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01/07/2009

Plural - Edição junho/2009

Ditamole? Por Dorisval de Lima

É de causar preocupação e ao mesmo tempo, indignação, o conteúdo de matérias que têm sido veiculadas ultimamente sobre período de exceção no Brasil. O sentimento que expresso sobre essa escalada não é apenas pela sua essência – apologia ao regime militar e abrandamento dos seus efeitos – mas também pelo fato de partir de setores da imprensa, segmento social que lutou pelo fim da ditadura e pelo estabelecimento do estado democrático de direito no país.

Essa luta teve como um dos principais expoentes a ABI – Associação Brasileira de Imprensa – tendo como conseqüência a perseguição a vários profissionais, inclusive a morte na cadeia do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado como era carinhosamente chamado pelos colegas de profissão.

Talvez eu esteja exagerando um pouco no meu sentimento, haja vista o viés ideológico contido nas matérias, pois as mesmas não conseguem esconder o sentimento de ódio a personagens que participaram da resistência, qualificando-os da mesma forma como os milicos e seus apoiadores o faziam para justificarem seus atos e as atrocidades praticadas.

Alguns autores chegam a afirmar que foram críticos do regime e que não se lembram de terem sido perseguidos, como é costume dizer-se que era um hábito da época contra os que incomodavam... Certamente não foram perseguidos porque de fato não incomodaram, como se pode perceber, pois os que incomodaram foram perseguidos, sim! Aliás, até quem não tinha muito a ver foi perseguido também, como ocorreu covardemente com parentes de ativistas opositores da (des)ordem.

De fato, se tivessem sido perseguidos, não teriam esquecido. Talvez tivessem sofrido alguma conseqüência perversa como aconteceu com muitos: estariam desaparecidos, estariam mortos (pelos próprios “democratas” do regime ou por suicídio), sofreriam sequelas pelos efeitos das torturas; sequer teriam a oportunidade de estarem falando tamanhas asneiras. Mas, graças à luta dos odiados, estão falando – coisa que não poderiam fazer se estivessem referindo-se ao seu abrandado regime na época, da mesma maneira como se refere à democracia.

Justificar insatisfações com os tempos de democracia, principalmente com o atual governo, utilizando-se para tanto de argumentações que os nivela aos “governos” do regime ou da ditadura militar, como queiramos classificar – o que importa é saber que foi um período de exceção – é o mesmo que negar a história pelo fato não ter sentido na pele ou não ter ente querido que passou pelos “carinhos” do pau de arara, por prisão em cubículo com o piso e paredes eletrificados, ter sido amarrado em vaso sanitário cheio de ratos famintos, ter sofrido queimaduras de ponta de cigarro nos órgãos genitais ou mesmo mutilados, e/ou outros tratos bem peculiares aos que foram perseguidos...

Infelizmente ao comemorarmos trinta anos da anistia, e às vésperas de festejarmos as bodas de prata do sepultamento do regime de exceção, ainda deparamos com espectros rondando a democracia, os quais, na contramão da evolução democrática e do respeito à diversidade e à vida, ainda fazem apologia ao regime da perseguição, da tortura, do desrespeito aos Direitos Humanos, da morte e da hipocrisia. Contra essa escalada é preciso que as forças democráticas discutam com a sociedade a gravidade dessa tendência, para que esses fantasmas sejam exorcizados de vez e seus “esqueletos” sejam cremados e enterrados, para o bem da democracia e das relações saudáveis na nossa sociedade.

Viva a Democracia! Ditadura e tortura nunca mais!
Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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