Estou na serra da canastra
Estou vindo lá do sertão,
Vendo a nascente do meu grande rio,
São Francisco, que é minha paixão.
Aqui não é mais só beleza,
Há tristezas e também dissabores,
Sinal perverso contra a mãe natureza
Mãos malvadas matam as flores.
Suas águas espumantes, cristalinas,
Descem altaneiras colinas,
Andorinhas e colibris bailam em festa
E fazem de mim seu poeta.
Descendo as margens do São Francisco,
Ipueiras, poções e matas choram.
Desmatamentos, assoreamentos
Homens ignoram.
Não matem o meu São Francisco,
Pois ele faz parte de mim.
Suas entranhas são fonte de vida,
De lambaris, curimatãs, surubins.
Ao arrebol, nos cafundós, canta a cauã.
Canoeiros não pescam mais matrinchãs,
Só pescam saudades,
Lendas, caboclos d'agua,
Da Iara Mãe Iansã.
Rio São Francisco;
O que será de ti amanhã.
* Benedito Nunes é Agente de Desenvolvimento, lotado em Januária-MG |