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03/09/2012

Plural - Reflexões sobre as relações existentes de racionalidade moderna e crise ambiental

O BNB E A CRÔNICA DO HIPOCONDRÍACO

Em meio ao frenesi da modernidade, aos trilhões de dólares do PIB, ao julgamento do mensalão e ao pífio resultado da comitiva Nacional nos jogos olímpicos, a frustração se consagra como algo comum a todos esses fatos.

 
Frustração esta que, por si, permeia as interrelações humanas rotineiramente e, associada a outras circunstâncias, nos faz viver a era das ditas doenças psicossomáticas: o câncer, a síndrome do pânico, o transtorno obsessivo compulsivo, a bipolaridade e a depressão são exemplos de uma série de distúrbios quase irremediáveis que desafiam a medicina alopática dia após dia. O que todos esses males tem em comum remonta às suas causas, normalmente caracterizadas como um misto entre a predisposição genética, breves fatores externos e um lapso de desequilíbrio emocional, quiçá, espiritual. De modo geral, dizem alguns estudiosos que tudo se origina na inabilidade humana de lidar com seu subconsciente, de não permitir que ele, no tempo, da forma adequada e em interação com o corpo físico, expurgue os medos, dramas e células emotivas enfermiças que corroem silenciosamente o ser.
 
Deixando um pouco de lado esse papo de terapeuta, tenho construído uma tese a partir dos meus estudos etílicos de MBA (Mesa de BAr) sobre a capacidade humana de reproduzir nas suas instituições administrativas os reflexos das crises que acometem suas entranhas biológicas e psicológicas.
 
Por exemplo, o BNB vive as intempéries de uma crise e, sem surpresa, vejo que a celeuma estabelecida permite traçarmos paralelos metafóricos que insistem em confirmar minha tese. Senão, vejamos: Tudo se originou quando algumas células funcionais originalmente programadas para proteger a instituição, encontrando estranhamente um ambiente favorável, voltaram-se contra ela e, para ganhar força, começaram a estabelecer parcerias e alocar-se em órgãos e funções estratégicas e vitais, debilitando o corpo hospedeiro aos poucos. Os sintomas não demoraram a se manifestar: dores generalizadas, fadiga muscular, inadimplência e provisões logo apareceram, mas o velho hábito de não se cuidar adequadamente e até de se medicar sem prescrição disfarçavam um bem estar aparente.
 
Considerando-se saudável e em plena forma, a instituição artilheira partiu em disparada rumo à meta vazia, mas infeliz e inevitavelmente, a manifestação da doença se apresentou exatamente sob os holofotes e refletores de um estádio lotado em dia de clássico. Afoita e prestes a marcar um golaço, nem percebeu quando, sucumbindo à dor, diante das câmeras e para frustração geral da torcida, tropeçou nas próprias pernas e desfaleceu subitamente.
 
O socorro veio rápido e o diagnóstico foi preciso. Já há algum tempo, a instituição foi alertada de que precisava se tratar da anemia que a corroía insistentemente, mas a negligência em subestimar os claros sinais de debilidade foi crucial para o agravamento do quadro: o centro cognitivo onde se tomavam as principais decisões estava comprometido e precisava passar por um transplante urgente. Os fluidos constitucionais essenciais para sistema circulatório também estavam ameaçados e a musculatura do seu capital social já não era suficiente para sustentar suas necessidades energéticas. Além disso, agora sua imagem estava arranhada perante fãs e stakeholders e suas fragilidades estavam estampadas nos noticiários nacionais, um deleite para os paparazzi de plantão.
 
Um tratamento de choque era necessário e ele veio, apesar da resistência dos familiares. As partes inaptas do centro cognitivo foram substituídas após delicado processo cirúrgico, mas dizem que o procedimento foi um sucesso e que os reflexos do paciente estão sob observação. O problema da musculatura também era complicado, mas após longa peregrinação ao sistema único de saúde financeira no pronto-socorro legislativo, alguns amigos conseguiram a liberação de uma dose generosa de aporte da ordem de 4 bilhões de reais, além da garantia perene de doses homeopáticas nos anos seguintes.
 
Já para os arranhões, infelizmente, os laboratórios de dermatologia e estética corporativa ainda não dispõem de produto cientificamente testado para tratar a ferida. Destarte, vale a fórmula antiga: água, sabão, tempo e trabalho, que por sinal, há muito dentro de casa.
 
Lúcida e retomando suas atividades de rotina, a instituição artilheira foi submetida a um rigoroso acompanhamento pela equipe médica de regulação da CGU, TCU e Governo Federal, recebendo uma série de recomendações: aprimorar seus processos para não mais cometer erros e adotar uma dieta controlada: nada de carne vermelha, carboidratos, laudos sem registro fotográfico e despesas administrativas supérfluas. É preciso reaver também a forma física, já que a patologia fez com que sua cabeça ficasse mais pesada que o seu corpo. Logo, os exercícios aeróbicos propostos são desafiadores, tanto que até o final do ano ela terá que abrir 25 novas agências, além da meta maior de dobrar os seus postos de atendimento até 2014, fato onírico até para as triatletas organizações financeiras multinacionais. 
 
Claramente, o plano é de expansão e ainda bem que, diferente dos seres humanos, as instituições financeiras não perdem sua capacidade de crescimento estrutural por volta dos 20 anos.
 
Se for verdade que toda crise gera uma oportunidade, então estamos diante de uma ocasião excelente para o Banco do Nordeste, do alto dos seus 60 anos, demonstrar seu poder de resiliência e continuar crescendo, atentando para não mais permitir que essa evolução
se dissocie da sustentabilidade que a conduta ética e as boas práticas de governança trazem para o cumprimento da sua missão de agente catalisador do desenvolvimento regional, pois, como dizem os colegas do ICIC (Instituto de Compliance e Integridade Corporativa), em tempos de valoração do capital intangível, o sucesso da organização está intimamente ligado à admiração e à confiança pública, fato que se reflete no valor de sua marca, na sua reputação, na
capacidade de atrair e fidelizar clientes, investidores, parceiros e empregados.
 
E para afastar qualquer devaneio pessimista de algum hipocondríaco oportunista, finalizo por aqui esta tese infundada, deixando apenas mais uma citação para evitar que meu orientador do “MBA” reclame que eu não tenho consideração para com minhas referências bibliográficas: “O êxito não se logra só com qualidades especiais. É, sobretudo, um trabalho de constância, método e organização.” J.P. Sergent
 
 
Rheberny O. Santos
Última atualização: 03/09/2012 às 16:13:38
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