“A maior instituição da América Latina voltada para o desenvolvimento regional, operando como órgão executor de políticas públicas”; “instituição responsável pelo maior programa de microcrédito da América do Sul e o segundo da América Latina”.
Lendo as frases acima e revisitando a história de 62 anos do BNB, é possível ver o quanto a instituição contribuiu para a região e consequentemente para o país, de forma diferenciada das demais instituições financeiras. Esse diferencial, no entanto, tem se enfraquecido nos últimos anos.
A AFBNB tem apontado esse distanciamento – internamente e externamente – cobrado o debate
e produzindo documentos, inclusive tendo entregue aos presidenciáveis, na última eleição, e para
a presidenta Dilma Rousseff a Carta Compromisso pelo Desenvolvimento Regional, na qual apresentou o que considerava prioridade para a questão regional.
Mas, do lado de lá, na alta gestão do BNB, é como se o problema não existisse. Os trabalhadores,
no entanto, compartilham conosco dessa inquietação. Em outubro passado, por exemplo, a funcionária Elizabeth Holanda da Costa elaborou uma carta aberta do presidente do Banco, na qual expõe a visão de quem se dedica diariamente para cumprir a missão do BNB. O texto, divulgado no site da AFBNB, recebeu inúmeros comentários de apoio, mostrando que a preocupação é geral.
Em um dos trechos, escreve: “Está na nossa veia, no nosso sangue, ‘desenvolver o nordeste’. Entretanto estamos anêmicos. O Banco está anêmico de direcionamento. Anêmicos pelo esvaziamento do sentido dado a palavra desenvolvimento. O desenvolvimento que hoje está na nossa missão não passa de uma rima pobre, que paulatinamente está caindo em desuso. É
cafona falar de desenvolvimento.
A palavra do dia é eficiência operacional, custos x receitas. Está correto, somos um banco. Mas... Qual será a nossa diferença dos demais bancos? O que nos legitimará perante a sociedade
de que somos importantes e não apenas mais um ‘trambolho’ público que consome impostos?”
Para José Frota de Medeiros, consultor do ETENE e diretor da AFBNB, alguns fatores mostram esse distanciamento da missão constitucional: o abandono sintomático de programas e projetos de desenvolvimento, como os agentes de desenvolvimento; o enfraquecimento do ETENE e a quase paralisação de financiamento de pequenos são exemplos. “Até a estrutura de treinamento
de recursos humanos está voltada para a lógica de mercado”, lamenta Medeiros, lembrando que
anos atrás os cursos de integração duravam semanas, com dias inteiros dedicados ao debate sobre desenvolvimento e hoje está resumido a poucos dias, com quase nenhum debate sobre o assunto.
“Tudo é reflexo da orientação estratégica do governo federal”, acredita. Retomando a carta da funcionária, “o que garante anoitecermos com o “coqueiro” da nossa marca e não amanhecermos com a “árvore” do Bradesco? O que legitima a nossa permanência? Para além disto, o que legitima a nossa existência? Ainda não saímos da crise que te trouxe aqui. A nossa crise é
de legitimidade”.
A CARTA CITADA NESTE TEXTO ESTÁ DISPONÍVEL NA ÍNTEGRA NO SITE DA AFBNB
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