posiciona alguns funcionários em pontos estratégicos dos ministérios, dos órgãos regionais, dos estados; a CEF vem fazendo isso também. Então, nós teríamos que ter uma política específica na área de administração de pessoas para termos em pontos estratégicos, colegas que fizessem a ligação do Banco com esses organismos, com esses ministérios. A condução do Conselho de Administração do Banco não é feita nem por um secretário; é um subsecretário. Nos outros bancos o Conselho de Administração é presidido por Ministros. Isso mostra o quanto falta maior relevância para nossa instituição. Na minha visão, quem tinha que conduzir as reuniões era um Ministro, porque nós teríamos um diálogo direto e franco ressaltando a importância da presença do Banco não só nos organismos regionais, mas também em alguns organismos federais para que tivéssemos um maior protagonismo.
NV - Qual a importância em uma entidade de trabalhadores fazer essa discussão?
SN - Eu julgo importante. Sou associado desde a criação da AFBNB. Julgo que ela é uma entidade indispensável na luta pelo fortalecimento da instituição porque no momento em que a AFBNB está fortalecendo o Banco está fortalecendo também quem trabalha no Banco. O Banco deveria abrir um diálogo mais permanente, principalmente nas questões estruturantes, não só na parte de pessoas, mas nas questões estruturantes como um contribuinte importante.