* Gilberto Mendes Feitosa é diretor da AFBNB
O estudo da filosofia que hoje é tida como discussão filosófica, no Brasil–Colônia, partia dos jesuítas como modelos escolásticos com o fim de simplesmente catequizar e manter a ordem
social. Como figuras de destaque estão os padres Anchieta e Manoel da Nóbrega. Os objetivos eram a educação e formação de um povo, com idéias de civilização portuguesa, tornando essa filosofia trazida no bojo dos Galeões para a Colônia, compreendida na teologia como um mero zelo de evangelizar e estabelecer limites estreitos e controláveis dos pensamentos dos jovens,
uma vez que deveriam prepará-los através do apego ao dogma e à autoridade.
Como modelo “filosófico” imperante no Brasil–colônia, como os jesuítas ou outra ordem religiosa,
preservava e incentivava a fé cristã. Com a expulsão dos jesuítas da Companhia de Jesus (1773) pelas queixas de rivalidade de má-fé que existia contra eles, o Iluminismo português deu oportunidade à criação da Academia de Ciências de Lisboa que teve como sócio o enciclopedista
D’Alembert, incentivador da liberação intelectual e política.
Padre Pedro Antonio Vieira - considerado um dos mais brilhantes intelectuais lusófonos de todos os tempos, homem de gênio humanismo, urbano e cortês que se colocava acima dos poderes constituídos em prol de uma organização social mais justa e humana, numa época em que contradições, misérias e privilégios eram compreendidos tão-somente de forma ontológica - denunciou com intensidade no século XVI a escravidão, que perdurou por mais de 200 anos e era justificada até mesmo em nome de Deus e da fé... A dor do escravo e o discurso do entendimento
capaz de acusar o caráter iníquo de uma sociedade onde “homens criados pelo mesmo Deus
Pai e remidos pelo mesmo Deus Filho se repartem em senhores e servos”.
Traduzindo a injustiça, como se:”estes homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva? Estas almas não foram resgatadas com o sangue do mesmo Cristo? Estes corpos não nascem e morrem, como os nossos? Não respiram o mesmo ar? Não os cobre o mesmo céu? Não os aquenta o mesmo sol? Que estrela é logo aquela que os domina, tão triste, tão inimiga, tão cruel?...”. Fica para posteridade o grito de revolta que ainda hoje ecoa nos corações dos grandes espíritos iluminados como o do padre Vieira.
Como o Brasil nasceu sob o domínio cultural da tradição filosófica, influenciada pelo catolicismo, vindo dos missionários jesuítas e perdurando até os inícios da República, seus fundamentos filosóficos não se desenvolveram por se encontrar sufocados pelo poder absoluto da visão teológico-cristã.
Foi através das teorias aristotélicas do ser que a metafísica tomista se constituiu, cristalizada
por Santo Tomás, tornando-as compatíveis com os princípios teológicos do cristianismo – confirmando a existência de um Deus criador e a imortalidade da alma humana, com critério de realidade e de conhecimento, que passa a fundar então a metafísica.
Platão definiu da seguinte forma: os homens, como todos os demais seres é uma essência humana. A diferença entre eles são acidentais, não atingem sua substância e por isso, os homens têm uma natureza humana que o diferencia de outras espécies e delimita os rumos de seu agir que condiz como essa atureza e contribui para sua realização completa e perfeita.
Atualmente, a filosofia neotomista brasileira possui de um lado, um número, muito grande de intelectuais vindos do catolicismo eclesiástico ou não, que tiveram sua formação teórica básica na metafísica neotomista – da fenomenologia da dialética, dos humanismos contemporâneos e até mesmo do neopositivismo.
As expressões do neotomismo no Brasil tiveram início em 1908 pelos Beneditinos, em São
Paulo, com a fundação da Faculdade de Filosofia de São Bento, sob a influência direta da Universidade Católica de Lovaína, tendo como professores vários pensadores, como: Mons. Charles Sentroul Van Acker, Alexandre Correa e outros. Trouxe para o catolicismo muitas obras culturais com inspirações no campo do pensamento. Criada em seguida a Faculdade Católica
do Rio de Janeiro (1941).
Fernando de Arruda Campos, por exemplo, foi um ferrenho neotomista. Seu temperamento era
voltado à reflexão e a meditação. Seu pensamento ético dizia: “O ser humano projeta-se, assim, em direção a seu ideal, na posse do qual encontra a plenitude de seu ser e de seu agir; ordenando sua conduta de acordo com as regras que lhe dita a reta razão, lança-se em direção a seu Bem Supremo, em cujo conhecimento e amor encontrarão o perfeito conhecimento e amor de seu próprio ser”. Para ele a Metafísica tem por objeto o conhecimento do ser enquanto tal. O ser inexperimentável, que ultrapassa o plano empírico, o ser indeterminado ou geral, que domina todo ente e o Ser subsistente, infinito e divino, criador de todo ente finito.
E continua afirmando que, para o homem, que é espírito, o caminho da Salvação é o caminho do Ser. Não somos um ser-para-a-morte, mas um ser- para-a-vida. A reflexão nos leva a crer que o caminho do Ser permite ao homem superar o medo e a angustia que lhe corrói a existência, eis que a Plenitude ela força do seu poder, traz a realização plena do homem, enquanto pessoa humana.
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