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15/02/2012

Nossa Voz - Estamos à Deriva?

Conversa com Alcides Fernando Gussi

 

O Nossa Voz conversou com o professor Alcides Fernando Gussi, Antropólogo, doutor em Educação e coordenador do Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará. Confira!
 
 
AFBNB - Os Bancos estão cada vez mais avançados em termos de tecnologia, mas ainda continuam atrasados nas relações de trabalho com seus recursos humanos. Como explicar esse comportamento dos patrões/direções?
Alcides Gussi - O propósito da utilização das tecnologias de qualquer empresa não é, em última instância, o de proporcionar mudanças nas condições de trabalho, mas sim, o de maximizar os lucros. É certo que os usos de tecnologias avançadas nos bancos resultaram na perda do emprego de milhares de trabalhadores bancários e, com isso, a desmobilização da categoria. Os processos de mudanças tecnológicos nos bancos, durante as últimas três décadas, foram traumáticos para grande parte dos trabalhadores e, creio, do ponto de vista da identidade do bancário, houve uma ruptura dos laços que uniam os próprios bancários - o seu sentido de pertencimento a uma categoria sócio-profissional bastante importante - para a qual, de uma maneira geral, as políticas de Recursos Humanos, na maioria das vezes, ainda não atentaram no sentido de compreender este processo. Além disso, é necessário atentar diferenças significativas entre o setor bancário privado e o estatal nas relações de trabalho. 
 
AFBNB - A não valorização do ser humano, que se confunde com a busca sem critérios do lucro, é a marca do sistema capitalista. Essa realidade tem sido observada nos bancos privados e estatais.  É possível uma instituição como o BNB fugir a esse modelo? 
AG - Vivemos sob a égide do capitalismo financeiro. Mas é necessário demarcarmos algumas diferenças entre os bancos privados e os estatais. A própria história do BNB - como um banco público - já o constitui com algumas especificidades, que fogem ao modelo mencionado. O próprio fato de ser um banco de desenvolvimento, que o diferencia, potencialmente, dos bancos privados. 
 
AFBNB - Alguns gestores ainda temem a transparência nas administrações. Por que essa cultura ainda prevalece no Brasil? 
AG - A cultura da falta de transparência e o seu temor reflete um desconhecimento, de fato, dos seus benefícios. Transparência não quer dizer apontar as mazelas desta ou daquela administração, mas sim o monitoramento e a avaliação qualificada das ações, sobretudo da esfera pública, com o  acompanhamento direto da sociedade. Creio que, quando a sociedade entender - e não apenas os gestores - que a transperência é uma forma de fortalecer a esfera pública, ela será rotina nas administrações.
 
AFBNB - A política de Recursos Humanos de uma empresa/instituição pode estar desvinculada dos seus negócios, da sua missão?
AG - A missão de uma empresa deve representar não apenas a sua atividade fim - o seu negócio - mas espelhar a sua cultura organizacional, construída, historicamente, nas relações entre os funcionários. A política de Recursos Humanos deve centrar suas ações fortalecendo a cultura e os valores da instituição.
 
AFBNB - Que características um órgão publico (a exemplo do BNB), que tem sua ação voltada para o Desenvolvimento deve ter como diferencial no que se refere à sua política de pessoal? 
AG - Creio que o BNB pode ter uma política de pessoal que afirme o seu propósito de ser um banco de desenvolvimento. Tenho conhecido pessoalmente alguns funcionários do BNB que têm uma larga trajetória profissional associada à valorização do desenvolvimento do país, e, sobretudo, do Nordeste, como uma missão de vida! Isso - que constituiu um patrimônio humano do BNB - deve ser preservado pela sua política de pessoal pois é, de fato, aquilo que o diferencia dos bancos privados.
 
AFBNB - Como o senhor observa hoje o comportamento do movimento sindical frente a essa realidade? Que estratégias devem ser adotadas pelas entidades na perspectiva de verem respeitados os direitos dos trabalhadores?
AG - Os sindicatos perderam muito sua força política com as mudanças recentes no mundo do trabalho, sobretudo, do trabalho bancário. A perda da identidade sócio-profissional dos bancários nos últimos tempos afetou as tradicionais estratégias sindicais de mobilização política. Talvez estejamos vivenciando uma re-construção dessa identidade bancária, com a constituição de novos valores profissionais e com a perspectiva de afirmação de novos direitos trabalhistas a serem alcançados. Não tenho muita ideia de quais seriam as novas estratégias a serem construídas pelos sindicatos neste contexto, mas creio que um bom começo seja os sindicatos conhecerem, de perto, este novo perfil do trabalhador bancário e suas demandas, que podem estar se re-desenhando neste cenário recente, para descobrirem, em conjunto, bancários e os dirigentes sindicais, novos rumos para o movimento.
 
 
 
Última atualização: 15/02/2012 às 18:08:03
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